São Paulo, Unesp, v. 11, n. 1, p. 71-95, janeiro-junho, 2015
ISSN – 1808–1967
historicamente se mostra como reflexo de realizações, vínculos, simpatias, antipatias,
apreciações e indiferenças em um espaço relacional bastante delimitado.
É, portanto, em relação ao nome próprio que devem ser situados os
problemas da autobiografia. [...] É nesse nome que se resume toda a
existência do que chamamos de autor: única marca no texto de uma
realidade extratextual indubitável, remetendo a uma pessoa real, que
solicita, dessa forma, que lhe seja em última instância, atribuída a
responsabilidade da enunciação de todo o texto escrito. (LEJEUNE, 2008,
p. 23).
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No caso dos historiadores, o falar de si parece desafiar os referenciais acadêmicos
clássicos, ciosos da objetividade narrativa, que estabelecem de forma clara os limites além
dos quais se localizam o subjetivo, o impróprio, o inconfessável e o estigmatizado.
Alberti (1991, p. 75) aponta o fato de que no discurso autobiográfico o autor-
narrador-personagem é transformado em um “valor”, uma individualidade interiorizada que
se torna única mediante seu relato, em contraste com o indivíduo “fato”, signatário do
contrato social, pois
A identidade entre autor, narrador e personagem é condição sine qua non
de uma autobiografia, consubstanciada no pacto autobiográfico: a
identidade entre o nome exposto na capa e na folha de rosto (um nome que
equivale a uma assinatura) e o nome que o narrador se dá como
personagem principal, acrescida, na maioria das vezes, da indicação na
capa, na folha de rosto, nas orelhas e na contracapa de que se trata de uma
autobiografia.
O estudo das narrativas de vida de educadores tem sido abordado por uma extensa
diversidade de entradas e terminologias de pesquisa, sintoma de uma flutuação
terminológica em torno das histórias e relatos de vida, biografias e autobiografias que
refletem a riqueza e a dificuldade de se expressar distintas vivências e temporalidades.
No Brasil, a área de História da Educação, na década de 90, assiste a uma “virada
biográfica” e o campo de pesquisa da profissão docente incorpora para discussões sobre a
forma como tais profissionais vivenciam os processos de formação e exercem a reflexão
sobre as experiências no magistério, em trabalhos baseados nas histórias de vida como
método de investigação qualitativa e como prática de formação. (PASSEGGI; SOUZA;
VICENTINI, 2011, p. 370).
Passeggi, Souza e Vicentini, (2011, p. 373) entendem a trajetória profissional como o
processo de transição identitária e estatutária, percebida na formação (entendida como
inicial na graduação e do formador na pós-graduação), como pesquisador (no magistério
superior) e como professor titular (como evolução funcional).
Para além da ego-história
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