Para Xavier, o sistema naturalista acaba por conferir uma sensação de realidade aos
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No caso da estória deliberadamente fantástica, a visão direta do
naturalmente impossível ganha todo o seu poder de atração justamente
pela espetacular precisão com que o fantástico parece real na tela. O
sobrenatural naturaliza-se e constitui a matéria básica do espetáculo.
(XAVIER, 2012: 42)
A partir desse viés, há a identificação entre arte e a competência para copiar. É claro
que Cinderela e A Bela Adormecida não podem ser relacionados diretamente ao sistema
naturalista de representação, uma vez que são constituídos por animação; porém,
articulam-se com diversos aspectos desse sistema representativo. As principais
personagens dos filmes, por exemplo, tiveram seus movimentos baseados na observação
direta de pessoas ao vivo, de modo a tornar as animações mais próximas da realidade.
É nesse sentido que enfatizamos a importância de se inserir a obra da Disney em
seu contexto histórico e cinematográfico, o que pretendemos fazer nos capítulos seguintes.
Antes disso, porém, apresentaremos um resumo das narrativas literárias dos dois contos,
comparando-os com as narrativas fílmicas – resumidas aqui de forma mais breve, pois
análises mais detalhadas das sequências estão presentes no capítulo III deste trabalho –,
observando suas principais diferenças. Dessa forma, é possível ter uma compreensão mais
aguçada das técnicas utilizadas na elaboração de cada filme, assim como tecer
interpretações acerca das mudanças executadas em Cinderela e A Bela Adormecida da
Disney com relação às suas narrativas escritas originais, ponderando sobre possíveis
sentidos histórico-sociais associados a essas modificações.
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