Durante o ano de 2012, com o objetivo de unir a pesquisa científica no processo
ensino e aprendizagem, realizou-se o Projeto pedagógico de natureza interdisciplinar “Açaí:
identidade e sustentabilidade paraense”, na Escola de Ensino Fundamental e Médio Tenente
Rêgo Barros (ETRB), vinculada ao Primeiro Comando da Aeronáutica (COMAR I), em
Doutora em Desenvolvimento Socioambiental pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade
Pesquisadora do Grupo de Pesquisa sobre Populações Indígenas (GEPI) da UFPA. E-mail:
30780
A escolha do tema “açaí” se deve ao fato de que este é parte da identidade e cultura do
paraense. Existe como fruto nativo, desde outrora, fez e faz parte da alimentação de
populações indígenas e ribeirinhas. Posteriormente, passou a ser comercializado e,
recentemente, alcançou o mercado internacional. Atualmente, o açaí é parte da alimentação do
paraense e também é utilizado como alimento energético em outros estados brasileiros.
O açaizeiro, Euterpe oleracea Mart., é nativo da Amazônia brasileira e o estado do
Pará é o maior produtor natural dessa espécie de palmeira, como pode ser observado na
Figura 1. O açaizeiro também pode ser encontrado nos Estados do Amapá, Maranhão, Mato
Grosso, Tocantins e em países da América do Sul (Venezuela, Colômbia, Equador, Suriname
e Guiana) e da América Central (Panamá). Contudo, é na região do estuário do Rio Amazonas
que se encontram as maiores produções naturais dessa palmeira. O açaizeiro é, ainda,
principal fonte de matéria prima para a agroindústria de palmito no Brasil (EMBRAPA,
2012).
Figura 1 – Açaizeiro, E
uterpe oleracea Mart.
Fonte: Arquivo de Rosiane Gonçalves, 2012.
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O açaí, ao mesmo tempo em que, constitui cultura material do paraense, faz parte
também da cultura imaterial por meio de mitos, narrativas e lendas, da qual se destaca a
“lenda do açaí”. É um elemento formador de identidade, entendida antropologicamente como
o “reconhecimento de si mesmo” em contraposição a alteridade, que se refere ao
“reconhecimento do outro” (BRANDÃO, 1984; OLIVEIRA, 1976).
O açaí, portanto, constitui esse “elo” de ligação e pertencimento de pessoas à
sociedade paraense. É produto e produtor de relações novas entre indivíduo e sociedade.
Nessa relação, destaca-se a perspectiva de sustentabilidade, uma vez que, ao mesmo tempo
em que se pretende manter a reprodução do açaí, enquanto fruto, também se quer a
reprodução presente e futura de suas relações socioculturais (GONÇALVES, 2010; SOUZA,
2002).
A ideia de realizar um projeto pedagógico interdisciplinar sobre o açaí na ETRB
surgiu com a criação do Museu do Açaí, em 2011, pela Universidade Federal do Pará
(UFPA). O convite foi feito no mesmo ano e sua execução ocorreu em 2012. A proposta foi
capitaneada pela disciplina Sociologia e, posteriormente, estendeu-se as demais disciplinas do
Ensino Médio.
No âmbito do conteúdo programático trabalhado pela disciplina Sociologia, o projeto
abordou o Eixo temático “Cultura, Identidade e Diversidade Cultural”. O projeto, contudo,
por sua natureza interdisciplinar, fez interfaces com outros campos do saber, permitindo o
envolvimento das disciplinas História, Geografia, Filosofia, Biologia, Química, Física, Língua
Portuguesa, Educação Física e Artes.
Ademais, o trabalho com o açaí enquanto recurso e tema de pesquisa e ensino-
aprendizagem se fez necessário diante da realidade vivenciada pelos professores e alunos da
ETRB, os quais precisavam respectivamente, no seu fazer docente e vida discente, de
experiências que os envolvessem numa formação profissional e cidadã, alicerçada na pesquisa
científica.
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