Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 206 -
Já caminhei jornadas inteiras,
Ao léu da chuva, ao sol andei.
Não me
acolheram sombras fagueiras,
E, rotos, tinham tantas goteiras
Os tetos onde me refugiei!
Perdido às vezes por negras matas
Vim tropeçando pelos cipoais.
E na alva queda das cataratas
Em vez de espumas, em vez de pratas,
Só via abismos descomunais.
Desfiladeiros a cada passo
Se escancaravam sob meus pés.
E serpes longos, cortando o espaço,
M e ofereciam mortal abraço
No longo abraço de seus anéis.
E nessa luta, sempre guerreando,
Exausto e roto,
cheguei aqui
Já agonizante, senão eis quando
Sobre o horizonte, no céu brilhando,
Estrela d’alva te descobri.
E aos meus olhares onde só havia
Trevas, pavores em confusão,
Foi como aurora de um lindo dia,
Luz para o cego que se batia
Na sua tétrica escuridão.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 207 -
Depois, seguindo, passos incertos,
Ao clarão doce desse farol,
Eu fui fugindo
de tais desertos
Para cair nos braços abertos
Do teu amor – suave arrebol.
Encontrei nele quente agasalho,
M atei a fome do meu sofrer.
E para a sede encontrei orvalho,
Para os meus passos achei atalho,
Nada me resta mais a querer.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 208 -
O RIACHO
Esse que vês aí batido trilho
Serpenteando na relva, morro abaixo,
Vai terminar às margens do riacho,
De clara fonte liquefeito filho.
No manso leito,
murmurando baixo
Que mal se lhe ouça o tímido bisbilho,
Desce, beijando, num feliz idílio,
As flores marginais, pendendo em cacho.
Depois de encher as barrigudas tinas
Das boas lavadeiras tagarelas
Com a prata das águas cristalinas,
Vai rebrilhar ao sol, no pasto, em poças,
E, atravessando cercas e pinguelas,
Perde-se, após, em matagais e roças.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 209 -
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