Ainda que a vida me mostre escuridão, há uma luz que nunca vai se apagar
em mim.
Osmar Barbosa
D
A vida em outra vida
ébora acorda atordoada e confusa. Parece que dorme acordada.
O lugar é escuro. Uma chuva fina molha seu corpo, jogado ao
chão lamacento. Alguns espíritos estão à sua volta olhando-a
fixamente. Ela então se assusta com aqueles espíritos.
– Meu Deus, que lugar é esse?! Onde estou? Socorro!
Tenta se levantar, mas suas pernas estão fracas. Sua mente está confusa,
seu corpo está molhado. Ela sente frio.
“O que faço aqui?”, pergunta a si mesma, evitando olhar para os
espíritos que estão em vigília.
– Deus, me ajude! – diz ela.
Débora deixa seu corpo cair ao lembrar-se da morte de Allan. Logo, ela
se lembra dos comprimidos e da promessa que fez a si mesma.
– Deus, será que eu morri?... Eu vou te achar onde você estiver, meu
filho – diz Débora, chorando.
– Acordou, desgraçada? – diz uma mulher negra se aproximando. –
Acordou, sua vagabunda, miserável! – insiste a mulher.
– Sai para lá moça, não a conheço! Com quem você pensa que está
falando? – diz Débora.
– Com você mesma, sua suicida desgraçada.
– Eu não me suicidei, simplesmente estou atrás do meu filho que foi
covardemente assassinado lá no morro.
– Filhos assassinados não vêm para cá não, minha senhora. Só vêm para
cá porcos e gente imunda como você – insiste a mulher.
– Por que você está me tratando assim? Eu não lhe conheço e ainda por
cima não lhe fiz nada.
– Porque você tirou o que ninguém pode tirar. Você atentou contra a lei
maior. Você tentou contra a sua própria vida. Você tentou contra a
oportunidade que lhe foi oferecida.
– O que foi que tirei?
– Sua vida, sua vaca! Sua vida – diz outra mulher se aproximando.
– A vida é minha e faço dela o que quiser – diz Débora.
– Tudo bem, a vida é sua e blábláblá, sem problemas. Você só não vai
ficar aqui entre nós. Você entendeu? Vá para o inferno, sua desgraçada – diz
a mulher se aproximando de Débora.
Assustada e com medo, Débora fica de pé. Suas pernas ainda estão
fracas e ela bamboleia sobre o frágil corpo.
Os espíritos riem de Débora.
– Vai logo embora daqui, sua porca imunda – insiste a negra.
Débora se põe a caminhar com muita dificuldade em direção a um vale
onde há árvores tortas e muita névoa. Ela está no portão de entrada do Vale
dos Suicidas.
Uma forte luz aparece e assusta a todos os que estão à sua volta.
Os espíritos que lá vivem já estão acostumados a essas visitas.
– Olha, lá vem aqueles espíritos de luz de novo – diz a negra, afastando-
se rapidamente de Débora e da luz.
Débora leva as mãos ao rosto como se protegesse da intensa
luminosidade que lhe ofusca a visão.
Nina e Felipe, auxiliados por um índio de estatura física enorme, surgem
e se aproximam de Débora.
– Olá, minha irmã! – diz Nina abrindo os braços e se dirigindo a Débora,
carinhosamente.
Assustada, fraca e afoita, Débora se aproxima de Nina e se joga nos
braços dela.
Débora começa a chorar, arrependida de sua atitude.
– Tenha calma! – diz Felipe, se aproximando.
– Quem são vocês?
– Somos seus amigos do mundo espiritual. Viemos aqui para lhe ajudar.
– Vocês vieram me ajudar?! Então me ajudem achar meu filho, o Allan!
Vocês são os meus anjos da guarda?
– Se isso nos for permitido, sim, iremos lhe ajudar – diz Nina.
– Nós não somos seus anjos da guarda – diz Felipe.
– Que lugar maldito é esse? O que vim fazer aqui? Por que fui trazida
para cá? Será que eu morri? – pergunta Débora.
– Acalme-se, Débora, vou lhe explicar como são as coisas por aqui.
Vamos nos sentar, por favor – diz Nina.
Todos se sentam sobre um gramado amarelado e marrom às margens de
um caminho que leva a uma grande muralha.
Nina então começa a falar.
– Você não se lembra da palestra que ouviu no centro espírita, Débora?
O sentido da vida é a evolução. Como nos disse nosso querido irmão Jesus –
diz Nina.
– Creia, teus tesouros estão onde está o teu coração – diz Felipe
completando o ensinamento.
– Nessa longa viagem de aperfeiçoamento encontramos diversas
estações, Débora, uma delas é o Umbral – diz o Índio, se aproximando.
Nina prossegue explicando a Débora o que é o Umbral.
– Débora, o Umbral funciona como região destinada a esgotamento de
resíduos mentais, aquilo que juntamos em nosso consciente e inconsciente,
entende? O Umbral é uma espécie de zona purgatorial, onde se queima o
material deteriorado das ilusões que adquirimos por termos atacado e
menosprezado o sublime ensejo de uma existência terrena. Tudo aquilo de
inútil. Tudo o que nós juntamos para o nada. Aquilo que nos distancia do
objetivo maior da Criação.
– Sim, Nina, estou entendendo – diz Débora.
– Sente-se aqui, por favor, Débora, mais perto de mim – sugere Nina.
– Sim – diz Débora sendo apoiada por Felipe, para sentar-se sobre uma
pedra mais próxima de Nina.
O Índio então acende uma pequena fogueira para iluminar e aquecer o
sombrio e frio lugar.
– Posso continuar, Débora?
– Sim, Nina, por favor!
– Você está se sentindo melhor? – pergunta Felipe.
– Sim, sinto uma paz inexplicável dentro de mim – diz Débora.
Nina então prossegue:
– Débora, vou lhe dar alguns exemplos de porque somos trazidos para
cá: a vingança, o ódio, a inveja, o rancor, a raiva, o orgulho, a soberba, a
vaidade, o ciúme, os vícios, a avareza etc. são os sentimentos que trazem
para cá aqueles que se habituam a conviver com eles. O exercício destes
sentimentos impregna a alma que precisa ser depurada para seguir em frente.
As almas impregnadas com esses sentimentos se encontram intoxicadas e
necessitam de um expurgo, necessitam de uma limpeza, um afastamento
dessas que são as piores energias que estão condensadas em nosso ser.
Todas as pessoas se atraem por afinidades e semelhanças.
Isto acontece na Terra e no mundo espiritual. Não tenha dúvida disso!
Desta forma, todas as pessoas com sede de vingança e ódio acabam se
atraindo para localizações comuns do outro lado da vida. Exatamente como é
aqui. Deus é justo, lembre-se sempre disso. Você está compreendendo,
Débora?
– Sim, Nina.
– Posso prosseguir?
– Sim, claro.
– Então vamos lá: juntas, as forças mentais dessas pessoas acabam
construindo todo o ambiente. Fica fácil perceber que um local repleto de
pessoas emocionalmente desequilibradas que estão unidas pelo pensamento
não é um local bonito e agradável, não é mesmo?
– Sem dúvida – diz Débora.
Nina prossegue:
– Dessa forma o Umbral nada mais é do que o reflexo dos pensamentos,
desejos e vontades de inúmeras pessoas semelhantes naqueles sentimentos
negativos que acabo de listar acima. Estes sentimentos intoxicam a alma e
dificultam ou impedem que essas almas recebam ajuda de parentes, amigos,
espíritos superiores e tudo mais.
– Então, por que você veio me ajudar?
– Na verdade, estávamos em sua casa na hora em que você decidiu pôr
fim à sua vida.
– E vocês não fizeram nada?
– Fizemos sim, fizemos muito por você. Você não se lembra agora, mas
nós ficamos falando ao seu ouvido. Não faça isso! Não faça isso!
– Eu não me lembro.
– Pois é assim mesmo.
– Por que vocês estão me ajudando? Eu não me lembro de ter conhecido
vocês, e tampouco que vocês sejam meus familiares.
– Na hora certa nós iremos revelar porque estamos ao seu lado.
– Sem problemas – diz Débora.
– Podemos continuar a lhe explicar o que é isso aqui? – diz Felipe se
levantando.
– Perdoem-me – diz Débora.
Nina prossegue então.
– Na Terra só é possível ajudar as pessoas que querem receber ajuda,
que aceitam ajuda; e para ser ajudado, você precisa primeiro reconhecer seu
erro, conhecer-se a si mesmo. Aqui, no outro lado da vida, é a mesma coisa,
Débora. Se você sofre por ter dentro de si o sentimento de vingança, só pode
ser curada deste sofrimento se conseguir perceber que precisa de ajuda e
aceitar essa ajuda. Somente nesta situação é que você consegue ser ajudada a
sair das zonas umbralinas.
– Eu quero a ajuda de vocês. Reconheço que não devia atentar contra a
minha própria vida. Eu errei – diz Débora.
– Nem tudo está perdido, confie em mim – diz Nina.
– Mas esse lugar é ainda pior do que você imagina, Débora – diz o Índio.
– Gente, esse lugar é horroroso mesmo! Isso aqui é o inferno? Por que
Deus permite que exista um lugar como esse? Foi Deus quem fez isso aqui?
– Débora, Deus nos permite tudo, Ele nos deu o livre-arbítrio. Lembre-
se sempre disso quando você pensar em Deus. Você já ouviu falar sobre isso
lá no centro espírita, não ouviu?
– Sim, o palestrante me explicou o que é livre-arbítrio.
– Pois bem. O homem tem total liberdade para fazer tudo de ruim ou tudo
de bom. Não é assim na Terra? Você pode fazer o que quiser. Você pode ser
um anjo em pessoa, mas também pode ser um demônio, não é assim aqui? –
diz Nina.
– Sim, somos livres – diz Débora.
– Débora, quando o homem faz ou constrói algo de ruim acaba se
prejudicando com isso, e aos poucos, com o passar de anos ou séculos, vai
aprendendo que o único caminho para a libertação do sofrimento e da
felicidade plena é a prática do bem.
As vidas na Terra e no Umbral funcionam como grandes escolas onde
aprendemos no amor ou na dor. Ninguém vai para o Umbral por castigo, o
espírito vai para o lugar que melhor se adapta à sua vibração espiritual do
momento.
– Entendi, Nina. Agora compreendo por que vim parar aqui.
– Débora, quando o espírito deseja melhorar, existe quem o ajude, não
tenha dúvida disso. Quando o espírito não deseja melhorar, ele fica no lugar
em que escolheu, é assim o Umbral, é assim a vida. Todos que sofrem no
Umbral, desejando ou não, um dia serão resgatados por espíritos do bem,
assim como nós, e serão levados para tratamento em colônias espirituais,
para que melhorem e possam viver em planos de vibrações superiores.
– O que é isso?
– Isso o quê?
– Essa tal de colônia espiritual?
– São cidades de apoio e ajuda para todos os que desencarnam – diz
Nina.
– Como assim?
– Tenha paciência que logo, logo você vai saber o que são as colônias
espirituais.
– Deixe-me terminar de lhe explicar umas coisas básicas, antes de
seguirmos para o próximo ponto – diz Nina.
– Perdoem-me minha angústia – diz Débora.
– Fique tranquila, compreendemos o que está acontecendo com você
neste momento – diz Felipe.
– Débora, deixe-me lhe ensinar uma coisa: os planos de Deus são
convergentes, ou seja, tudo converge para cima, onde estão a pureza e a
excelsa existência.
– Então, por que esses espíritos permanecem aqui, Nina?
– Existem muitos que ficam no Umbral por livre e espontânea vontade,
aproveitando-se do poder e dos benefícios que acreditam ter em seus
mundos. Assim como na Terra, onde um traficante de drogas, por exemplo,
sabe e tem consciência do mal que faz, porém aceita viver dessa forma. A
diferença no Umbral é que se tem a consciência da vida eterna e você pode
ficar ou não nessa condição. Isso só depende de sua vontade. Na verdade,
muitos espíritos não querem evoluir.
– Agradeço a vocês por estarem me ajudando – diz Débora, emocionada.
– E espero sinceramente que eu não esteja atrapalhando vocês. Quero
aprender muito sobre tudo isso que vocês estão me explicando.
– Estamos aqui para isso, Débora – diz o Índio.
– Esta muralha ao nosso lado... Que lugar é esse?
– Aqui é a entrada do Vale dos Suicidas. Este é um lugar muito visitado
por espíritos bons, assim como nós.
– Por quê? – pergunta Débora, curiosa.
– Aqui é onde vivem muitos espíritos, os que mais recebem orações
vindas da Terra. Por isso é que constantemente eles são visitados por amigos
de luz.
– Entendi – diz Débora.
– Nossa missão nesse lugar é tentar resgatar aqueles que desejam sair
daqui por terem se arrependido com sinceridade do que fizeram. Os
espíritos ruins fazem suas visitas para se divertirem, para zombarem ou
maltratarem inimigos que aqui se encontram em desespero.
Felipe interrompe dizendo:
– Existem ainda, Débora, algumas poucas cidades de drogados de porte
grande aqui no Umbral. Realizam-se lá grandes festas e são cidades
extremamente movimentadas – completa Felipe.
– Não podemos nos esquecer disso – adverte o Índio.
– Nina, por que essa chuva não para?
– Responda para ela, por favor, amigo Índio.
– Com prazer, Nina. – Grandes tempestades de chuva e raios ocorrem a
todo tempo no Umbral, Débora. Essas tempestades têm importante função
aqui.
– Como assim?
– É por meio delas que se conseguem limpar os excessos de energias
negativas acumuladas no solo e no ar, tornando o ambiente menos
insuportável aos seus habitantes. Daí porque o Umbral e é um lugar
lamacento.
– Perdoem-me, mas por que vocês estão me explicando tudo isso?
– É para que você saiba a dimensão do problema que teremos pela frente
– diz Nina.
– Tenho medo desse lugar... – diz Débora.
– Como assim? Você não quer achar seu filho, o Allan? – insiste Felipe.
– Sim, foi por isso que cometi essa loucura.
– Então, como é que nós poderemos procurá-lo sem você saber onde está
se metendo?
– Nós teremos que visitar todos esses lugares?
– Sim, Débora, nós não sabemos onde ele está.
– Mas vocês são espíritos iluminados! Como assim, não sabem?! –
pergunta Débora.
– Ué, por que deveríamos saber onde está seu filho? Já não lhe expliquei
que as coisas aqui se assemelham às de lá?
– Sim, você me disse isso, Nina.
– Então, se as coisas se assemelham, nós, mesmo com toda a nossa
experiência, sabedoria e luminosidade, nem tudo sabemos. Muito menos
onde está um menino que morreu assassinado – completa Felipe.
– Meu Deus! – diz Débora, levando a mão direita sobre a boca.
– O que houve, Débora?
– Nada, só fiquei mais confusa ainda. Pensei que havia anjos aqui e que
esses anjos trabalhassem para nos ajudar. Anjos de Deus, sabe? É que anjos,
assim como vocês, sabem de tudo.
– Sim, nós sabemos e existem sim anjos de Deus espalhados entre nós.
Daniel mesmo é um anjo de Deus.
– Quem é Daniel?
– É o presidente da nossa colônia. Foi ele quem nos pediu para ajudar
você.
– Como assim, me ajudar?
– Débora, existe uma coisa que você tem que aprender logo.
– O que é?
– Regras. Regras. Aqui há regras que têm que ser respeitadas e seguidas.
Nós não sabemos de tudo. Ninguém sabe de tudo. Nem aqui e muito menos
quando estamos encarnados. Ele é que sabe de tudo. Só Deus sabe de tudo.
– Tudo bem. Eu sempre fui uma pessoa cumpridora de regras – diz
Débora – e já entendi. – Deus sabe e cuida de tudo, é isso?
– Sim, nós compreendemos algumas coisas, mas ainda não sabemos de
tudo.
– Entendi, Nina. Posso compreender que os mistérios de Deus estão
guardados com Ele. Eu só quero achar meu filho, só isso. Eu vou seguir as
regras. É só vocês me explicarem o que devo fazer, que farei com amor em
meu coração.
– Agora as coisas estão ficando melhores – diz Felipe.
– Eu não concordo – diz o Índio.
– Por que o senhor não concorda? – pergunta Débora.
– Porque você deixou de cumprir a regra básica da vida, Débora.
– Qual, seu Índio?
– Não cometer suicídio. Não atentar contra a própria vida.
Débora se cala e seus olhos ficam marejados. Nina percebe o
arrependimento e a tristeza que invadiram o coração de Débora.
– E você poderia deixar de ser rude com as pessoas não é, amigo Índio?
– diz Nina, aproximando-se de Débora e abraçando-a.
– Não fui rude, simplesmente falei o que realmente aconteceu. As
pessoas têm que aprender que nós somos espíritos em todos os lugares; o
fato de estarmos desencarnados há muito tempo não nos qualifica para
sabermos das coisas. Muitas das pessoas se decepcionam com o espiritismo,
porque acham que nós sabemos tudo. Entram nas casas espíritas preocupadas
em adivinhar seu futuro. Imagina se nós, espíritos, soubéssemos do futuro
não estaríamos aqui perdendo tempo buscando nossa evolução. Sabemos que
é evoluindo que aprendemos, e é evoluindo que descobrimos novos mundos,
novas coisas, novas formas de existência, enfim, novidade só se consegue
evoluindo e trabalhando muito.
– Olha, moço, estou muito arrependida do que fiz. Eu nem sequer
acompanhei o enterro do meu filho. Não sei onde ele está e já compreendi
que minha condição atual não me permitirá encontrar com ele. Fiz o que
ninguém pode ou deve fazer. Eu nunca fui a um centro espírita, exceto aquela
vez que fui limpar e ajudar minha amiga.
– O que você nem desconfiava é que naquele dia nós a levamos lá para
lhe preparar para o que iria acontecer – diz Felipe.
– Ué, mas o Índio acabou de dizer que vocês não sabem do futuro! –
exclama Débora.
– Sim, nós realmente não sabemos do futuro – diz Nina.
– Então como é que vocês sabiam o que ia acontecer com o Allan?
– À medida que evoluímos, mais informações nos são passadas. Quando
atingimos certo grau evolutivo somos convidados a auxiliar os encarnados e
os desencarnados. Aqui só se evolui trabalhando muito. Lembrem-se, as
coisas são sempre bem parecidas aqui e lá.
– Como assim, Nina?
– Quando você está encarnado, só consegue realizar suas conquistas
pessoais se esforçando e lutando muito, não é isso? Tipo se deseja um
melhor salário, terá que se esforçar, estudar, fazer faculdade etc. Se quer ter
um carro novo, terá que juntar dinheiro e fazer sacrifícios para realizar seu
sonho, não é assim?
– Sim, é assim – diz Débora.
– Aqui não é diferente, à medida que você evolui, mais informações lhe
são passadas. À medida que você estuda, se dedica, vence seus defeitos,
supera os desafios e aceita com humildade, tudo fica mais claro, tudo fica
mais fácil.
– Agora entendi – diz Débora.
– Que bom que você compreendeu! Assim são as coisas de Deus,
lembre-se sempre: Ele é justo e bom.
– Quer dizer que o fato de eu estar aqui tem um objetivo evolutivo para
mim?
– Sim, Débora, não existem acasos.
– Estou muito arrependida do que fiz. E quero lhes agradecer a ajuda.
– Mas é por isso que estamos aqui – diz Felipe.
– Sim, Débora, o seu arrependimento sincero nos permitiu estar aqui
para lhe auxiliar a encontrar o Allan.
– Quer dizer que vamos encontrá-lo?
– Vamos procurá-lo – diz Nina.
Débora sorri.
– Nossa, que alegria! Obrigada, Deus! – diz ela, emocionada.
– Deus é amor, Débora, amor – diz Nina.
– Agora vamos começar logo a procurar esse garoto – diz o Índio
levantando-se. Afinal, se ele não estiver aqui, temos que ir a algumas
centenas de colônias para procurá-lo.
– Sim, vamos – diz Felipe.
Nina, Felipe, o amigo Índio e Débora começam a busca por Allan no
Umbral.
A
A busca no Umbral
pós caminharem por dois dias entre os núcleos do Umbral à
procura de Allan, Débora se sente desanimada e triste.
– Nina, será que o Allan está aqui mesmo?
– Sinceramente, acho que não, mas como não sabemos onde ele se
encontra, temos que procurá-lo por todas as colônias.
– Ouvi o Índio falar quando estávamos para começar nossa busca que
existem milhares de colônias... Como assim?
– No Brasil não existem milhares, milhares existem no planeta Terra.
Cada país tem seus núcleos assistencialistas, onde todos os espíritos que
desencarnam são acolhidos e auxiliados.
– Sei, Deus é amor. Isso você já me ensinou, Nina.
– Isso mesmo. Sendo Ele amor, todos os Seus filhos estão assistidos
onde quer que se encontrem. Não há nenhum desencarne sem auxílio.
– Aqui no Brasil há quantas colônias?
– Algumas dezenas – diz Nina, desconversando. – Agora vamos até o
portão principal no lado sul do Umbral. Tenho uns amigos lá e vou pedir-
lhes informações sobre o Allan.
– Vamos – diz Débora.
– Vamos gente, vamos até o lado sul – diz Débora, animada.
Felipe, o Índio e o Negro, que se juntou ao grupo, seguem caminhando
pelas ruas enlameadas do Umbral.
– Espere aqui, Nina – diz o Índio, pedindo a todos que parem.
– Venha, Débora, vamos nos esconder atrás daqueles arbustos – sugere
Nina.
– O que será que houve?
– Não questione, obedeça – diz Felipe, puxando-as pelo braço e se
escondendo atrás de uns troncos retorcidos e secos caídos no chão.
Nina, Débora e Felipe ficam em silêncio escondidos enquanto o Índio e
o Negro ficam no meio da estrada à espera de uma comitiva de espíritos que
se aproxima.
– Alto aí, amigos! – diz o Negro.
Um grupo de aproximadamente trinta homens, mulheres e crianças se
aproxima e para perto do Índio.
– Olá, amigo! – diz o líder do grupo, descendo de seu cavalo.
– Não queremos encrenca – diz o Índio.
– Nós só queremos passar, se o senhor permitir. Eu me chamo Alonso e
estamos em paz.
– Podem seguir, sem problemas. Mas que mal lhe pergunte, amigo, aonde
vocês pretendem chegar?
– Estamos fugindo de um grupo de rapazes que estão saqueando as
aldeias ao norte.
– E vocês permitiram isso?
– Eles são muitos, são recém-chegados a essas bandas. Não queremos
confusão e preferimos fugir.
– Por que não pediram ajuda aos líderes do Umbral?
– Como dissemos, amigo, não queremos confusão, estamos muito
próximos de nosso resgate.
– Está bem então, amigo. Podem seguir – diz o Índio se afastando e
abrindo o caminho para a pequena caravana.
Nina observa tudo, escondida com Débora e Felipe.
– Nina, quem são eles?
– São espíritos que estão muito próximos de serem resgatados aqui do
Umbral.
– Como você sabe disso?
– Olhe fixamente para suas auras e você poderá perceber que elas estão
ficando um pouco mais claras. Isso indica que estão próximos de serem
resgatados.
– É verdade. Quando fixo o olhar percebo que elas estão se modificando.
Mas por que ficaram aqui? Mulheres, crianças? Como assim?
– Eu não sei o motivo, provavelmente eles cometeram o mesmo erro
juntos, e assim são mantidos até que tudo se cumpra.
– Entendo. Só não entendi a parte das crianças.
– O que você não entendeu? – pergunta o Índio, se aproximando.
– Nina estava me explicando que esse grupo de espíritos que acabou de
passar são espíritos que estão a caminho do resgate. Eu entendi bem essa
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