A cada momento finalizado, fazíamos uma roda de conversa a fim de refletir e olhar
criticamente as falas das personagens direcionadas à mulher. As reflexões e impressões eram
de repugnância até da parte dos alunos. O assédio era latente nas falas e no comportamento
das personagens. Infelizmente ainda real e sofrido entre as mulheres fora da ficção.
O primeiro momento encerra com a fala de Pedro Bala, “Ninguém toca em você!”, e
os demais meninos do trapiche obedecem e confirmam. No jogo, os alunos falam em uníssono
a ponto de que as meninas presentes no jogo sentem um sentimento de acolhida, proteção e
irmandade com os meninos da turma. Essas falas foram expressas e declaradas pelas meninas
para os meninos, envolvendo uma parceria e companheirismo entre a turma.
No segundo momento do Teatro-Fórum, as falas ainda ditas pelos meninos, seguindo
o modo jogral, apresentavam um tom mais brando. Estas falas retratavam o que os meninos
do trapiche sentiam por Dora ao ver que ela estava lá para cuidar, a mãe. À parte os serviços
domésticos retratados no romance como “coisas de mulher”, consideremos o perfil materno
de Dora, do qual aqueles garotos eram carentes e encontraram nela esse suporte.
Em nossas rodas de conversas, percebemos aí uma proteção mútua, dos meninos para
as meninas e das meninas para os meninos. Extrapolou-se a discussão a respeito da figura
mais próxima que todos possuem, a figura materna, mesmo que uns não tenham mais a mãe,
mas tem uma avó, uma tia, uma madrinha ou uma irmã mais velha que assume este papel. A
importância e valoração deste ser na sociedade.
No
terceiro momento, a valoração dos meninos por Dora é
tanta que eles querem
retribuir com presentes, com palavras e gestos. Nossa discussão chega a tomar uma atitude
de querer retribuir e contribuir através da transformação pessoal e social. Daí
a ideia em
apresentar os jogos para a escola através de uma peça teatral segundo os moldes do Teatro
do Oprimido.
4.6. Ato final
Para conseguir
finalizar o livro a tempo, acompanhamos os capítulos
Reformatório,
Orfanato e Dora, esposa através
de um audiolivro, para que os
alunos se familiarizassem
também com a linguagem radiofônica dos anos 30, pois já era uma proposta apresentarmos
os jogos dramáticos utilizando a linguagem e os costumes da época. Devido a apresentação
ter sido feita no final do ano letivo, os alunos pesquisaram propaganda radiofônicas em climas
natalinos da época.
A culminância do ato foi uma apresentação dos jogos aplicados em sala de aula para
toda a comunidade escolar como pano de fundo os eventos natalinos e a era do rádio, 1937,
ano em que foi publicada a primeira versão da obra literária.
Foi escolhido para desfecho, o jogo que se dá com o funeral de Dora, coreografado
com as algumas alunas assumindo seus perfis de irmã, mãe, noiva e esposa, mulheres que
lutam, que ocupam seu espaço, que são líderes, capitãs, guerreiras, santas, que têm vez e voz
e um recado para a sociedade atual através do canto de Maria Betânia
“Não mexe comigo”.
Encerrando o grande ato com os capítulos
Vocações, Na rabada de um trem e
Uma
pátria, uma família, ao apresentar, ainda ao som da mesma canção de Betânia, a adaptação
produzida pelos alunos sobre o desfecho de cada menino do trapiche, sua transformação ou
o que se esperava de seu fim.
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