Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
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INFÂNC1A
Quantas recordações da infância fugidia,
Da infância que se foi, quantas recordações!
Os dias passam numa extensa romaria,
Desfilam, sem cessar, em longas procissões.
É-me, a terna saudade, o pão
de cada dia,
Lenitivo melífluo às minhas aflições.
E não esqueço nunca uma alma cara e pia
Que me fez aprender bonitas orações.
M eninice! – Horizonte azulado da vida
Refulgindo de sol, longe da humana vista,
M as que, sempre a sorrir, nos acena e convida.
Que por mais que se queira a gente não
conquista
Pois que o nosso caminho em contínua investida
Leva-nos ao contrário e sempre mais nos dista.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
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DOMINGO
Logo cedo repiques para a missa
Diafaneidade ambiente de cristal.
Sob a janela uma roseira viça
Rescendendo um olor sentimental.
Sol quente. M eio-dia tropical.
Refeições. Indolências. Que preguiça!
Nuvens (roupa de espuma alva e maciça)
Tomam anil na concha celestial.
Sentem-se frêmitos de luz nas células,
Fere os olhares um faiscar de pérolas
Que sobe das calçadas e paredes.
Vêm-me, não
sei porque, fora de senso,
Vagos desejos de me achar suspenso
Por sobre um mundo intérmino de redes.