Wilton Carlos Lima da Silva
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São Paulo, Unesp, v. 11, n. 1, p. 71-95, janeiro-junho, 2015
ISSN – 1808–1967
Para além da ego-história: memoriais acadêmicos como fontes de pesquisa
autobiográfica
Wilton C. L. SILVA
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Resumo: No Brasil, o memorial acadêmico é um relato crítico da trajetória cultural e
intelectual de um docente universitário, exigido em concursos públicos de progressão de
carreira, que remonta ao Exposé des titres et travaux scientifiques, característico da carreira
acadêmica francesa. Trata-se de uma manifestação privilegiada da escrita autobiográfica na
qual se mesclam a trajetória pessoal e a intelectual, caracterizando-se como um dos raros
momentos no qual é legítima a fala do intelectual sobre si mesmo. Embora identificado com
diferentes rótulos, como ego-história, escrita de si ou autoetnografia, por exemplo, a escrita
autobiográfica do intelectual, pouco estudada na tradição brasileira, permite identificar
determinações e configurações normativas do discurso acadêmico-científico, assim como
uma multiplicidade de identidades e referências que se afirmam no processo narrativo. Em
linhas gerais, os memoriais acadêmicos apresentam a dupla dimensão do discurso
institucional e burocrático e da narrativa pessoal e memorialística, de modo que é possível
identificar um ethos discursivo que oscila entre a abordagem objetivada de natureza
cartesiana ou o enfoque subjetivante da perspectiva hermenêutica, caracterizando-os como
fonte rica e polissêmica.