crianças de rua, nas crianças abandonadas, quase todas órfãs de pai e mãe,
filhos da miséria e do abandono. Atiradas à marginalidade, elas roubam e
cometem outros delitos para sobreviver. Detidas, são submetidas à
humilhação, ao castigo, à tortura. (AMADO, 2009, p. 265)
A partir deste contexto o jogo é conduzido de maneira até fácil por conta do quão as
atitudes, as falas e os comportamentos são similares para os atores de então.
O espectador vê, assiste, o espect-ator vê e age, ou melhor, ver para agir na cena e na
vida. Mas é preciso haver um processo de conversão do espectador em ator, que segundo
Boal compreende 4 etapas:
1.
Conhecimento do Corpo ( conhecimento teatral do corpo a partir dos
condicionamentos e de formações sociais).
2.
Tornar-se o Corpo Expressivo (exercícios que exploram as possibilidades
de expressão corporal).
3.
Teatro como Linguagem (exercícios teatrais que estudam o encontro de
múltiplas linguagens expressivas). É subdividido em três graus: a Dramaturgia
Simultânea, o Teatro-Imagem e o Teatro-Debate.
4.
Teatro como Discurso (composição
de cenas simples em que os
espectadores intervêm cenicamente na apresentação teatral). Utiliza-se das
seguintes variantes: Teatro-Jornal, Teatro-Invisível, Teatro-fotonovela,
Quebra de Repressões, Teatro-Mito e Teatro-Julgamento. (TEIXEIRA, 2007,
p.92-93)
A fim de otimizar o trabalho da prática de Leitura do romance, selecionamos alguns
jogos dramáticos do Teatro do Oprimido e de sua estética os
quais contemplam todas as
etapas de conversão assim como promovem uma dinâmica interativa entre a leitura do
romance e a própria busca individual e coletiva dos alunos, mantendo a dialética da proposta.
Dessa forma, atende ao objetivo metodológico do Teatro do Oprimido em
realizar reflexões sobre as relações de poder, explorando histórias
entre
opressor e oprimido, onde o espectador assiste e participa da peça. Todos os
textos são construídos coletivamente a partir de histórias de vida, baseados
nas experiências e problemas típicos da coletividade, como a discriminação,
o preconceito, o trabalho, a violência, entre outros. Com a finalidade de criar
condições práticas para que o oprimido se aproprie dos meios de produzir
teatro e amplie suas possibilidades de expressão, além de estabelecer uma
comunicação direta, ativa e propositiva entre espectadores e atores.
(TEIXEIRA, 2007, p.73)
Optou-se aqui por explorar o próprio texto do romance para realizar os jogos
dramáticos, passando por uma etapa de recriação ou adaptação para a linguagem teatral feita
coletivamente em sala de aula. Percebe-se então que a prática da leitura literária aplicada à
metodologia do Teatro do Oprimido envolve um conjunto de atividades atribuídas a
exercícios, processos de reescrita, jogos e técnicas teatrais
que proporcionam uma
interatividade entre leitores e o texto, professor e alunos,
alunos e alunos, atores e
espectadores, visando uma melhor compreensão do texto, dos problemas sociais e a procura
de alternativas para resolvê-los.
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