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3.2
Landeskunde
O termo
Landeskunde - utilizado no ensino de alemão como língua
estrangeira - é difícil de ser traduzido com uma só palavra em português. A
denominação dada a tudo aquilo que ele abarca se
modificou bastante desde o
século XIX até nossos dias.
Koreik (1999 : 18-19) traça um histórico desde a década de 1880, quando
o termo
Realienkunde era utilizado num contexto histórico em que o comércio
aumentou e a política colonialista estava no seu auge. Esse termo que tinha por
definição transmitir informações sobre o cotidiano, era voltado para o aprendizado
de idiomas a fim de servir ao objetivo de fomentar o comércio entre as nações.
A partir do início do século XX, passou-se a utilizar o termo
Kulturkunde,
até o início da década de 60. Nesta época, nota-se uma tendência a colocar em
evidência os valores nacionalistas, primeiramente também dos outros povos para
culminar - sob a ditadura nazista – com a comparação negativa exaltando a
própria grandeza germânica. Após a Segunda Guerra, embora não houvesse uma
presença explícita do termo nos currículos,
imperava a necessidade de
desconstruir estereótipos.
Desde a década de 60, fala-se de
Landeskunde. Inicialmente, não se falava
ainda de interculturalidade, mas principalmente em informações ligadas ao dia-a-
dia e à competência comunicativa. Não se tratava apenas de
faktische
Landeskunde
(números e fatos), mas também de informações mais cotidianas, sem
entrar em questões interculturais ao se tratar de
Landeskunde como se começou a
fazer na década de 80 (Macaire & Hosch, 2000 : 45-47).
Landeskunde
é mais do que
Kultur, mas abrange também o que se costuma
chamar de fatos e dados (
faktische Landeskunde).
Kultur tinha até a década de 70
do século XX a mesma conotação de “alta cultura” que tem ainda hoje em dia
coloquialmente (ligada aos adjetivos culto e
kultiviert, em português e em alemão,
respectivamente).
A partir dessa época, passou-se
a utilizar o chamado erweiterter
Kulturbegriff
, i.e. conceito de cultura ampliado, vindo da antropologia e que
abarcava então não apenas manifestações da
hohe Kultur, i.e. a
cultura da elite,
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mas sim todo tipo de manifestação de um povo, como já foi definido no capítulo
anterior.
Desde a década de 90, prefere-se o termo
offener Kulturbegriff, pois ele é,
por um lado mais abrangente (conceito aberto de cultura, e não mais ampliado),
mas de fato significou uma reação contraria à tendência de só ser tematizada a
cultura do cotidiano (Biechele & Padrós 2003 : 11-13) para se olhar a sociedade
mais a fundo.
Sartorius (1997) apud Biechele & Padrós (2003 : 94) descreve
assim a situação ainda na década de 90 :
Das Fachgebiet DaF (Deutsch als Fremdsprache)
verharrt auch Mitte der
neunziger Jahre zum Teil noch in didaktischen Positionen der siebziger Jahre:
zum Befremden etlicher Deutschlerner überall auf der Welt, die durch ihre
Höflichkeit gerade noch davon abgehalten werden, sich laut darüber zu wundern,
daß in dem Land, dessen Kultur sie lieben und verehren, dessen Sprache sie sich
mit mit beträchtlichem finanziellen und lebenszeitlichen Aufwand aneignen
wollen, zahlreiche Lehrwerke ein allzu einseitiges,
auf Alltagssituationen
konzentriertes Bild vermitteln”.
1
O termo
Kultur foi posicionado dentro do que se convencionou chamar
Landeskunde
o qual abrange, portanto, aquilo que em outras línguas se considera
atualmente pertinente ao conceito de cultura, i.e. cultura entendida como todas as
manifestações culturais de um povo, tanto as chamadas “cultas”,
quanto as
manifestações mais populares e cotidianas, mas também conhecimentos mais
voltados aos fatos (
faktische Landeskunde). É nesse contexto que vemos o estudo
do humor: como parte integrante dos elementos necessários
ao entendimento da
cultura alemã ou brasileira.
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