recebe dons de suas madrinhas e uma maldição de Malévola. Enquanto no conto escrito a
menina tem sete fadas madrinhas e recebe sete dons – dom de ser a mais bela do mundo;
de ter a alma de anjo; de ser dotada de graça em tudo que fizesse; de dançar perfeitamente;
de cantar como um rouxinol; de tocar todos os instrumentos com perfeição –, na animação
a princesa possui apenas três madrinhas e recebe três dons – a beleza e o dom de cantar.
Tanto na versão escrita quanto no filme, as fadas são interrompidas pela presença de uma
criatura maldosa, que deseja que Aurora fure seu dedo numa roca e morra, ao que a última
fada boa confere a atenuação dessa maldição, de forma que a garota não morreria, mas
da beleza, simbolizada pelos raios dourados no cabelo e lábios vermelhos como as rosas. A
Bela Adormecida, 1959.
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Figura 13:
Malévola aparece inesperadamente no castelo e roga uma maldição a Aurora. A Bela
Adormecida, 1959.
Os dons da beleza e do canto recebidos por Aurora nessa sequência do filme, são
ressaltados ao longo de toda a narrativa, à medida que a menina é bela e encanta um
príncipe com sua voz, uma vez ao entoar uma canção de amor no meio da floresta na qual
foi criada. Ao conceder o dom da beleza, a fada no filme define o que seria ser bela, ao
dizer que a menina teria “raios dourados no cabelo, lábios vermelhos como rosas” –
descrição, essa, ausente no conto escrito. Esse modelo de beleza assemelhou-se muito
àquele que vigorava nos EUA à época de produção do filme (década de 1950) e destacado
por Lois Banner (1983): cabelos claros e ondulados, e lábios pintados de vermelho, bem ao
estilo de Marilyn Monroe. Segundo Banner, a maioria das outras estrelas de filmes
voluptuosas tinha o cabelo escuro, mas o de Monroe era pintado de loiro claro – uma cor
que evocava imagens tradicionais de anjos e mulheres virtuosas, refletindo a era de estrelas
de cinema adolescentes, ao mesmo tempo que legitimava e acentuava sua sensualidade.
Para Banner, a ampla pintura de cabelos de loiro indicava a aceitação das mulheres a um
modelo de aparência e comportamento que faziam delas femininas, sensuais e não
intelectualizadas.