Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
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E – soberano do infinito – o sol
Joga ondas de ouro pelo azul . . . Agora
Já cai a tarde...
Estua o futebol
E a cidade discute, torce e chora.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 71 -
AGOS TO
Dentro
dessa redoma sufocante
Que é o céu sujo e despótico de agosto,
A tarde tem um quê de atroz desgosto
Copia o ar de alguém febricitante.
Poeira e fumo se atiram contra o rosto
De um sol sanguinolento e trescaldante.
E
a paisagem tressua em sede, arfante,
impregna-a o odor de um corpo decomposto.
Tortura a vida uma opressão de aço,
Pesadamente, abate-se o ambiente,
Vence e sufoca o homem no mormaço.
Agosto é triste e envolve a alma do gente
No da saudade doloroso abraço,
Num torpor melancólico e pungente.