2. A Fuga dos Gêmeos
(712.1)
63:2.1
Após decidirem fugir em direção ao norte, Andon e Fonta sucumbiram ao próprio
medo durante um certo tempo, especialmente ao medo de desagradar ao pai e à família mais
imediata. Eles imaginaram ser atacados por parentes hostis e, assim, reconheceram a
possibilidade de encontrar a morte nas mãos dos seus já ciumentos companheiros de tribo.
Quando jovens, os gêmeos tinham passado a maior parte do seu tempo em companhia um do
outro e, por essa razão, nunca haviam sido muito populares entre os seus primos animais da
tribo de primatas. E ainda pioraram a sua posição na tribo ao construírem uma morada
isolada, e muito superior, em uma árvore.
(712.2)
63:2.2
E foi nesse novo lar, no meio do alto das árvores, em uma noite em que foram
despertados por uma violenta tempestade, ao se abraçarem ternamente por causa do medo, que
decidiram final e completamente fugir do habitat tribal e daquele lar no topo das árvores.
(712.3)
63:2.3
Eles haviam preparado já um refúgio tosco na copa de uma árvore, a meio dia de
viagem para o norte. Esse foi o esconderijo secreto e seguro deles para o primeiro dia longe
do lar na floresta. Não obstante os gêmeos compartilharem o medo mortal, comum aos
primatas, de estarem no chão no meio da noite, eles aventuraram-se a partir, pouco antes do
anoitecer, tomando a sua trilha para o norte. Se bem que fosse necessária da parte deles uma
coragem inusitada para empreender essa viagem noturna, mesmo com a lua cheia, eles
concluíram corretamente que era menos provável, desse modo, que sentissem a falta deles e
que fossem perseguidos pelos companheiros da tribo e pelos parentes. E chegaram a salvo no
local previamente preparado, um pouco antes da meia-noite.
(712.4)
63:2.4
Na sua viagem para o norte, descobriram um depósito exposto de sílex e,
encontrando muitas pedras com a forma adequada para vários usos, eles juntaram um
suprimento para o futuro. Ao tentar lascar essas pedras de modo a que melhor se adaptassem
para as várias finalidades, Andon descobriu a sua qualidade de fazer chispas e concebeu a
idéia de fazer fogo. Mas essa concepção não se firmou na sua mente naquele momento, pois o
clima estava salubre e pouca necessidade havia de fogo.
(712.5)
63:2.5
Mas o sol do outono já estava indo baixo no céu e, ao rumarem para o norte, as
noites ficaram cada vez mais frias. E eles já se viram forçados a fazer uso de peles de animais
para se aquecer. Antes que se completasse uma lua desde que estavam ausentes de casa,
Andon deu a entender à sua companheira que ele podia fazer fogo com as pedras duras. Eles
tentaram por dois meses utilizar a faísca da pedra para acender um fogo, mas nada
conseguiram. Cada dia, o casal bateria as pedras e tentaria fazer a ignição da madeira.
Finalmente, numa certa tarde à hora do pôr do sol, o segredo da técnica foi descoberto quando
ocorreu a Fonta subir em uma árvore próxima para apanhar o ninho abandonado de um
pássaro. O ninho estava seco e era altamente inflamável e conseqüentemente produziu uma
chama abundante quando a chispa lhe caiu em cima. Eles ficaram tão surpresos e assustados
com o êxito, que quase perderam o fogo, mas salvaram-no adicionando o estímulo adequado e,
então, começou a primeira busca de lenha pelos pais da humanidade.
(712.6)
63:2.6
Esse foi um dos momentos mais jubilosos das suas curtas, mas aventurosas vidas.
Durante toda a noite, permaneceram vigiando o fogo queimar, compreendendo vagamente que
tinham feito uma descoberta que lhes tornaria possível desafiar o clima e, assim, se tornarem
para sempre independentes dos seus parentes animais das terras do sul. Depois de três dias de
descanso e de desfrute do fogo, eles prosseguiram a sua viagem.
(712.7)
63:2.7
Os primatas ascendentes de Andon haviam sempre mantido vivo o fogo que tinha
sido aceso pelos raios, mas nunca antes as criaturas da Terra haviam tido a posse de um
método de começar o fogo quando quisessem. Todavia, demorou muito tempo para que os
gêmeos ficassem sabendo que o musgo seco e outros materiais serviam para acender o fogo
tão bem quanto os ninhos de pássaros.
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