CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir de uma revisão bibliográfica que abrangeu diferentes temas, do cotejo entre
as versões fílmicas da Disney e os contos escritos originais, buscamos identificar as
principais modificações executadas pelos estúdios nas adaptações cinematográficas de
Cinderela e de A Bela Adormecida. Verificou-se que essas transformações concernem à
acentuação do maniqueísmo entre mulheres, o enfoque na beleza das mocinhas, seus
comportamentos mais passivos e seus desfechos que enfatizam um apelo ao matrimônio
como sinônimo de felicidade.
Tais mudanças podem ser relacionadas à tentativa dos estúdios de moldar melhor as
histórias ao modelo de melodrama em voga na época – com heróis e vilãs marcados e
finais felizes – e também à posição conivente assumida por Walt Disney com relação aos
modelos dominantes de vida amplamente em voga nos EUA em meados do século XX,
principalmente a partir do cinema, o qual teve papel fundamental na difusão de valores
capitalistas tais quais o consumismo, além de fornecer representações do que seriam os
modelos padrão de família, de papéis de gênero e estilos de vida (PURDY, 2007).
O cinema clássico, pautado num sistema naturalista, estruturou uma forma de fazer
cinema, advinda de uma cultura patriarcal, e utilizou-se de um processo de
espetacularização da mulher, pelo qual o homem é o principal responsável pelo desenrolar
da narrativa, enquanto a mulher torna-se figura passiva, disponível essencialmente como
objeto para ser olhado (MULVEY, 2008: 437-453). Em Cinderela e em A Bela
Adormecida, é possível perceber que as jovens mulheres que intitulam os filmes e
supostamente deveriam ser as protagonistas de suas histórias, acabam por realizar poucas
ações importantes nas narrativas, precisando da intercessão de outros personagens,
mágicos ou não, para a definição de seus desfechos nas narrativas.
É possível concluir que os profissionais de Disney, usando como base os contos
escritos originais, forjaram modelos imagéticos para as histórias pautados numa linguagem
cinematográfica naturalista, voltados à comercialização massiva, produzindo e reiterando
valores muito relacionados às várias instâncias do contexto de criação dos filmes.
63
FONTES
Fontes audiovisuais:
A BELA Adormecida. Direção de Clyde Geronimi. USA: Walt Disney Productions, 1959.
Son., color.
CINDERELA. Direção de Clyde Geronimi, Wilfred Jackson e Hamilton Luske. USA: Walt
Disney Productions, 1950. Son., color.
Fontes escritas:
Entrevista de Walt Disney para o jornalista Pete Martin. Verão de 1956. Disponível em:
http://disneybooks.blogspot.com.br/2012/07/walt-disney-talks-early-disneyland-by.html.
Acesso em: 20/02/2015.
THE DISNEYLAND NEWS. Anaheim, 10 mar. 1956.
Fontes visuais:
Desenvolvimento visual para a personagem Malévola, 1959. Marc Davis, visual
development for Sleeping Beauty, ca. 1959; courtesy Mike Glad; © Disney. Disponível no
site oficial do The Walt Disney Family Museum:
http://www.waltdisney.org/blog/marc-
davis-style-compromise-sleeping-beauty
. Acesso em: 08/12/2016.
Helene Stanley modelando para cena de Aurora, em A Bela Adormecida (1959).
Disponível em:
http://www.dailymail.co.uk/news/article-2299738/The-real-life-models-
helped-inspire-Walt-Disneys-best-loved-iconic-characters.html
. Acesso em: 08/12/2016.
Peça publicitária de aspirador da marca Hoover, 1953. Disponível em:
https://img.buzzfeed.com/buzzfeed-static/static/2013-
12/enhanced/webdr07/20/19/enhanced-buzz-9679-1387587175-3.jpg?no-auto
. Acesso em:
08/12/2016.
Pôster do filme Cinderella (Cinderela), de 1950. Disponível em:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/b/b5/Cinderella_Disney.jpg
.
Acesso em:
08/12/2016.
SCREENLAND. Cooperstown: Henry Publishing Company, dez. 1949.
SCREENLAND. Cooperstown: Henry Publishing Company, jan. 1950.
64
SCREENLAND. Cooperstown: Henry Publishing Company, mai. 1950.
SCREENLAND. Cooperstown: Henry Publishing Company, nov. 1949.
Compartilhe com seus amigos: |