As respostas dos alunos em relação à primeira questão foram muito homogéneas. Nenhum
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acredita que a abertura da gruta tenha sido provocada por magia. Todos justificaram com efeitos
tecnológicos. Como referi anteriormente, o facto das crianças do presente não terem
desenvolvido o seu imaginário, poderá vir a dificultar o seu desenvolvimento e a definição da
sua personalidade.
Relativamente à segunda pergunta, os alunos, em alguns casos, concordam com as punições
físicas, porque acham que as pessoas devem ser castigadas pelas más ações que têm. Bruno
Bettelheim justifica que «a convicção de que o crime não compensa é uma dissuasão muito
mais eficaz, e é por isso que nos contos de fadas (os vilões) perdem sempre.» (Bettelheim,
1985:11). Os alunos encararam que os vilões eram os ladrões mas nenhum deles questionou a
frieza de Morjana quando matou 38 ladrões com azeite fervendo. Talvez devido ao facto de não
terem nome e serem identificados como ladrões, criou entre os alunos e as personagens aversão.
Através das respostas dos alunos às segundas questões, pude concluir várias coisas, tais como:
- Alguns toleram outras culturas e religiões;
- A morte do ladrão batedor era inválida para alguns, porque ele cumpriu a sua missão, por outro
lado, outros alunos acham que o acordo (a morte do batedor caso falhasse a missão) devia ser
mantido, sem terem em consideração a falcatrua de Morjana.
- Cinco estudantes são totalmente contra as mortes da história, sejam elas quais forem. Acham
que a morte não é solução.
- Contrariamente, dois alunos concordam porque acham que más ações merecem «maus
castigos».
- Três alunos acham que as personagens podem mudar, que lhes deve ser dada uma segunda
oportunidade.
- Um aluno afirma que desconhecia que não conhece a mentalidade que se tinha na altura da
história e, que por esse motivo, não sabia o que faria no lugar das personagens.
No geral, a turma quando tentava administrar outras punições para as personagens optava pelas
que são utilizadas no nosso país, como, por exemplo: prisão ou trabalho comunitário.
Nenhum aluno identificou a Morjana como uma assassina. Se observarmos atentamente,
Morjana foi quem mais gente matou na história. A crueldade da serva fez com que 38 homens
fossem assassinados com azeite a ferver, de forma silenciosa e dolorosa. Bruno Bettelheim
afirma que as crianças não preferem uma personagem pela oposição entre o bem e o mal, mas
sim a que lhes causa mais simpatia. (Bettelheim, 1985:18). Será que os alunos não veem a
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maldade de Morjana, porque consideram que era o único método que permitia salvar Ali Babá?
Não haveria modos mais pacíficos de resolverem o problema? Ou será porque Morjana é mulher
e os alunos associam-na a uma mãe protetora? Ou porque a consideram uma heroína? «A
criança identifica-se com o herói bom não por causa da sua bondade, mas porque a situação do
herói encontra nela um eco profundo e positivo. Para a criança não é «Quero ser bom?», mas
sim «Com quem me quero parecer?» (Bettelheim, 1985:18).
Futuramente, quando explorar uma história, espero dedicar mais tempo a todos os pormenores.
Ao longo do processo de pesquisa centrado na intervenção educativa, verifiquei que quando se
termina a leitura e se passa à atividade seguinte, não se dá a oportunidade às crianças de
contemplarem ou reagirem ao conto. Isso faz com que o que lhe foi transmitido pelo conto seja
destruído, visto que a criança não tem tempo de refletir sobre a narrativa.
Mas quando o narrador da história dá às crianças tempo suficiente para reflectirem
sobre ela, para se submergirem na atmosfera que a narrativa cria, e quando elas são
encorajadas a falar no assunto, então conversas posteriores revelam que, emocional e
intelectualmente, a história oferece muito a algumas crianças. (Bettelheim, 1985: 79)