Patriarcalismo e maniqueísmo características marcantes dos contos de fadas
Os contos de fadas, desde seu surgimento sempre seduziu crianças, jovens e
adultos em virtude da forma como eram escritos. Eram fundamentais na formação da
personalidade humana, uma vez que auxiliavam as pessoas a encontrar o significado
da vida, à medida que aprendiam a compreender melhor a si e o mundo ao seu redor.
Com relação a essa afirmação Bruno Bettelheim (2012) explica que são por meio dos
contos de fadas que se pode aprender mais sobre os problemas interiores, tão
frequentes na vida das pessoas.
Nos contos de fadas, encontramos histórias de lindas princesas meigas e
carinhosas, boas filhas que encontram seus príncipes, geralmente encantados, se
casam e vivem felizes para sempre, representando o bem e o bom da história. Por
outro lado, representando o mal, temos a bruxa malvada ou a madrasta, feia e velha
que inveja a princesa e faz de tudo para acabar com sua felicidade, geralmente, essa
figura maléfica, tem um fim trágico.
Nesse breve descrição encontramos características marcantes dos contos de
fadas, o patriarcalismo, representados pelas figuras masculinas que exercem domínio
e controle sobre o matrimônio, sua família e principalmente suas filhas. Luiza Tomita
(2002) descreve que o patriarcalismo “Baseia-se numa hierarquia piramidal, cujo topo
é ocupado pelo pater famílias, que não precisa ser o genitor ou o pai (pode ser o
senhor feudal, o nobre, o rei), e que tem, na base, as mulheres, as crianças e os
escravos".
O domínio pelas filhas, nos contos de fadas, é transferido aos príncipes, que
são dadas como prêmio ao herói que conseguiu derrotar o mal, uma vez que sozinhas
essas mulheres não conseguiriam enfrentar.
[...] a princesa passa a ser a representação de um prêmio, o objeto a ser recebido pelo
homem forte e corajoso que vê, em sua prenda, o protótipo da fragilidade uma vez que,
sem a ajuda masculina, ela não poderia se desprender das garras do mal. Sendo
assim, as questões de subordinação da mulher ao homem, conforme a ideologia
patriarcal, podem ser vislumbradas nos contos de fadas que primarão por traçar
estereótipos que reforcem não só a submissão feminina, mas também o padrão de
beleza ideal. (BATISTA, 2011, p. 95)
A citação acima corrobora com a descrição feita anteriormente, pois reforça a
presença de outra característica importante presente nos contos de fadas o
maniqueísmo representado pelos heróis, belos e fortes e os vilões feios, perversos e
malvados. Vladimir Propp (1997), explica que “Seguem-se: o duelo com o adversário
(cuja forma mais importante é o combate com o dragão), o retorno e a perseguição.
[...] o herói [...] passa por uma provação cumprindo tarefas difíceis, tornar-se rei e
casa, em seu reino ou no do sogro” (PROPP, 1997, p. 4).
A submissão da figura feminina em relação à masculina, os estereótipos e a
distinção entre o bem e o mal e em qual lado a pessoa deve seguir são dilemas
encontrados pelo ser humano desde o surgimento da antiguidade. A forma encontrada
para demonstrar esses dilemas, foi pela utilização das histórias orais que
posteriormente se transformaram em contos, ou seja, histórias mais curtas que os
outros gêneros literários.
Como os contos de fadas atingiam um grande número de pessoas, nada
melhor que utilizá-los para transmitir os valores considerados fundamentais para que
se houvesse uma sociedade harmônica.A maior parte da população, que lia os contos,
eram os camponeses e os trabalhadores, por este motivo, era necessário usar uma
linguagem de fácil compreensão para mostrar as estruturas da sociedade, como
deveriam se comportar, e o que acontecia às pessoas que fugiam aos padrões
estabelecidos.
Ao contrário do que acontece em muitas estórias infantis moderna, nos contos de fadas
o mal é tão onipresente quanto a virtude. Em praticamente todo conto de fadas o bem e
o mal recebem o corpo na forma de algumas figuras e ações, já que bem e mal são
onipresentes na vida e as propensões para ambos estão em todo homem. É essa
dualidade que coloca o problema moral e requisita a luta para resolvê-lo. [...] Nos
contos de fadas, como na vida, a punição ou temor dela é apenas um fator limitado de
intimidação do crime. A convicção que o crime não compensa é um meio de intimidar
muito mais efetivo, e esta é a razão pela qual nas estórias a pessoa má sempre perde.
(
BETTELHEIM
, 2012, p. 7)
Bruno Bettelheim (2012) afirma que,apesar da intenção moralizante, a escolha
por uma determinada virtude acaba acontecendo de acordo com a experiência pessoal
e a influência que esta exerce na vida da pessoa. E que, como toda grande arte, seu
significado será diferente para cada pessoa, podendo ser diferente também para uma
mesma pessoa em vários momentos de sua vida.
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