Portanto, o que aparenta ser, pode estar omitindo algo que esteja codificado nestes
espaços de vivência. Como está distribuído? Quem o definiu assim? Porque está posicionado
dessa forma e não de outra? O que guarda a sua história?
A investigação desse artigo se dirige à maneira como este importante espaço de
memória lida com a presença luso-brasileira. Grupo que participou ativamente no
desenvolvimento da cidade e de um período importante de sua história, o que nos remete aos
engenhos de erva-mate localizados dentro dos espaços do MNIC. Comercializada,
industrializada, e transportada pelos mais variados grupos de pessoas e origens que se viram
envolvidas nesses empreendimentos, mas principalmente por uma elite lusa, enriquecida e
politicamente articulada. Entretanto, omitidos ou jogados ao esquecimento dentro das
memórias condicionadas da cidade, ou espaços de vivências comuns e públicos. Esses
personagens foram induzidos a coadjuvantes da história
9
, figuram, como fantasmas, entre o
esquecimento e o silêncio dentro dos espaços expositivos do Museu.
A condição como a exposição está estruturada nos instiga a pensar quais os
referenciais que o visitante, atento ou não, poderia ter ao entrar no Museu, sobre essa
população lusa, ou negra, ou mesmo indígena, que viveram, e ainda vivem nesta região, se no
momento em que o turista chega à cidade, logo é intensamente bombardeado de informações,
de que aqui morou um Príncipe; sobre seu Palácio; como a cidade foi fundada e construída
por imigrantes alemães; aqui não existiram escravos e nem índios, ou eram raras suas
8
FOUCAULT. Op. Cit., p.322.
9
Álbum do Centenário de Joinville: 1951.
62
O Museu Nacional de Imigração e Colonização de Joinville: etnização e exclusão - o caso da erva-mate - Elaine
Cristina Machado e André Rosa da Costa Corrêa
Revista Santa Catarina em História - Florianópolis - UFSC – Brasil ISSN 1984-3968, v.8, n.1, 2014.
aparições. Legando assim uns ao esquecimento e outros a subjugação histórica.
Analisando, assim, o MNIC, a distribuição dos espaços e considerando a atuação e a
representação desta elite dominante, podemos perceber sua visão de mundo. Organizando a
exposição do Museu de forma que os objetos, representativos da classe dominante e seus
trabalhos nobres, correspondessem em primeiro plano, no casarão, na frente, aproximando
essa cartografia as guias da sociedade. Seguidos pelos trabalhadores, com importância
secundária e seus ofícios braçais, aparentando uma ausência de nobreza no seu labor
cotidiano. Incluindo os galpões de tecnologia e de transportes neste segundo plano. E a
moradia, “simples” do colono. Almejado lar por todos os imigrantes e trabalhadores.
Realizado e agradecido, mas cada qual em seu lugar, definido por sua classe e conduzido,
condicionado e naturalizado dentro do principal espaço de memória da cidade: o MNIC. A
partir dessa síntese tentaremos entender o que representam os engenhos de erva-mate na
construção espacial do Museu e porque foram legados ao esquecimento.
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