Os memoriais acadêmicos como objetos de pesquisa
“Vejo as asas, sinto os passos
de meus anjos e palhaços,
numa ambígua trajetória
de que sou o espelho e a história.
Murmuro para mim mesma:
´É tudo imaginação!´
Mas sei que tudo é memória...”
(Cecília Meireles, Memória)
Pensar em novos objetos ou em objetos tradicionais dentro de novas perspectivas e
novos problemas exige a incorporação de métodos e instrumentos conceituais diferentes
dos tradicionais, em uma dinâmica de diálogo interdisciplinar por meio do qual não ocorre o
simples decalque, mas a tradução e a transcriação tanto teórica quanto empírica.
No caso de intelectuais, quer da História, Antropologia ou Teoria Literária, o
determinante bourdieusiano do “nome” ocupa uma centralidade que determina a descrição
do percurso entre diversos campos, sistemas e configurações sociais nos quais um discurso
profissional e acadêmico garante manter sob controle, ou mesmo afastadas, as dimensões
sensíveis e afetivas.
No caso do memorial o nome próprio se mostra um designador rígido, uma forma por
excelência da imposição arbitrária feita pelos ritos institucionais: “[...] a nominação e a
classificação introduzem divisões nítidas, absolutas, indiferenciadas nas particularidades
circunstanciais e nos acidentes individuais, no fluxo e na fluidez das realidades biológicas e
sociais.” (BOURDIEU, 1996, p. 79).
Se o nome próprio é para o cidadão a expressão de sua identidade, embora essa
dimensão exista para o intelectual no sentido de ser algo universal, em relação ao mundo
acadêmico esse nome se projeta como guardião de uma obra, que construída social e
Wilton Carlos Lima da Silva
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