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A PRIMEIRA INFÂNCIA
Concepções de Infâncias
Considera-se que é a partir da Sociologia da Infância que se consolida a
ideia de que a criança é um ator social com direitos, impulsionando des-
sa forma o seu reconhecimento como cidadão ativo com lugar nas esferas
social, política e científica. Esse percurso abre renovadas possibilidades de
considerar as crianças, bem como as relações e as práticas sociais desenvol-
vidas com elas, no sentido de contestar o entendimento das crianças como
objetos passivos das políticas e das práticas adultas, cuja cidadania é vista
como um potencial e um estatuto a ser alcançado no futuro (CUNHA, 2016).
As crianças são vistas como cidadãos com direitos, membros de um gru-
po social, agentes de suas próprias vidas (embora não agentes livres) e
como co-construtores do conhecimento, identidade e cultura. “A criança
como forte, competente, inteligente, um pedagogo poderoso, capaz de
produzir teorias interessantes e desafiadoras, compreensões, perguntas
– e desde o nascimento, não em uma idade avançada quando ficaram
prontos” (MOSS, 2005, p. 242). Nesse sentindo, concebe-se neste docu-
mento, a criança como:
•
Sujeito histórico, social e cultural – cuja singularidade vai se construin-
do nas condições de vida concreta que lhes são possibilitadas – em sua
história
de vida social e pessoal;
•
Pessoa que aprende e se desenvolve mediante condições de interação
e mediação social e simbólica – mediante participação do(s) outro(s) e
da(s) linguagem(s);
•
Ser concreto e contemporâneo (do tempo presente): já é uma pessoa,
cuja identidade/subjetividade está em processo de constituição inicial;
•
Sujeito de direitos, dentre eles, à educação (que envolve cuidado) como
condição para que possa desenvolver suas potencialidades humanas.
Uma criança com uma voz para ser ouvida, mas compreendendo que ouvir
é um processo interpretativo e que as crianças podem se fazer ouvir de
muitas formas (conhecidamente expresso em
As Cem Linguagens da In-
fância, de Malaguzzi). (MOSS, 2005). Nesse sentido, a partir do interesse da
criança, a consideração da sua participação implica que a sua voz seja in-
tegrada nos processos de tomada de decisão nos assuntos que lhe dizem
respeito, de forma a ultrapassar a ideia apresentada por Qvortrup (1999,
p.9) de que “(…) os adultos afirmam que as crianças devem ser ouvidas,
mas na maioria das vezes são tomadas decisões, que vão ter consequên-
cias
nas suas vidas, sem que as mesmas sejam levadas em conta”.
Considera-se aqui, que as crianças são as melhores informantes sobre as
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A PRIMEIRA INFÂNCIA
Especificidades da Criança
questões que lhe dizem respeito. E, portanto, são legitimadas como ato-
res sociais, em condições de explicitarem sua compreensão sobre algo,
pelo descortinamento de seus modos de ser e estar no mundo, não só
pela fala, mas por múltiplas outras formas de comunicação
que pos-
suem. (CUNHA, 2016). Nessa compreensão, as crianças de cada contexto
do estado do Rio Grande do Norte, são pessoas singulares que se consti-
tuem nas relações, interações e práticas culturais, com seus modos pró-
prios de aprender, investigar e se desenvolver. Para tanto, precisam ser
observadas, ouvidas e consideradas no planejamento e desenvolvimen-
to de currículos e práticas pedagógicas em instituições educativas.
Desse modo, como produção de sua história de vida, cada criança tem
suas singularidades, características que as constituem como pessoa e
lhe conferem uma contemporaneidade enquanto sujeito histórico e so-
cial. No entanto, é possível falar de especificidades que diferenciam as
crianças pequenas em relação aos seres humanos de outros ciclos de
vida, no que se refere aos modos de se relacionar com o mundo, de com-
preendê-lo e de agir nele/sobre ele, de viver, sentir, olhar, falar, aprender,
simbolizar, movimentar-se e produzir culturas infantis vinculadas, princi-
palmente, à ludicidade.
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