a palavra [síntese] aparece já na primeira frase da introdução do primeiro número de
L’Esprit Nouveau: ‘Existe um espírito novo: é um espírito de construção e de síntese guiado
por uma concepção clara’. Depois da Segunda Guerra Mundial a palavra se converte em
um leitmotiv, tal como ocorreu depois da Primeira”. [...] Segundo Le Corbusier, uma síntese
semelhante abarca o conjunto da civilização ‘maquinista’. Seu objeto não é a arte ou a
arquitetura em particular, mas a totalidade do mundo técnico, a idéia de uma obra de arte
global que sob a direção da arquitetura, abarque a pintura e a escultura, não é mais que um
aspecto particular do problema.
A revista francesa “L’architecture d’Aujourd’hui”, considerada nas décadas de 1930 a 1950, uma
das mais importantes publicações na divulgação da arquitetura moderna, também colaborou com
o assunto. Segundo Tinem (2006:145), “é justamente no edifício do Ministério da Educação onde
um tema apreciado por Le Corbusier, a síntese das artes, aparece como uma das características
da arquitetura brasileira. Esse tema – que Costa entende como integração entre as artes –
aparece constantemente na revista.”
A integração entre as artes irá se concretizar no quadro da moderna arquitetura brasileira a partir
do edifício do Ministério da Educação e Saúde (1943) (Fig. 4), no Pavilhão do Brasil na Feira
Mundial de Nova York (1939) e na Igreja de São Francisco de Assis (Fig. 5), em Belo Horizonte,
na Pampulha, (1943).
Fig. 4: Ministério da Educação e saúde. Rio de Janeiro. 1936-1943
Fonte: Arquitetura contemporânea no Brasil, Yves Bruand.
Sem dúvida, uma das características peculiares desta arquitetura que se realizou no Brasil é a
convivência do trabalho de diversos profissionais:
Deve-se, finalmente, ressaltar que embora tenha Le Corbusier pregado sempre a síntese
das artes, quando se tratava de suas concepções arquitetônicas agiu sempre sozinho,
artista completo que era. A equipe brasileira, pelo contrário, apelou desde o início para o
pintor Cândido Portinari, os escultores Bruno Giorgi, Antônio Celso e Jacques Lipchitz, o
arquiteto-paisagista Roberto Burle Marx, abrindo desta forma caminho para uma
colaboração que iria revelar-se frutífera, não apenas no caso específico, como também
futuramente. O resultado obtido foi um conjunto de grande riqueza plástica, realçando e
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completando magnificamente a arquitetura, mas ao mesmo tempo a ela subordinado.
“Tratava-se de um retorno ao espírito da tradição dos séculos XVII e XVIII, quando a
sobriedade das linhas mestras da composição não era alterada pela profusão ornamental,
que era cuidadosamente localizada”. (BRUAND, 1991: 92-93)
E ainda dando crédito ao mesmo autor:
De fato a arquitetura brasileira desse período caracteriza-se por sua leveza, audácia e
graça, aliadas a uma grande força de expressão. Caracteriza-se ainda pela riqueza, tanto
formal, quanto material, e por uma síntese das artes, possível pelo fato de que nem sempre
era necessário levar em conta os custos. Escultura, pintura mural e azulejos são
complementos quase obrigatórios e, em geral de grande efeito. Mas a arquitetura conserva
a liderança: é o arquiteto quem decide qual o papel atribuído ao pintor, ou ao escultor, quem
o posiciona no lugar adequado. “A participação destes jamais afeta a parte estrutural do
edifício, tendo sempre a decoração o objetivo de sublinhar o caráter de simples vedação
das paredes que nunca são portantes”. (BRUAND, 1991: p. 115,).
Fig. 5: Igreja de São Francisco de Assis, Belo Horizonte, MG
Mural de Cândido Portinari, 1943
Fonte: Arte no Brasil, Nova Cultural, 1986.
A proposição de síntese das artes será permanente no cenário na arquitetura da década de 1950
e desta forma se faz presente na obra de Oscar Niemeyer em Brasília. As parcerias que serão
estabelecidas entre o arquiteto e artistas plásticos serão frutíferas e levarão a um patamar de alta
qualidade a relação de integração entre a arquitetura e a artes em Brasília e no Brasil.
Em setembro de 1959, o historiador e crítico de arte Meyer Schapiro (1904-1996), veio ao Brasil,
e, em meio ao canteiro de obra da futura capital do país, participou de um congresso que reuniu
importantes nomes das artes, da arquitetura e do urbanismo com o objetivo de discutir “a síntese
das artes na cidade nova”. As significativas intervenções do crítico de arte apontaram sobre o
julgamento de valor na crítica da arquitetura, o conceito de integração das artes no passado e na
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modernidade, a relação entre artes e ciências e a missão da arte na sociedade do futuro. Em
uma de suas falas, Schapiro (2004:166) diz:
“Vemos que a idéia de integração e de síntese não acarreta necessariamente um rigor de
planificação em que todas as partes têm de se ajustar e combinar umas com as outras”
[“...]” a integração não é uma questão de analogia das partes entre si, mas sim de
adaptações complexas e delicadas de umas às outras. Em outras palavras, são as relações
dinâmicas da estrutura – as disposições que permitem alternativas de comportamento e a
adaptação a uma grande escala de ações possíveis – que determinam a ordem ou
integração ou síntese de atividades.
Fig. 6: Relevos de Athos Bulcão na fachada do Teatro Nacional, Brasília,
Obra de Oscar Niemeyer, 1979
Fonte: http://manoelaafonso.wordpress.com/category/athos-bulcao/
O tema síntese das artes se fez presente em debates internacionais sobre arquitetura e
urbanismo. No Brasil, o eco dessa idéia foi recepcionado pelo crítico de arte Mário Pedrosa nos
seus escritos sobre a construção da nova capital do país, e identificando a participação das artes
plásticas na construção dessa obra de arte coletiva na cidade nova, Brasília (PEDROSA, 1981).
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