aventura no mundo da imaginação. Exímia contadora de histórias que por meio de sua
sucedida estratégia, transmite a tradição de um povo, analisa o comportamento humano, e
busca mostrar conflitos e valores da sua cultura. Portanto, as histórias “As mil e uma
noites” são o reflexo da alma de um povo, e Shahrazád desempenha um importante papel
que reflete toda o poder da criação, imaginação, fantasia que refletem a arte de narrar. Arte
Shahriár, o poderoso rei sassânida, tece os fios iniciais de toda a obra que se tornou um
cânone da literatura Ocidental: As mil e uma noites.
O rei Shahriár descobre que sua mulher o trai com um escravo. Ele então sai pelo
mundo em busca espiritual para descobrir se há alguém mais infeliz do que ele. A resposta
é afirmativa e acompanhada de uma revelação da jovem seqüestrada no dia de núpcias pelo
amante capaz de lhe impedir sua realização. Os homens fariam bem em não proibir nada às
mulheres; seria o melhor meio de torná-las sensatas”. Depois de ouvir isso da jovem
adúltera, o rei retorna para seu reino e decide tomar uma medida drástica para evitar a
infidelidade das mulheres, casa-se cada noite com uma mulher, mandando matá-la na
manhã seguinte. Depois de muitas mulheres mortas, surge a heroína, Shahrazád, culta,
inteligente e corajosa, que cria uma ardilosa trama para escapar e salvar as moças do reino
da morte. Assim, ela inicia histórias que vão seduzindo e envolvendo o rei, suspendendo-as
no clímax, à luz dos primeiros raios de sol.
Shahrazád narra habilmente suas envolventes histórias, estabelecendo uma rica
polifonia, porque ela é o fio condutor que concede a sua
voz a seus personagens; o xeique,
o vizir, o gênio, o mercador, a princesa, a escrava e muitos outros personagens que compõe
uma série de narrativas inseridas umas dentro das outras. Jogos de poder, gênios malignos e
caprichosos, mulheres sedutoras e capazes de enfeitiçar homens, rainhas-bruxas, califas,
são personagens que traçam a trajetória das diversas circunstâncias que normalmente
buscam a questão básica de salvar suas vidas, que sempre estão sempre por um fio,
representadas nas diversas situações de traições, crimes, injustiças.
Permeadas de mistérios, e
ngenhosas tramas são narradas noite após noite, alimentando
a imaginação do leitor que, como os folhetins, despertam o interesse das mais belas
histórias da cultura popular árabe. É, portanto, o suspense a principal estratégia da
narradora que deixa sempre para a próxima noite a continuação da história, assim o poder
da palavra é exercida prendendo a atenção dos leitores que mergulham no mundo
desconhecido que se revelam no decorrer das histórias narradas continuamente por mil e
uma noites, remetendo, portanto, a idéia do infinito.
De caráter mágico e fantástico, “As mil e uma noites” são uma coletânea de
histórias que no século IX eram nomeados “mil noites”. No século X, há duas menções ao
livro das Mil e uma noites em duas obras de renome. A primeira está em “As pradarias de
ouro e minas de pedras preciosas” do historiador Almas’udi, livro que contêm
huráfat que
significa fábulas, semelhante ao livro Hazar afsána cuja tradução do persa é “mil fábulas”.
A segunda menção ocorre no Catálogo, obra em que o livreiro Annadím Alwarraq decidiu
compendiar todos os livros escritos em árabe, assim uma parte abordava “pessoas dadas a
tertúlia noturnas”, sobre “pessoas que contam fábulas”, livros compostos por “histórias que
contam à noite” e sobre as “fábulas”.
Estes livros apresentam algumas diferenças, como o de Annadim, o rei não possui
nome, Shahrazád é filha de um rei e não de um vizir. Dinarzád é serva do rei, e não se
menciona o porquê do rei matar suas esposas. É interessante que na obra “Catálogo”,
Annadim situou Hazar afsán em parte dedicada aos contadores noturnos de histórias, e
assim acabou criando características para o gênero disseminado na época, e tipificados por
meio de categorias narrativas chamadas asmár que são fábulas, as narrativas noturnas e
Compartilhe com seus amigos: