Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 156 -
Evolam durante o duro afã
Do “pão nosso de cada dia”,
Evocando saudades do tempo de menino;
Vozes-magia
Que têm força de imobilizar rudemente
A alma caipira da gente,
na vaga contemplação
Da manhã bucolicamente espiritualizada.
M anhã fazendeira.
Estendendo sol gostoso pela estrada,
Onde a
areia orvalhada
Parece tem sabor de açúcar a secar.
Passa alguém, um camarada,
Enxada aos ombros, a faiscar.
E a sua silhueta desenhada
Na meia-tinta rósea do ambiente
Dá a impressão de algum cromo brasileiro
De um pintor nacional;
Ou evoca fantasticamente
A figura de um deus original.
E ele é um deus!
Que
faz milagres de trabalho,
Que alinha cafezais e milharais pelos encostas
Em marcha triunfal!
E, como por encanto, nas baixadas,
Faz surgir num derrame de verdume
Oceanos de arrozais
Que o vento ondula coalhado de perfume
E vozes musicais.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 157 -
Lavrador
brasileiro,
Ao chicote do sol o dia inteiro.
A semear a semente do progresso
Da tua imensa pátria,
Somente o estulto, somente o não patriota,
Só o que julga talvez que patriotismo
É viver encaixado em geométrica fatiota,
Repugnar-se do teu justo caipirismo,
Atufar-se em almofadas e cafés,
Só esse te despreza,
Lavrador brasileiro,
Porque ele não conhece o que tu és.
Borboletas inquietas
Andam tontas de olores
Prá cá prá lá,
beijando as flores;
Beijos de flores que são de mel!
E todas elas tão coloridas
Envaidecidas
de seu mister.
E, enfeitiçando todo o painel,
Que às vezes fica-se duvidando
Se são os flores que estão voando,
Se as borboletas que estão pousadas.
M anhã caipira,
A tua lembrança
Põe-me pedaços de sol na alma.
Trechos fugidos de infância mansa!
Põe-me, no fantasia,
tanta poesia
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 158 -
Que me inebria;
Que sinto e vivo intimamente
E bem quisera escrever prá toda a gente.
Impossível, porém;
Tão doce é a tua lembrança
E a tua glorificação,
Que
eu me contento somente
Em ter-te presa no coração.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 159 -
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