parte, só não entendi o porquê das crianças.
– Crianças também cometem erros, senhora. Embora elas sejam
assistidas por iluminados, muitas vezes optaram por estarem juntas desses
que estão aqui, para auxiliá-los a suportar esse lugar. Lembre-se sempre,
Débora, Deus é amor e tudo permite a Seus filhos para que se tornem
espíritos melhores. O que achamos ou imaginamos ser dor, na verdade é uma
oportunidade evolutiva, já que somos eternos e temos uma eternidade pela
frente. Se imaginares que o que chamas de dor é passageiro e o sofrimento
não é eterno, entenderás que é por meio das provas, do sofrimento e das
transformações que alcançamos nossa evolução pessoal. Ninguém evolui por
ninguém. A evolução é uma condição do espírito. As encarnações e
desencarnações são o instrumento mais justo para aquele que busca
incansavelmente seu lugar no todo.
– Somos parte do todo – diz Felipe.
– Agora entendi, quer dizer que esses filhos optaram por ficar próximos
aos seus pais para auxiliá-los nessa caminhada evolutiva.
– Sim, são espíritos evoluídos que não se importam em que lugar vão
viver, eles simplesmente se importam em auxiliar os espíritos que eles
aprenderam a amar por meio das encarnações.
– Será isso o que acontece comigo e com o Allan?
– Só saberemos isso quando o encontrarmos. Ou se algum iluminado nos
revelar.
– Os iluminados sabem de tudo?
– Não, Débora, ninguém sabe de tudo – diz Nina.
– Só quem sabe de tudo é Ele, o Criador de todas as coisas, eu já lhe
expliquei isso – diz Felipe.
– Nossa, estou aprendendo tanto com vocês! – diz Débora.
– Nós também estamos aprendendo com você, Débora – diz Nina.
– Quem sou eu, Nina, para lhe ensinar alguma coisa?! – diz Débora,
envergonhada.
– Estamos sempre aprendendo, Débora – diz Felipe.
– Eu já aprendi com você, Débora, que não devemos desistir nunca. Que
as adversidades que se apresentam em nossa vida, na verdade, são
oportunidades, e que quando desejamos, o Universo inteiro conspira a nosso
favor. Tenho certeza que vamos encontrar o Allan e descobriremos por que
estamos todos envolvidos uns com os outros – diz Nina.
– Eu não sei o que dizer, Nina, só quero agradecer a Deus por permitir
estar esse tempo ao lado de vocês. Obrigada a você, Nina, Felipe, ao amigo
Índio e a você também, Negro – diz Débora, emocionada.
– Obrigado – diz o Negro.
Todos se abraçam e decidem continuar a busca.
Após caminharem por mais um dia, finalmente chegam aos portões do
lado sul do Umbral.
– Vamos esperar aqui. Índio, vá à frente e veja se podemos nos
aproximar – diz Nina.
– Espere, eu já volto – diz o Índio.
– Nina, posso lhe perguntar uma coisa?
– Sim, Débora.
– Por que esse índio ainda vive vestido de índio? Desculpe-me, mas é
que já percebi que tenho minha forma, a mesma de quando eu vivia.
– Aqui no mundo espiritual aproveita-se o que há de melhor nos
espíritos, Débora.
– Como assim?
– Débora, qual é a melhor parte de um dentista?
– A profissão de dentista, é claro!
– Qual é a melhor parte de um músico?
– Seu talento para a música, é claro!
– Aquilo que de melhor fazemos é o que trazemos para cá. Aqui existem
médicos, enfermeiros, engenheiros, dentistas, maquinistas, músicos; tudo
continua, de uma forma diferente, é claro. Mas Débora, aqui você vai usar o
que de melhor você tem para alcançar sua evolução, e além de tudo tem o
seu livre-arbítrio que lhe permite ser quem você é ou foi. Você pode
escolher, por exemplo, ser uma marquesa ou uma duquesa, se assim lhe foi
permitido ter sido em outra encarnação. Se nós não acharmos o Allan na ala
sul, provavelmente teremos que ir para as outras colônias, e lá você poderá
compreender melhor o que estou tentando lhe explicar. Você vai
compreender por que o Índio ainda é o índio.
– Olha, posso parecer burra, mas estou começando a gostar muito disso
aqui. Imagina, se fui uma marquesa, posso viver como marquesa?
– Sim, se for útil para você e para todos aqueles que necessitam de você.
Embora pareça que podemos realizar todas as nossas vontades, não podemos
nos esquecer de que aqui no mundo espiritual, assim como na vida material,
existem regras, leis que precisam ser seguidas. Lembra das regras?
– Sim, claro que sim – diz Débora.
– Nunca se esqueça delas. Elas são muito importantes aqui.
– Entendi perfeitamente, Nina. Obrigada por sua explicação. Posso fazer
outro comentário?
– Sim, claro que sim, Débora.
– Eu não conheci outra forma do Índio, mas que ele é lindo como índio,
ah, isso é.
Todos riem de Débora.
– Olhem, falando nele, lá vem ele chegando.
O Índio se aproxima do grupo, montado em um lindo cavalo marrom.
– Podemos ir, Índio?
– Sim, Nina, todos já estão a nos esperar.
– Venha, Débora, e pare de paquerar o Índio – diz Nina.
Todos riem. O Índio fica sem entender nada.
– Gente! Onde é que você arrumou esse cavalo, amigo Índio?
– Ele é meu companheiro aqui.
– Lindo o seu cavalo!
– Obrigado.
O muro que separa o lugar é alto, tem aproximadamente sete metros de
altura. Há um grande portão de madeira negra. Algumas imagens estão
entalhadas como obras de arte na parte principal do portão.
Débora fica impressionada com a beleza do lugar. Ao passarem pelo
portão uma linda mata se apresenta aos olhos de todos. Árvores gigantescas
cobertas de folhas verdes, riachos e uma pequena cachoeira se apresentam
ao olhar de todos.
Há uma aldeia de índios. Crianças correm em direção a Nina, que os
recebe com um grande e caloroso abraço.
O Umbral fica para trás. Aquele local se transforma em um belo e
refrescante lugar. Podem-se ouvir pássaros a cantar e animais a rosnar.
Ouvem-se gritos de macacos, e borboletas enfeitam ainda mais a visão de
Débora.
– Venha, Débora! – convida Nina.
– Nina, que lugar lindo é esse?
– Aqui é a entrada e saída sul do Umbral. Esses índios vivem aqui,
porque escolheram ser os guardiões do portão sul.
– Agora posso compreender por que o Índio continua sendo índio – diz
Débora.
– É verdade! Olha esse lugar, olha essa vida. Se a melhor parte deles foi
a parte de índio, por que desprezá-la? Por que não viverem eternamente
auxiliando a todos aqui como guardiões dos portões do Umbral? – diz Nina.
– Compreendi agora perfeitamente o amor de Deus, Nina.
– Que bom, Débora! Que bom que você está compreendendo tudo – diz
Nina. – Venha, vamos até a oca central.
– Sim, vamos.
Débora, feliz e encantada, se mistura às índias e sorri como nunca. Feliz,
ela até esquece o porquê de estar ali.
Alguns dias se passam. Débora toma banho de rio com Nina e as
crianças. Diverte-se e se sente como uma índia feliz e radiante com as
descobertas que faz.
Nina e Felipe estão conversando, quando são interrompidos pelo Índio.
– Com licença, Nina.
– Sim, amigo, o que houve?
– Precisamos partir. Daniel nos permitiu visitar outras colônias à
procura do menino Allan. E já é hora de partirmos.
– Sim, vou avisar Débora – diz Nina. – Felipe, apronte tudo, vamos
Compartilhe com seus amigos: |