A
mudança de século não parece ter diminuído o interesse dos historiadores pela
Guerra Civil de 1936-1939, o episódio da história de Espanha sobre o qual mais se
escreveu em todo o mundo. Como nota Juan Andrés Blanco, a permanente vitalidade do
tema reflecte-se nas mais de 300 obras publicadas entre 2000 e 2004, número que previ-
sivelmente terá duplicado quando se concluir este 70.º aniversário do seu começo. Como
é lógico, nem todas estas novidades nos trazem descobertas significativas: as reedições
– algumas de obras clássicas e de revisão necessária, outras nem tanto – e as obras de
divulgação continuam a predominar na produção editorial sobre o conflito, cada vez
mais submetida às leis do mercado. Mas isto deve ser considerado normal: o que é sur-
preendente é que após quase setenta anos de atenção historiográfica ininterrupta, conti-
nuem a aparecer trabalhos que relatam aspectos desconhecidos da guerra e a
reinterpretem a partir de novas perspectivas, como tratarei de mostrar nesta recensão
das novidades aparecidas desde 2000. Concentrar-me-ei nas obras que considero impor-
tantes e originais, sem deixar de assinalar igualmente as continuidades e lacunas detec-
táveis na bibliografia recente.
Os debates produzidos nos últimos anos caracterizam-se, sobretudo, pela ruptura do
consenso em torno das causas e da natureza do conflito a que aparentemente tinham
chegado os historiadores durante os anos 80
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. Desde finais da década de 90 reafirma-
ram-se as versões antagónicas que dominaram o debate historiográfico até à Transição:
simplificando muito, a versão pró-republicana é agora representada pelos partidários
da «recuperação da memória histórica» da guerra e da ditadura, como Francisco Espi-
nosa; e a versão franquista (ou neofranquista) reencarnou-se em historiadores como
Alfonso Bullón de Mendoza e divulgadores como Pío Moa, cujas obras venderam cen-
tenas de milhar de exemplares. As causas desta polarização continuam a ser debatidas.
Num texto a ser publicado em breve, Manuel Pérez Ledesma defende que a quebra do
consenso da Transição obedeceu sobretudo a factores políticos e sociais: o questiona-
mento da «ficção moral da culpabilidade repartida» entre os dois lados pela geração dos