Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 76 -
A DERRUBADA
Atroa o bate-bate retumbante
Dos mordentes machados na madeira.
E nessa luta trágica
e gigante
Rolam troncos em longa choradeira.
Aqui um jequitibá soberbo, adiante
Uma velha e frondosa caneleira.
Um cedro, um peroba farfalhante,
Toda a legião da flora brasileira.
O machado decepa inexorável,
Nada lhe escapa à cólera maldita,
Nada o detém na sanha abominável.
E há em cada tombo lástimas soturnas,
E a cada
golpe toda a selva grita
Pelo eco das quebradas e das furnas.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 77 -
AS QUEIMADAS
Sobre a pele africana e torturada
Da noite baixa, tépida, são chagas,
Que
tivesse rasgado a chicotada
De um malvado feitor, bufando pragas.
As queimadas se altiram. Jogam vagas
De fogo e fumo ao céu, numa trovoada.
Apoteose das chamas, rubras, magas,
Línguas-luz, devorando a derrubada!
A galharia uiva espavorida,
Estorce-se num grito lancinante. . .
M orre um pio final de ave ferida.
E a magnitude trágica e voraz
Do incêndio segue adiante, sempre adiante,
Desdobrando um lençol de brasa atrás.