JOSIMEIRE BATISTA DA SILVA
BA, Salvador
Projeto Abarés do Brasil
A palavra Abaré significa amigo em tupi guarani. Não por acaso o projeto leva esse nome, pois
buscou aproximar pessoas, culturas, etnias e histórias de vida.
Partiu-se da realidade de que Salvador é a cidade com maior número de negros e no estado da
Bahia há mais de 10 tribos indígenas. Apesar disso as crianças, entre 4 e 5 anos, não reconhecem as
particularidades de sua etnia e nem se identificam com ela, como descobriu a professora ao observar
entre outras coisas, que as crianças negras usavam a cor bege para representa-las, escolhiam bonecas
brancas e se chamavam de cabelo duro.
O percurso contemplou várias etapas articuladas: levantamento do conhecimento prévio sobre
índios, negros e brancos; estudo de brinquedos e brincadeiras de cada etnia; leitura e escuta de
histórias, dramatização das histórias ouvidas, contos e canções; produção de elementos das artes
especificas (máscaras, pinturas corporais, tintas naturais, instrumentos sonoros utilizando materiais
reaproveitados e sementes); pesquisa de palavras de origem africanas e indígenas que fazem parte do
nosso vocabulário, além do cuidado com aninais de estimação (peixinho).
Houve mudança de comportamento (usar o marrom e preto para se desenharem...) e ampliação
de repertório e conhecimento especifico sobre etnias, sendo finalizado com exposição das produções
das crianças.
Fazem agora parte dos princípios dessa escola: a valorização da própria identidade como
conteúdo pedagógico na Educação Infantil e a observação de sala de aula como ponto de partida para
elaboração de projetos significativos junto às crianças
A partir das intervenções do projeto as crianças passaram a reconhecer o legado cultural das
etnias presentes na história do povo brasileiro, a disseminar o que aprenderam em suas famílias além
de mudarem comportamentos em relação a própria identidade. Passaram a valorizar atitudes como
respeito, cooperação, amizade, elevando a autoestima e o orgulho da própria história política e cultural.
Outro resultado foi a desmistificação do índio nu, que só se comemora no dia 19 de abril. Foi uma
construção coletiva com a participação das mãos das crianças. Elas diziam: “Nós também somos
abarés”.
“O projeto me fortaleceu não só como docente, mas como pessoa. Fortaleceu a minha
identidade de negra descendente de índia. Fortaleceu quando questionamos com as crianças: cabelo
duro? O que é duro? Chão duro, mesa dura, parede dura... Então fizeram as comparações e chegaram a
seguinte conclusão: Não existe cabelo duro. Os negros são importantes”.