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Um outro conviva se levantou.
Era uma cabeça ruiva,
uma tez branca, uma daquelas criaturas fleumáticas que não
hesitarão ao tropeçar num cadáver para ter mão de um fim.
Esvaziou o copo cheio de vinho, e com a barba nas mãos alvas,
com os olhos de verde-mar
fixos, falou:
— Sabeis, uma mulher levou-me a perdição. Foi ela quem me queimou a fronte nas orgias, e desbotou-me os
lábios no ardor dos vinhos e na moleza de seus beijos: quem me fez devassar pálido as longas noites de insônia nas
mesas do jogo, e na doidice dos abraços convulsos com que ela me apertava o seio! Foi ela, vós o sabeis, quem
fez-me num dia ter três duelos com meus três melhores amigos, abrir três túmulos àqueles que
mais me amavam na
vida — e depois, depois sentir-me só e abandonado
no mundo, como a infanticida que matou o seu filho, ou aquele
Mouro infeliz junto a sua Desdêmona pálida!
Pois bem, vou contar-vos uma história que começa pela lembrança desta mulher...
Havia em Cadiz uma donzela... linda daquele moreno das Andaluzas que não há vê-las sob
as franjas da mantilha acetinada,
com as plantas mimosas, as mãos de alabastro, os olhos que
brilham e os lábios de rosa d'Alexandria sem delirar sonhos delas por longas noites ardentes!
Andaluzas! sois muito belas! se o vinho, se as noites de vossa terra,
o luar de vossas noites,
vossas flores, vossos perfumes são doces, são puros, são embriagadores, vos ainda o sois mais!
Oh! por esse eivar a eito de gozos de uma existência fogosa nunca pude esquecer-vos!
Senhores! aí temos
vinho de Espanha, enchei os copos: — à saúde das Espanholas!...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Amei muito essa moça, chamava-se Ângela. Quando eu estava decidido a casar-me com
ela, quando após das longas noites perdidas ao relento a espreitar-lhe
da sombra um aceno, um
adeus, uma flor, quando após tanto desejo e tanta esperança eu sorvi-lhe o primeiro beijo, tive de
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