partir.
– Sim, Nina. Venha, Índio, vamos nos preparar.
Nina chega à beira do rio e vê Débora sentada, perdida em seus
pensamentos, colocando pequenas folhas para boiar na fraca correnteza do
pequeno riacho que corta a aldeia.
– Débora?
– Oi Nina, sente-se!
– Desculpe-me incomodá-la, mas precisamos partir – diz Nina sentando-
se ao lado de Débora.
– Eu estava aqui pensando no meu filho. Sabe, Nina, estou mais tranquila
agora. Agora começo a compreender muitas coisas dentro de mim. A
saudade do Allan me dilacera o coração. Jurei que encontraria o meu filho
onde ele estivesse. Fico feliz por não tê-lo encontrado no Umbral. Espero
que ele esteja num lugar como este aqui. Um lugar lindo, com pessoas belas.
Não quero ser um peso para vocês. Se nossa busca tiver que terminar, não se
preocupe comigo. Aprendi a te respeitar e amar. Sabe, Nina, existem poucas
pessoas como você, aliás, como vocês, espíritos amigos que estão aqui
somente com a intenção de me ajudar. Eu estava me lembrando de quando o
Allan nasceu: ele ali no meu colo tão dependente de mim, tão frágil. Seu
cheiro, seu choro. Uma vida sobre a minha responsabilidade, tão dependente
de mim. Não sei se fiz a coisa certa. Eu deveria, talvez, ter ficado no interior
onde meus pais ainda vivem, lá a violência é menor. Talvez eu seja a maior
culpada por tudo o que aconteceu com meu filho, Nina.
– Você acha mesmo que errou?
– Às vezes me sinto culpada.
– Guarde em seu coração esse ensinamento: não cai uma folha de uma
árvore sem que Deus permita. Deus conhece Seus filhos como ninguém. Tudo
o que plantamos, colhemos. Assim, não se culpe e não pense no que você
poderia ter feito. Faça hoje o que você deseja que seja seu amanhã.
– Obrigada, Nina. Obrigada!
– Sei que é difícil. Ele sabe que é difícil, por isso tudo o que Ele criou
está interligado e se ajuda mutuamente. O Universo inteiro está se ajudando.
O mal só existe para que nós não nos esqueçamos de fazer o bem. Agora
vamos, porque os meninos estão nos esperando.
– Para onde vamos agora?
– Débora, reviramos todo o Umbral e o Allan não veio para cá; agora
vamos visitar algumas colônias espirituais. Vamos procurá-lo, e se Deus
permitir, vamos encontrá-lo.
– Vamos, Nina. Vamos logo, estou morrendo de saudades de meu filho.
Mas antes quero lhe contar um segredo.
– Conte.
– Nina, pode parecer bobagem o que vou dizer.
– Diga, Débora.
– Não sei se devo.
– Deixe de bobagens, estamos já há alguns dias juntas. Pode confiar em
mim.
– Nina, parece bobagem, mas o Allan tem um cheiro que só ele tem.
Sinto que ainda vou senti-lo pelo cheiro. Sinto a todo momento que o
encontrarei. Sabe, parece estranho o que vou falar, mas fico tentando sentir o
cheiro do meu filho. Filhos têm cheiro, Nina.
– Eu sei, eu também sinto saudades das crianças lá da minha colônia.
Realmente crianças têm um cheiro muito próprio.
– Fico com a sensação de que vou sentir meu filho pelo nariz. Estranho
isso, não é?
– Sim, isso é estranho.
– Parece coisa da minha cabeça, mas quando pego essas indiazinhas no
colo fico a cheirá-las para ver se encontro o cheiro do meu bebê.
– Deus vai lhe permitir encontrar-se com o Allan. Agora vamos.
– Sim, Nina – diz Débora se levantando.
Assim, Nina, Débora, Felipe e o Índio deixam os portões do Umbral e se
dirigem à colônia espiritual chamada Colônia da Regeneração.
A
Colônia da Regeneração
Colônia da Regeneração trabalha na recuperação de espíritos
que foram mutilados e sofreram algum tipo de acidente no qual
perderam partes do corpo enquanto estavam encarnados. A
mutilação física atinge o perispírito, que é o nosso corpo espiritual, aquele
que levamos para o mundo espiritual para podermos ser reconhecidos por
nossos familiares e amigos que foram antes de nós. Todos nós temos o poder
de, fluidicamente, condensarmos esses fluidos e levar conosco essa forma
física que muito nos será útil na erraticidade. Além de proceder com os
atendimentos fluídicos concentrados, terapias. Tudo com o intuito de
renovação do perispírito.
Nina, Felipe e Débora são recebidos por Marcondes, que é um dos
espíritos responsáveis por Regeneração. É ele quem coordena e fiscaliza a
chegada de novos pacientes que serão tratados nesta colônia.
Nina, Felipe e os demais chegam à colônia em um veículo que flutua e os
leva até o portão de entrada principal da colônia. Débora está admirada com
tanta tecnologia e beleza. Enquanto o veículo transita por uma estrada virtual
ela admira a paisagem colorida e bela. É como estar andando de avião, mas
está em um trem sem trilhos e rodas e extremamente silencioso. Todas as
paredes do veículo são de vidro transparente, inclusive o teto, permitindo
aos ocupantes admirar a beleza do lugar e a viagem.
– Nossa, Nina, que lugar lindo!
– Tudo por aqui é muito bonito, Débora. Vá se acostumando – diz Felipe,
ao se aproximar.
– Eu nunca poderia imaginar que as coisas fossem assim.
– Quando estamos encarnados somos cobertos pelo véu da ignorância.
Isso ocorre para que possamos buscar compreender nossas lutas diárias e
superá-las de forma evolutiva.
– Interessante! – diz Débora.
– Suas lutas diárias são necessárias para que possas tornar-se um
espírito melhor – diz Marcondes, abrindo os braços para abraçar Nina.
– Olá, meu nobre amigo! – diz Nina, retribuindo o abraço.
Felipe se aproxima e abraça Marcondes mesmo sem Nina ter se afastado.
– Abraços triplos são ótimos – diz o amigo, sorrindo.
– Venha, Débora, junte-se a nós neste caloroso abraço.
Acanhada e sem jeito, Débora se aproxima e é puxada por Felipe para o
fraterno abraço feliz.
– Que bom tê-los aqui! – diz Marcondes.
– Viemos à procura de um menino, filho de Débora.
– Qual é nome dele, Felipe?
– Allan, senhor, Allan com dois eles – diz Débora, nervosa.
– Vamos até minha sala, que irei olhar no prontuário dos últimos que
chegaram aqui – sugere Marcondes. – Ele desencarnou mutilado?
– Não – diz Nina.
– Mas é como se fosse, senhor. Ele levou um tiro na cabeça.
– Sim, tiros são mutilações que precisam ser tratadas – diz Marcondes,
gentilmente.
– Venham, vamos até minha sala.
– Sim, vamos – diz Nina.
– E então, como estão as coisas em Amor e Caridade, Nina?
– Muito trabalho.
– E aqui em Regeneração, como estão as coisas? – pergunta Felipe.
– Muito trabalho, meu amigo; como sabes, o planeta está se
transformando, e nós aqui trabalhando dobrado.
– Lá em Amor e Caridade não é diferente – diz o Índio.
– Pare de reclamar, amigo Índio – diz Marcondes.
– Não estou reclamando, é que estamos sobrecarregados mesmo.
– É verdade – diz Felipe.
– Mas todos nós fomos avisados pelo grande Arquiteto que este momento
seria de muito trabalho, mas que depois colheríamos os louros de nossa
vitória – diz Nina.
– Sim, colheremos com certeza. Nada aqui falha, tudo tem seu momento
certo para acontecer – diz Felipe.
Após caminhar, o grupo adentra um enorme galpão, muito claro
iluminado por luzes verdes e outras violetas.
– Venha, Nina, venham até minha sala, amigos – diz Marcondes
permanecendo de pé e indicando uma porta branca de uns dois metros de
largura por uns cinco de altura.
– Nossa, como é linda a sua sala, Marcondes! – diz Nina.
– Recebi a recompensa na reforma estrutural da colônia, e esta é minha
nova sala.
– Parabéns! – diz Felipe.
– Obrigado, amigo. Mas venham, sentem-se.
A sala tem aproximadamente trinta metros quadrados. As paredes são
pintadas de branco, combinando com os tapetes da mesma cor; e as poltronas
são de cor lilás. A mesa onde Marcondes despacha tem aproximadamente
cinco metros de comprimento por dois de largura. Há plantas com flores
amarelas e roxas que perfumam o ambiente.
– Lindo esse lugar! – diz Débora.
– Gostou?
– Sim. É muito lindo.
– Sente-se aqui, por favor, Débora – diz Marcondes, indicando-lhe uma
cadeira.
Todos se sentam. Marcondes, por meio de um aparelho colocado sobre
sua mesa, chama seu auxiliar.
– Sebastian, você pode vir até a minha sala, por favor?
– Sim, já estou indo – responde a misteriosa voz.
Logo o dono da voz misteriosa adentra o ambiente, cumprimentando a
todos. Alto, moreno de olhos azuis, muito bem vestido, Sebastian é gentil
com todos.
– Boa tarde!
– Boa tarde – respondem Nina, Felipe e os demais.
– Sebastian, a senhora Débora foi trazida por Nina, porque ela está à
procura de seu filho, Allan. Por acaso o filho dela está em nossa colônia?
Deu entrada aqui algum menino que desencarnou, baleado na cabeça?
– Infelizmente não. Ele não está aqui, Marcondes.
Débora fica frustrada com a informação.
– Nina, como podes ver, o menino não está aqui, infelizmente.
Débora coloca as mãos sobre o rosto e começa a chorar. Nina se levanta
e vai ao encontro dela.
– Não chore, Débora. O fato de Allan não estar aqui não modifica nada.
Vamos continuar a procurá-lo em outras colônias – diz Nina, carinhosamente.
– Perdoem-me minha fraqueza – diz Débora em lágrimas.
– Nós compreendemos sua situação – diz Marcondes.
– Prometi a meu filho que o encontraria onde quer que ele estivesse.
Tenho vergonha de incomodá-los com a minha dor.
– Não se sinta assim. Deixe-me lhe ensinar uma coisa – diz Marcondes
levantando-se. – Nada acontece sem a permissão do Criador. Se Nina,
Felipe e os demais estão envolvidos nessa missão é porque Ele permitiu.
Tudo está alinhado por Sua vontade. Tenha calma, fé e esperança, logo
acharás seu menino e tudo se esclarecerá.
– Obrigada, senhor – diz Débora.
– Obrigada, Marcondes – diz Nina.
– Obrigado por suas palavras, amigo – diz Felipe.
– Agora é melhor irmos embora, pois ainda temos muitas colônias para
visitar e encontrar o menino – diz o Índio.
– Tens razão, Índio – diz Nina, se levantando.
Débora se levanta, e com as mãos enxuga as lágrimas que cobrem seu
rosto e se apresenta disposta a seguir em frente.
Todos se levantam e se dirigem até a estação, acompanhados pelo amigo
Marcondes, que gentilmente caminha ao lado deles. A estação está lotada de
espíritos. Os veículos de transporte não param de chegar e sair trazendo e
levando espíritos trabalhadores da linda colônia chamada Regeneração.
– Querido amigo, obrigado por sua ajuda – diz Nina.
– Estarei sempre aqui lhe esperando para mais visitas, Nina.
– Obrigado, Marcondes – diz Felipe.
– De nada, amigo.
– Obrigada, senhor – diz Débora.
– Espero que encontre logo seu menino.
– Eu vou encontrá-lo, como prometi.
– Para onde vocês vão agora, Nina?
– Vamos para a Colônia Amigos da Dor, quem sabe o Allan não esteja
lá?
– Boa sorte, amigos!
Marcondes se despede acenando com as mãos, enquanto todos entram no
veículo de transporte.
Colônia Amigos da Dor
– Falta muito para chegar a essa tal colônia? – pergunta Débora.
– Vamos visitar a Colônia Amigos da Dor. Esse é o nome dessa tal
colônia.
– Desculpe-me, Nina.
– Por nada, Débora.
– Nina, será que lá eu consigo curar essa dor que rasga meu peito? Essa
dor que está me destruindo?
– Não é bem esse o objetivo desta colônia, vamos lá procurar pelo
Allan.
– Que tipo de colônia é essa?
– Essa é uma das mais antigas colônias sobre o orbe terreno. Eles
socorrem pessoas em igrejas, asilos, orfanatos e muitos lugares ligados à
Igreja.
– Quase nem agradeci ao Marcondes a gentileza de me receber com tanto
amor e carinho – diz Débora.
– Muito gentil o Marcondes – diz Felipe.
– Sim, ele é um anjo – diz Nina.
– Como assim, anjo? – pergunta Débora, assustada.
– Anjo no sentido de bondade, Débora – diz Felipe.
– Ah, sim, perdoem-me! Pensei que ele era um anjo com asas.
Todos riem.
– Venham – diz Nina.
Todos se acomodam e o veículo de transporte começa a se locomover
em direção à colônia solicitada.
– Nina, será que meu filho está nessa colônia?
– Não sei. Sinceramente acho que não, mas temos que ir até lá, preciso
ver uma velha amiga. Acho que ela pode nos dar uma dica de onde o Allan
possa estar.
– Por quê? – pergunta Débora.
– Como sabes, é na idade madura que passamos a compreender melhor
as coisas da vida. Essa colônia, além de tantos outros atendimentos, também
é especializada em atender aos idosos. Acredito que lá teremos informações
valiosas sobre o paradeiro de Allan.
– Explique melhor a ela, Nina, como trabalha a Colônia Amigos da Dor,
onde fica etc. – sugere Felipe.
– A Colônia Amigos da Dor encontra-se no norte de Minas Gerais e
extremo sul da Bahia. Sua especialidade é realizar o socorro a recém--
desencarnados. Os espíritos servidores dessa colônia prestam atendimento e
amparo em igrejas, santas casas de misericórdia, orfanatos, centros de
atendimento ao idoso, asilos e centros geriátricos, além de orfanatos. É uma
das mais antigas colônias em terras brasileiras – diz Nina, pacientemente.
A viagem é divertida e bela.
Após algum tempo eles finalmente chegam à colônia e são recebidos por
Lucília, sua dirigente e responsável.
– Nossa, a cada colônia que visito fico mais admirada com a beleza! –
diz Débora, encantada com o lugar.
– Lembra-se de que lhe falei para preparar-se para ver coisas
inimagináveis?
– Sim, me lembro, Nina. Eu só não imaginava que era tão lindo assim.
De pé na estação uma linda senhora de cabelos brancos, vestindo uma
túnica branca com detalhes em azul-claro e dourado espera pelos viajantes
com as mãos unidas sobre o peito num sinal de alegria e fé.
– Olhem, Lucília nos espera! – diz Nina, feliz.
Nina desce correndo do veículo e corre para abraçar a amiga anciã que a
espera.
Lucília é uma senhora de uns sessenta e cinco anos aproximadamente.
Cabelos brancos, um lindo sorriso e muito meiga e carinhosa com todos.
– Oi, minha menina! – diz a carinhosa amiga.
– Nossa, quanta saudade de você, Lucília! – diz Nina abraçando
fortemente a amiga.
– Eu também, meu doce! Como estão as coisas em Amor e Caridade?
– Tudo bem. Eu vim até aqui para lhe apresentar uma amiga que precisa
de seus conselhos.
– É aquela menina ali?
– Sim. Venha até aqui, Débora, por favor!
Débora se aproxima de Lucília, que carinhosamente a envolve em um
caloroso abraço.
– Estás à procura de seu filho?
– Sim, minha senhora. Como a senhora sabe meu nome e sobre a procura
do meu filho?
– Daniel me falou – diz Lucília.
Débora olha assustada para Nina que, com um gesto de mão, manda que
siga os conselhos de Lucília.
– Vamos caminhar, minha menina? Quero lhe mostrar nossa colônia.
Pode ser?
– Sim, se a senhora não se importa... – diz Débora.
– Nina, vou caminhar e conversar com a Débora. Mas antes, venha até
aqui, Felipe, quero lhe abraçar.
– Claro, Lucília! – diz Felipe, se aproximando.
– Lindo esse rapaz – diz a amiga.
– É verdade – diz Nina, orgulhosa.
– Estou muito feliz em tê-los aqui.
– Nós é que agradecemos essa oportunidade – diz Felipe.
Após abraçar Felipe, Lucília pega gentilmente no braço de Débora e a
convida a caminhar. O Índio assiste a tudo de longe.
– Crianças, me esperem na enfermaria número dois. Volto logo – diz
Lucília, se afastando.
– Sim, vamos para lá – diz Nina.
Após alguns metros caminhando, Lucília puxa assunto com Débora.
– Há quanto tempo seu filho desencarnou?
– Acho que há três dias, senhora.
– Tire-o “senhora”, por favor.
– Perdoe-me – diz Débora.
– E ele morreu de quê?
– Uma bala perdida.
– Não existem balas perdidas. Existem balas à procura do alvo.
– Como assim?
– Nada acontece sem a permissão de Deus. Já lhe explicaram isso?
– Sim, Nina já me falou sobre isso.
– Então a bala, supostamente perdida, estava à procura de seu filho.
– É muito difícil para mim acreditar nisso.
– Eu compreendo, quando cheguei aqui demorei também a compreender
as coisas dEle.
– Não consigo aceitar a morte do meu filho. Acho que Deus não foi justo
comigo. Ele era um menino tão bom, estudioso, meigo, chegou até a fazer um
poema para mim.
Débora começa a chorar.
– Não chore, menina. Me fale mais de seu filho.
– Ele nasceu de um romance que tive com um rapaz, meio sem querer,
mas eu o assumi e criava-o com todo o amor que tenho dentro de mim. Ele é
meu melhor amigo, meu companheiro, parceiro; enfim, tudo o que Deus tinha
de bom para colocar em alguém, Ele colocou em Allan.
– E você acha mesmo que esse Deus que lhe brindou com um menino de
ouro seria capaz de matá-lo?
– Eu já compreendi que ele não morreu. Eu só quero achá-lo e poder
abraçá-lo novamente. Dizer a ele que não tive culpa e que eu o amo muito,
muito mesmo. Sabe, minha vida não tem sentido sem ele.
– As almas combinam a viver experiências evolutivas. Eu mesma fui mãe
de três meninos e duas meninas.
– Nossa, sério?
– Sim, meus cinco filhos hoje são meus auxiliares aqui na colônia.
– Então é isso que quero. Eu quero encontrar o Allan e ficar ao lado dele
para sempre. A senhora entende?
– Sim, entendo, mas o tempo de Deus é um pouquinho diferente do nosso
tempo.
– Eu não consigo acalmar meu coração. Peço até perdão a Deus por ser
assim. Mas não dá, eu preciso do meu filho.
– Olhe para aquelas árvores ali – diz Lucília.
– Sim, são lindas.
– Está vendo?
– Sim, estou vendo aquelas árvores altas e outras pequenas ao lado.
– As árvores altas são as árvores adultas; as pequenas, ao lado, são
filhas das maiores.
– Sim, estou compreendendo.
– Observe que as árvores adultas, antes de serem adultas, foram árvores
pequenas, foram filhas.
– Sim, nascer, morrer e seguir, é isso?
– Sim, querida, ainda bem que você percebeu logo no início. Nascer,
morrer, renascer e progredir sempre, essa é a lei.
– Quer dizer que todos nós vamos renascer ao lado de nossos queridos?
– Exatamente como as árvores. Nascemos sempre próximos dos nossos
queridos para poder nos auxiliar mutuamente em nossa evolução.
– Quer dizer que o Allan pode nascer de meu ventre de novo?
– Sim, é isso. Se for de seu merecimento, ele volta aos seus braços.
– Mas como, se nem marido eu tenho? Eu não me casei.
– Ele providencia tudo. Não se desespere. Se você não encontrar com
seu filho aqui no mundo espiritual, ele vai achar você.
– Lucília, o Allan está aqui?
– Não, ele não está em nossa colônia. Não desanime, continue a procurá-
lo. Eu vou orar a Deus para que vocês se encontrem.
– Você vai fazer isso por mim?
– Sim, afinal você é amiga da Nina e eu a amo muito.
– Obrigada então por seus conselhos e suas palavras. Estou a cada dia
mais calma.
– Agora vamos nos encontrar com Nina e Felipe para vocês seguirem em
sua busca. Não se esqueça das minhas palavras.
– Quais são as palavras que eu devo guardar?
– Se você não encontrar seu filho, ele certamente encontrará você.
– Deus seja louvado e ouça suas palavras! – diz Débora abraçando
Lucília.
– Olhe, lá estão eles, venha – diz Lucília dirigindo-se à enfermaria.
Há várias enfermarias em Amigos da Dor. Milhares de espíritos
trabalham auxiliando os desencarnados. Todos têm um sorriso no rosto.
Todos são felizes na Colônia Amigos da Dor.
Após se despedirem carinhosamente de Lucília, Nina, Felipe, Débora e o
Índio deixam o lugar, levados pelo veículo de transporte.
Nina senta-se ao lado de Débora e puxa conversa.
– O que Lucília lhe disse, Débora?
– Disse-me lindas palavras. Ela é um anjo, não é, Nina?
– É como se fosse. Na verdade, as colônias são dirigidas por espíritos
que já alcançaram um estágio muito alto na escala evolutiva.
– Existe uma escala evolutiva?
– Não é bem uma regra nem uma escala.
– Como é, então?
– Nós, espíritos, estamos predestinados a evoluir. Por meio das
encarnações sucessivas, vamos nos melhorando e atingindo assim patamares
evolutivos que ainda não compreendemos. Quando atingimos determinados
valores espirituais somos convidados a cuidar dos espíritos que estão nesta
busca evolutiva, entende?
– Sim, entendo. É como se fosse uma escola, à medida que aprendemos
podemos ensinar.
– Muito bem, Débora, é isso – diz Nina, sorrindo.
– Olha gente, que lindo! – diz Débora olhando para fora.
Uma chuva de asteroides cobre todo o céu lindo e azul onde o veículo
transita.
– Sim, Ele é perfeito – diz Nina.
– O que é isso, Nina? – pergunta Débora, deslumbrada com a imagem.
– Chuva de estrelas.
– Nossa, como é lindo!
– Na verdade, são milhares de meteoros que surgiram após uma
explosão. E ficam vagando pelo espaço como chuva de luz. Pequenos e
grandes pedaços clareiam o céu escuro dos planetas distantes.
– Gente, mas são milhares! – diz Débora.
– Milhares não, Débora, milhões! – corrige Felipe.
– Nina, para onde estamos indo agora?
– Estamos indo para a Colônia Redenção.
– Será que, finalmente, acharemos o Allan?
– Não sei, mas vamos tentar – diz Nina.
Colônia Redenção
– Olhe, Débora, essa é a nossa próxima parada.
– Que lugar lindo!
– Essa é a Colônia Redenção – diz Felipe.
– E para que ela serve? Qual é o trabalho feito aqui?
– Explica para ela, Nina, por favor – pede Felipe.
– O melhor disso tudo é que você já compreendeu que cada colônia tem
uma finalidade, um objetivo. Que bom, Débora! Fico muito feliz.
– Isso eu já pude observar, Nina, agora começo a compreender algumas
coisas de Deus. Agora compreendo que nada se perde, tudo está interligado.
Quando deixamos a vida corpórea podemos, sim, ser úteis às coisas de
Deus. Embora não esteja me sentindo morta, não sei bem explicar o que está
acontecendo comigo.
Nina e Felipe se entreolham. E Felipe diz:
– Que bom, não é, Nina?
– Sim, que bom, Débora! – diz Nina aproximando-se de Débora. – Mas
deixe-me lhe explicar um pouco sobre essa colônia. Débora, essa colônia
realiza um grande trabalho em laboratório fluídico por intermédio de seus
socorristas na Terra. Aqui, se trabalham as formas fluídicas que são
utilizadas sobre o orbe terreno. Essa colônia é uma grande referência no
mundo espiritual. Foi aqui que quase tudo começou, há arquivos das mais
lindas histórias e exemplos de amor que o mundo espiritual já viu,
começando pela história de Jesus em cenas vivas. Tudo na Criação parte do
princípio fluídico. Tudo na Criação passa por aqui.
– Quer dizer que a primeira coisa a ser criada foram os fluidos?
– Exatamente, Débora, exatamente. Tudo começou com a criação dos
fluidos que ao se condensarem e se misturarem criaram formas animando
todas as coisas que existem; assim, tudo o que você vê, toca ou sente e
percebe, partiu do princípio fluídico criado por Deus.
– Nossa, que coisa interessante! – diz Débora.
– Apesar de viver em uma comunidade humilde e ser uma pessoa
humilde, você consegue compreender tudo o que está vendo e sentindo aqui,
não é, Débora? – diz Felipe.
– Não tinha me atentado para isso – diz Débora, surpresa.
– Quando estamos na condição espiritual, que é seu caso agora, juntamos
tudo o que já aprendemos nas existências anteriores. E assim conseguimos
viver melhor aqui no mundo espiritual. Somos a soma de tudo aquilo que já
experimentamos.
– Mas eu não me lembro de nenhuma vida anterior.
– Você ainda não se lembra. E isso é porque ainda não chegou a hora
certa de lembrar-se. Quando for o momento oportuno, recordará de todas as
suas vidas anteriores, ou melhor dizendo: você vai se recordar de todas as
coisas que lhe ajudaram a chegar ao estado em que se encontra agora.
– Não sei se quero me lembrar de minhas vidas passadas, Nina.
– Por quê?
– Na verdade, tenho medo de me lembrar de coisas horríveis pelas quais
eu possa ter passado ou até mesmo que eu tenha praticado para chegar até
aqui.
– As coisas terríveis não nos são úteis. E delas não nos recordaremos.
– Como assim, Nina?
– Só trazemos para a existência atual as boas lembranças. Coisas que nos
foram úteis para nossa evolução. Existem experiências que são
desnecessárias, e estas são esquecidas.
– Quer dizer que o Allan não vai se lembrar que foi assassinado?
– Se isso lhe for útil ele recordará, mas se nada acrescentar à sua
evolução ele não se lembrará.
– Quer dizer que se alguém me matou ou me feriu gravemente me levando
à morte eu não vou me lembrar?
– Primeiramente, a morte não existe. Segundo, se alguém lhe fez algum
mal é porque lhe foi permitido fazer-lhe o mal. Às vezes, o que achamos que
é mal, na verdade, é um ajuste de nossa existência anterior. Um acerto de
contas, se assim podemos dizer...
– Justiça divina...
– Boa, Felipe. Justiça divina – diz Nina.
– Estou começando a me animar com a morte – diz Débora.
Todos riem.
– Do que é que vocês estão rindo?
– Você é engraçada, Débora – diz o Índio.
– Mas estou falando sério. Agora, por exemplo, me sinto mais viva do
que nunca. Sinto minhas pernas, meus braços, minha língua, minha cabeça,
enfim, sinto meu corpo todo. Como se eu estivesse viva. Logo, o que achava
que era morte não existe. Então, por que me preocupar tanto com a vida?
– É por meio da vida que você alcança lugares melhores aqui, Débora. É
somente vivendo encarnados que adquirimos créditos para desfrutarmos de
uma existência plena. A encarnação é, na verdade, a grande escola que
aperfeiçoa o espírito.
– Ah, então é por isso que o Umbral está cheio de gente sofrendo.
– Isso, menina! O Umbral é o lugar onde ninguém quer viver. Lá, ficam
todos aqueles que pecaram contra a própria vida. Ou que se utilizaram da
oportunidade da encarnação para produzirem o mal. É um filtro depurador.
– Assim como eu.
– Mais ou menos – diz Nina.
– Mas eu tomei remédios para morrer. E morri; ou será que não morri?
– Depois lhe explico essa parte – diz Nina, colocando o braço sobre o
ombro de Débora, convidando-a a sair do veículo.
– Venha, Débora, vamos procurar pelo Douglas.
– Quem é esse Douglas?
– É o meu amigo dessa colônia. É ele que nos espera – diz Felipe.
– Nossa, quero ser como vocês! – diz Débora, feliz.
– Por que, Débora?
– Vocês têm amigos em todos os lugares.
(Risos)
– Vou lhe ensinar outra coisa, Débora.
– Diga, Nina.
– Nós, filhos do Criador, temos uma existência infinita pela frente. Aqui
não contamos anos e tampouco fazemos aniversário. Tempos? Não contamos,
somos eternos. Por isso temos tantos amigos espalhados pelos quatro cantos
deste planeta.
– Nossa, não vejo a hora de contar tudo isso para o Allan.
– Se tudo der certo, em breve você poderá contar tudo isso ao seu filho.
– Sabe, Nina, estou muito mais calma. Agora posso compreender que
existe um Deus que tem muito amor para me dar. Começo a me achar egoísta.
– Por quê?
– Por que querer o Allan só para mim? Por que não reparti-lo com Deus?
– Você já repartiu seu filho com Deus quando gerou-o em seu ventre e o
amou, acima de tudo.
– Você acha?
– Sim, Deus é amor. E é pelo amor que nos aproximamos dEle. É pelo
amor que você sente pelo seu filho que estamos aqui. E se Ele assim
permitir, em breve nós o encontraremos e terminaremos essa missão.
– Não sei por que vocês apareceram na minha vida, mas quero lhes
agradecer por tudo – diz Débora abraçando Nina.
– Nós é que agradecemos essa oportunidade evolutiva – diz o Índio.
– Venha, Felipe, vamos procurar pelo Douglas.
– Sim, vamos.
Nina, Felipe, Débora e o Índio seguem caminhando pelo lindo campo
florido em direção ao edifício central onde ficam as enfermarias, os
laboratórios e a administração da colônia.
Após a reunião com Douglas e demais dirigentes, desapontados, eles
voltam ao veículo de transporte e decidem se dirigir para a Colônia
Espiritual Amor e Caridade.
D
Colônia Espiritual Amor e Caridade
ébora está sentada à janela do veículo, e seus pensamentos se
perdem na beleza do lugar. Cores, aves, nuvens com tons lilás e
violeta cercam toda a Colônia Amor e Caridade. Seu peito se
enche de esperança quando se aproximam do lugar e ela pode ver centenas
de crianças brincando nos parques espalhados pela colônia.
Uma empolgação invade seu coração e a certeza de que seu sofrimento
está chegando ao fim.
– Nina, essa é sua colônia?
– Sim, Débora, essa é a Colônia Amor e Caridade.
– Ela é linda como todas as outras. Mas tem algo de diferente.
– Sim, aqui temos muitas crianças.
– Exatamente isso que pude observar. Muitas crianças! Por que somente
aqui eu vi crianças?
– É nossa especialidade. Aqui em Amor e Caridade recebemos as
crianças vítimas de câncer que desencarnam nos hospitais do Brasil.
– Nossa! Que legal!
– Sim, a Colônia Amor e Caridade é muito legal!
– Nina, por acaso vocês não recebem baleados?
(Risos)
– Débora, só mesmo você para fazer piada com a sua dor – diz Nina,
sorrindo.
– Estou brincando, me sinto bem aqui. Sei lá, sinto uma paz enorme
invadindo meu peito.
– Vou levar você a uma de nossas enfermarias para ver as crianças,
depois você pode descansar um pouco.
– É, Nina, acho que é disso que estou precisando: descansar...
– Já estamos nos aproximando da estação de desembarque. Felipe, você
pode levar Débora para uma de nossas enfermarias para ela descansar?
– Claro que sim, Nina.
– Você não vai ficar comigo, Nina?
– Não, Débora, vou procurar por nosso dirigente para saber notícias de
Allan e logo depois vou à enfermaria falar com você. Assim que terminar
meu assunto com ele, procuro por você, pode deixar.
– Estou sonolenta mesmo, embora curiosa. Será que o Allan está aqui?!
– Não, aqui tenho certeza que ele não está. Se tivesse vindo para cá, não
teríamos tido todo esse trabalho de procurá-lo pelas colônias que já
visitamos. Mas tenho esperanças de que Daniel saiba alguma coisa.
– Quem é esse Daniel?
– É o presidente de nossa colônia.
– Ah, desculpe, você já havia me falado.
– Sem problemas.
– Nina, posso lhe pedir uma coisa?
– Sim, Débora.
– Posso descansar primeiro e depois ver as crianças? É que estou muito
cansada, me sinto sonolenta.
– Vá com o Felipe e descanse. Depois eu mesma levo você para ver as
crianças.
– Obrigada, Nina.
O veículo estaciona na estação.
– Agora vá com o Felipe e descanse. Índio, obrigada mais uma vez – diz
Nina, afastando-se do grupo.
– De nada, Nina, quando precisar é só chamar – diz o Índio.
– Ei, você não vai se despedir de mim? – diz Débora.
– Ainda não, senhora. Nos veremos em breve.
– Tá bem, Nina. Mesmo assim, obrigada por tudo, amigo Índio.
– De nada, senhora – diz o Índio se afastando do grupo.
Felipe leva Débora para repousar em um dos leitos da enfermaria
número três, enquanto Nina se dirige apressadamente ao gabinete de Daniel.
Após caminhar alguns minutos, Nina chega ao prédio onde Daniel
despacha durante todo o tempo. Ela é recebida pelo assessor de Daniel e seu
melhor amigo, o Marques.
– Oi, Marques!
– Oi, Nina! Tudo bem? Que saudades!
– Sim. O Daniel está aí? Ah, perdoe-me, Marques, mas eu também estava
com saudades de você.
– Sim, ele está. Você quer falar com ele?
– Gostaria, se for possível.
– Venha, eu a acompanho até seu gabinete.
Nina e Marques se dirigem à sala de Daniel. Delicadamente Marques
bate à porta pedindo permissão para entrar.
– Entrem Marques e Nina!
Nina entra na frente e logo se dirige para falar com Daniel.
– Boa tarde, Daniel!
– Olá, Nina, sente-se, por favor!
Nina senta-se em uma confortável cadeira branca colocada à frente do
respeitado mentor.
– Como foi sua experiência nas colônias visitadas?
– Muito gratificante, Daniel. Como sempre, somos bem recebidos nas
colônias irmãs aqui do Brasil.
– Somos sempre bem recebidos em todas as colônias do orbe, Nina –
afirma o sábio Daniel.
– É muito bom experimentar tudo isso – afirma a jovem.
– O que lhe traz aqui?
– Eu, Felipe e o Índio levamos Débora para algumas colônias para ver
se encontramos seu filho, o Allan, mas confesso que não sei onde o menino
está. Gostaria muito que você me ajudasse a encontrá-lo.
– Vou pedir ao Marques que faça uma busca em todas as colônias
possíveis. Tenho certeza que isso vai lhe ajudar. Agora vá descansar um
pouco. Assim que tiver alguma notícia, eu lhe chamo.
– Nossa, obrigada, Daniel!
– De nada, Nina. Agora vá. As crianças estão saudosas.
– Obrigada, querido mentor – diz Nina levantando-se e saindo da sala.
Daniel volta a seus afazeres enquanto Débora dorme se recuperando.
Nina e Felipe voltam às suas rotinas diárias em Amor e Caridade.
Após dois dias Daniel chama Nina e Felipe para uma conversa sobre o
paradeiro de Allan.
Apressadamente Nina chega ao gabinete do mentor.
– Oi, Daniel, você mandou me chamar?
– Sim, Nina. Como está Felipe? – diz Daniel de pé.
– Bem, Daniel, muito bem!
– Sente-se – convida Daniel, indicando duas cadeiras colocadas à frente
de sua mesa.
Todos se sentam.
– Nina, o Marques fez a busca solicitada para descobrir o paradeiro do
menino Allan. Não obtivemos respostas satisfatórias até o momento.
– Meu Deus! Como assim, ainda não o encontraram? – diz Nina.
– Existem mistérios que até mesmo os espíritos mais evoluídos ainda não
sabem responder, Nina – diz Daniel.
– Perdão, Daniel.
– Não há o que perdoar.
– Mas Daniel, que mistério é esse? – pergunta Felipe.
– Não existe mistério algum, Felipe. Simplesmente ainda não tenho a
resposta apropriada para vocês, é só isso – diz Daniel.
– Perdoe-me, Daniel – diz Felipe.
– Olha, tenho uma nova missão para vocês.
– Diga, Daniel – responde Felipe.
– Como pudemos acompanhar até agora, o corpo de Débora está sendo
mantido por aparelhos lá no hospital. Ela ainda não está morta. Seu espírito
está tendo essa oportunidade evolutiva a nosso lado. Laços fluídicos ainda a
mantêm ligada a seu corpo, por esse motivo ela se sente tão cansada e
precisa de descanso para se refazer. O pessoal da enfermaria número três
está fazendo sua parte.
– Sim – diz Nina.
– E como todos nós sabemos, enquanto o corpo se mantém vivo o
espírito se mantém ligado a ele por pequenos laços fluídicos. Mas é chegado
o momento de interferirmos para que esses laços não se percam, pois para
tudo existe um tempo hábil.
– Sim, Daniel, sabemos disso. Ela não pode ficar tanto tempo afastada de
seu corpo.
– Pois bem, Nina e Felipe, prestem muita atenção, por favor: Débora
está pagando um preço muito alto por ter tentado contra a sua própria vida.
Nós sabemos que quando o espírito tenta tirar sua vida ele tem que ajustar-se
e arcar com as consequências de seu ato. Somos nós os responsáveis por
todas as nossas atitudes, atos e por nossos pensamentos. Débora é um ser
muito especial para nós aqui da colônia. Embora vocês ainda não saibam,
ela está em missão com o espírito do menino Allan; portanto, eles precisam
cumprir o que está determinado, o que eles mesmos combinaram. Vocês
receberão as instruções que lhes serão passadas pelo Marques de como
deverão proceder daqui por diante.
– Faremos o que for necessário para ajudar Débora e o Allan – diz Nina.
– Tenho certeza disso, Nina. Agora vocês precisarão voltar até o
hospital onde Débora está internada e aplicar-lhe passes fluídicos. Eu
mesmo vou até a enfermaria prepará-la para a sua volta ao corpo físico.
Intua os médicos a reduzirem a medicação forçando a volta de Débora. Ela
tem que sair do coma.
– Então ela não vai desencarnar?
– Não, Nina, Débora vai sair do coma e terá uma nova oportunidade.
Tudo o que ela viveu nesses dias com vocês, todas as experiências, já estão
introduzidas no seu subconsciente e ela vai se lembrar de algumas coisas,
como se fosse um sonho; isso lhe fará modificações que lhe serão muito
úteis. Espero que ela viva uma vida de bondade e amor, sem a companhia do
menino Allan.
– O tempo que ela ficou em coma lhe trará algum problema físico,
Daniel?
– Nada relevante. Ela será assistida e ajudada.
– Está bem, Daniel; são essas as recomendações?
– Sim, Felipe.
– Estamos aqui para auxiliar – diz Nina.
– Obrigado.
– Daniel, me perdoe, mas só para que eu me tranquilize, em quantas
colônias o Marques procurou pelo Allan?
– Em todas onde ele pudesse estar, Nina.
– Você pode nos dar os nomes, Daniel? Claro, se você não se incomodar.
– Sim, Felipe, claro que sim. Anota aí! Colônia Arco-Íris; Colônia Raios
do Amanhecer; Colônia Bom Retiro; Colônia Padre Chico; Colônia da Praia;
Colônia Nova Esperança; Colônia das Águas; Colônia Morada do Sol;
Colônia das Flores, nossa coirmã; Colônia Gramado, e seus núcleos de
atendimento socorristas, entre eles as colônias “Das Orquídeas”;
“Girassóis”; “Do Guaíba” e “Estrela D’alva”; Colônia das Rosas; Colônia
Estudo e Vida; Colônia das Violetas; Colônia do Sol Nascente; Colônia do
Abacateiro; Colônia do Rouxinol; e Colônia do Moscoso. Além dessas, é
claro, ele pediu informações a outras colônias. Ele visitou a Colônia
Socorrista Moradia; Colônia Campo da Paz; Casa Transitória de Fabiano;
Colônia da Música; Colônia Espiritual de Eurípedes Barsanulfo; Colônia
Alvorada Nova; Colônia Casa do Escritor; Colônia Triângulo Rosa e Cruz;
Sanatório Esperança Moradias; Colônia Porto da Paz; Instituto de
Confraternização Espírito Meimei; Colônia A Cruzada; Colônia
Gordemônio; Colônia da Redenção; Colônia Amor e Luz e algumas outras
que vocês ainda não tiveram a oportunidade de conhecer. Sem falar daquelas
que vocês visitaram.
– Caramba, ele trabalhou bastante, não é?
– Marques tem seus auxiliares, assim como vocês; e além de tudo as
colônias estão interligadas assim como as cidades do mundo material – diz
Daniel.
– Daniel, posso lhe fazer outra pergunta?
– Sim, Nina, claro que sim!
– O fato de termos feito toda essa viagem com Débora à procura de seu
filho durante seu estado de coma é algo que eu ainda não havia
experimentado. Qual o objetivo disso?
– Débora, como todos sabem, passa por uma prova muito difícil; se nós
não tivéssemos feito tudo isso que fizemos não teríamos introduzido essa
experiência no seu subconsciente, provavelmente ela tentaria novamente o
suicídio. A misericórdia divina nos permitiu auxiliá-la neste momento tão
complicado de sua encarnação atual.
– Quer dizer que quando encarnados, as experiências vividas fora do
corpo, nos sonhos, nas visões etc., têm relevância na existência atual?
– Já não dissemos que nós, os espíritos, influenciamos muito os
encarnados mesmo sem que eles percebam?
– Sim, sabemos disso – diz Felipe.
– Pois bem, podemos influenciar muito mais do que eles podem perceber
ou imaginar.
– Ainda bem que nós só utilizamos a influência para enriquecer os
espíritos em sofrimento – diz Nina.
– Sim, minha querida, nós, de Amor e Caridade, além de ajudarmos
aqueles que chegam aqui em dor, auxiliamos aos encarnados em
pensamentos. Somos responsáveis por tudo aquilo que semeamos, inclusive
os pensamentos. Muitas vezes a influência muda destinos.
– Glória a Deus! – diz Nina.
– Sim, graças ao Senhor que permite que auxiliemos a todos os
necessitados – diz Felipe.
– Obrigada pela paciência, Daniel.
– De nada, Nina. Agora se preparem e sigam as recomendações que lhes
dei.
– Daniel, posso lhe pedir outra coisa?
– Sim, Nina.
– Você pode fazer uma prece para a Débora? Mas antes, tem uma coisa
que muito despertou minha curiosidade.
– O que foi, Nina?
– Aquele encontro do Allan com seu pai no passeio da escola... Qual foi
o motivo daquele encontro?
– Quem pediu socorro para João Carlos? Quem foi que saiu correndo
para chamar a ambulância?
– O menino, ora! – diz Felipe.
– Ajustes, Felipe, ajustes – diz Daniel.
– Mas que tipo de ajuste, Daniel?
– Por vezes precisamos ajustar pequenas diferenças que foram deixadas
para trás na existência anterior. O menino Allan simplesmente retribuiu o
gesto de amor e bondade que João Carlos lhe fez ao dar-lhe aquela
existência, afinal foi ele quem forneceu os elementos que proporcionaram a
vida de Allan. Se João não tivesse tido um romance com Débora, Allan não
existiria.
– Quer dizer que foi um ajuste de contas?
– Sim, Nina, um simples gesto de amor e caridade que salvou a vida de
João.
– Vai entender! – diz Felipe.
– Felipe, há muitos mistérios que nós ainda não entendemos – diz Daniel.
– Do alto de sua luz ainda existem coisas que você não sabe, Daniel?
– Muitas coisas, Nina. Pois acima de mim existem espíritos ainda mais
iluminados.
– Isso só nos mostra o quanto ainda temos que trabalhar, não é, Nina?
– Sim, Felipe, ainda temos um longo caminho pela frente.
– Não desanimem. Existem milhões de espíritos em condição muito
inferior à de vocês.
– Ah, isso é verdade – diz Felipe.
– Daniel, você pode fazer a oração que lhe pedi? – diz Nina.
– Claro que sim, vamos orar...
Nina, Felipe e Daniel ficam de pé e se dão as mãos.
Daniel fecha os olhos e começa a proferir uma linda prece:
Compartilhe com seus amigos: |