Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 192 -
De se mostrar.
Por onde andará a brisa brincalhona
Que o faz cantar
ou gemer como sanfona
Ou, em surdina, soluçar?!
- O’ de casa?!
-
Pode entrar, dona Alegria.
- O’ de casa?!
- Pode entrar, dona Tristeza.
- O’ de casa?
- Pode entrar, dona Saudade.
Vieram as três.
M as uma de cada vez.
Veio a Tristeza e foi embora.
Veio a Alegria e foi embora.
Veio a Saudade e não quis ir.
E eu fiquei conversando com a Saudade
Na minha íntima casa de cidade.
Contou-me cousas que eu nem mais lembrava
Do “in illo tempore” da infância.
Então senti inveja daquela criançada
Que morava na gurilândia democrática
Da calçada.
E ela perguntou-me se eu queria
Ser de novo criança como aquelas.
Tive vontade de lhe não responder.
M alvada, essa dona Saudade,
torturando a gente assim sem mais nem menos.
- Desculpe, dona,
mas essas
Não são coisas de se fazer.
Abre-te, Sésamo!
Lino Vitti
- 193 -
Levou-me, depois, a um longo passeio
Pelo reino
encantado
Que existe mergulhado
No lago azul do passado. . .
“Psiu”. . . – Quem foi? Alguém?. . .
“Caramba! E que susto me pregou!”. . .
Oh! foi a lua, não há dúvida, foi ela,
Que está espiando com seus olhões indiscretos
Por detrás de uma copa pensativa;
Com aquela cara chinesa e amarela
Onde há um sorriso de escárneo
Repuxado
nos cantos do boca larga
Que parece que está rindo da gente
E dizendo: – “Pateta, que estás a sonhar?”
Fiquei com raiva e fechei a janela
Bem na cara dela.
Deitado, pus-me a cismar:
É sério, a lua tinha razão
Pois é melhor
sonhar dormindo
Do que sonhar acordado,
Porque, dormindo, é apenas sonho,
Acordado, uma ilusão.