Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 196 -
O PAPAGAIO
Borrifado de sol, na manhã quente,
Aos sopros matinais do
vento sul,
O garoto, orgulhosa e alegremente,
Larga o seu grande papagaio azul.
Sente-se eletrizado de contento
Ao vê-lo se librar, no alto, sereno.
De certo lhe há de vir
ao pensamento
Um belo e alado sonho extra-terreno.
Soltei, infantilmente, a fantasia
Que fosse doidejar no céu-poesia,
Pincelado de anil, da mocidade.
M as se improvisam vendavais rugindo
E lá se vai meu papagaio lindo
Ao látego brutal da tempestade.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 197 -
BERÇO
Placidamente, ingenuamente lindo,
Dorme o nenê, no esquecimento breve
De um sonho alado, angelical e leve...
É um anjo ou é um nenê que está dormindo?!
Dorme e sonha. Há um rumor macio e infindo
Na espuma dos lençóis que são
de neve
Quando sorri. . . e é um anjo que se atreve
Roçar-lhe os lábios ao passar, fugindo.
O berço é um trono que a candura zela
E numa graça angélica e infinita
Em brancuras de penas o reveste.
A inocência, ajoelhada ao lado, vela
O seu
rico tesouro que palpita
Na leveza de um sono azul, celeste.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 198 -
MANHÃ CAIPIRA
Aleluia de sol. M anhã na roça.
Polifonia de aves matinais.
O longínquo rumor de uma carroça
E mugidos amigos nos currais.
O charuto de fumo sobre a choça
Em grisalhas e lentos espirais.
E uma nítida voz,
suave e grossa,
Perdida na extensão dos cafezais.
Um perfume de flor de laranjeira,
O riso vegetal da trepadeira,
Cacarejos e pios no quintal.
Um gosto bom e forte de café;
A Cabocla feliz e já de pé
Com o milho no bojo do avental.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 199 -
Compartilhe com seus amigos: