ANGÚS TIA CREPUS CULAR
Pôr-de-sol. Acinzenta-se a paisagem
Na indecisão das sombras e da luz.
Na mata, sobre a alfombra da folhagem,
Tristonhamente piam os nambus.
Os coqueiros embalam-se na aragem,
Sussurram, musicais, como bambus.
E além avulta a tétrica miragem
De uma árvore a agitar os braços nus.
Apenas um casebre põe no ambiente
A única nota humana de criaturas
Fumando a chaminé indolentemente.
Lenta penumbra vai galgando alturas
Enquanto nas barrocas, tristemente,
Gritam as angustiadas saracuras.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
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NO CUME
Subo a serra. (Nunca antes o fizera.)
Ofego e suo, e chego enfim ao pico.
Como me sinto! Largamente rico
Desta riqueza que aqui em cima impera!
Quanta luz ! Quanto espaço! O olhar estico
Nessas distâncias em que se abebera.
E fico assim, por muito tempo fico,
Num êxtase de sol e primavera.
Sondo as alturas, pátria de condores,
Afinco ouvidos a esses mil rumores
Subindo devagar de falda em falda.
É a poesia da serra, da altitude,
Onde, estendendo um beijo-beatitude,
Gostosamente grande, o sol escalda
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
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