São Paulo, Unesp, v. 11, n. 1, p. 71-95, janeiro-junho, 2015
ISSN – 1808–1967
Segredos da infância (1949) de Augusto Meyer, e a década de 50 tem como destaques
Memórias do cárcere (1953), também de Graciliano Ramos, Um homem sem profissão
(1954) de Oswald de Andrade, Itinerário de Pasárgada (1954) de Manuel Bandeira, História
da minha infância (1955), o primeiro de cinco volumes das memórias de Gilberto Amado, e
Meus verdes anos (1956), de José Lins do Rego.
As décadas de 70 e 80 compreendem o período de edição dos seis volumes das
memórias de Pedro Nava (Baú de ossos, Balão cativo, Chão de ferro, Beira-mar, Galo das
trevas e O círio perfeito), que vai se apresentar como a grande obra memorialista da
literatura nacional, não só por revisitar todos os temas das obras nacionais anteriores no
gênero como pela diversidade de recursos linguísticos e discursivos utilizados pelo narrador.
Cabe ressaltar que, com essa descrição não se pretende uma linha evolutiva, mas
um indicador da manifestação do gênero autobiográfico em uma tradição cultural e
intelectual, pois, como assinala Fávero (1999, p. 29):
A presença gradativa dos textos de memórias demonstrou que, para uma
tarefa dessa dimensão, a nossa literatura começava a voltar-se rumo a um
gênero que apresentava potencial considerável de contribuição nesse
campo. Parece, pois, procedente dizer que as memórias pessoais, na
medida em que refletiam o meio em que se situava o autor, constituíam uma
espécie de força auxiliar da ficção no intuito de mapear a realidade
brasileira, mesmo que isto não representasse um projeto específico de
atuação.
No entanto, atualmente, ocorre uma inovação na teoria literária se dá pela
transposição de elementos do estilo discursivo autorreflexivo do objeto para a forma de
análise, o que reforça a subjetividade da crítica e flexibiliza seus limites.
Exemplos desses exercícios de flexibilização de fronteiras na teoria literária podem
ser colhidos em trabalhos como na coletânea de contos “Histórias mal contadas” ou no
romance “O Falso Mentiroso” (2004), ambos de Silviano Santiago, nos quais, em diversos
contos, o autor ficcionaliza seus primeiros contatos com as sociedades francesas e norte-
americanas. No romance, a vida e a obra do personagem-narrador se confunde em alguns
pontos com a vida de seu autor real, de forma proposital, como quando fala sobre seu
nascimento, o personagem afirma:
Já que voltei a tocar nas circunstâncias do meu nascimento, adianto. Corre
ainda uma quinta versão sobre elas. Teria nascido em Formiga, cidade do
interior de Minas Gerais. No dia 29 de setembro de 1936. Filho legítimo de
Sebastião Santiago e Noêmia Farnese Santiago. A versão é tão
inverossímil, que nunca quis explorá-la. Consistente só a data de
nascimento. Cola-se à que foi declarada em cartório carioca pelo doutor
Para além da ego-história
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