contemporânea servirá muito ao leitor brasileiro para entender este
intrincado país onde moro desde 1995 e no qual sou correspon-
dente internacional de meios de comunicação brasileiros.
O livro de Di Tella também servirá para desmanchar uma série
de clichês que existem no Brasil sobre este país vizinho. Há uma
frase do acadêmico argentino Pablo Alabarces, da Universidade
de Buenos Aires (UBA), elaborada em conjunto com o brasileiro
Ronaldo Helal (professor da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro), que tenta resumir (com um irônico tom categórico) a
intrincada trama de sentimentos mútuos entre os dois lados da
fronteira: “Os brasileiros amam odiar a Argentina, enquanto os
argentinos odeiam amar o Brasil”. Mas, segundo Helal, “qualquer
rivalidade contém uma dose de admiração e de inveja. Somente
rivalizamos com alguém que tem algo que desejamos possuir ou
superar”. O sociólogo carioca até recorda que a Ilíada de Homero
está repleta de trechos que retratam a admiração mútua entre os
soldados gregos e troianos (e entre os heróis Aquiles e Heitor).
Esta relação conta até com um touch pontifício (talvez, até
beatífico): em meados de 2013, durante sua primeira viagem
internacional (coincidentemente, ao Brasil), o papa Francisco
brincou com jornalistas sobre os cardeais brasileiros que também
haviam sido candidatos no conclave de março desse ano e que
foram deslocados por ele, um argentino: “Deus já é brasileiro... e
vocês queriam também um papa brasileiro?”. Uma frase portenha
digna de Di Tella.
Existem casos nos quais contar o final de um filme é atitude
de um desmancha-prazeres. Em outras, dependendo da obra,
contar o fim pode servir para saborear melhor os 99% prévios do
filme. Aviso, pois – “ditellianamente” – vou lhes contar o parágrafo
final deste livro de Di Tella. Aqueles que não quiserem saber, que
desviem o olhar e partam direto para o primeiro capítulo:
O que acontecerá no futuro só os zelosos deuses o sabem,
já que eles proibiram aos humanos conhecê-lo. E se é
certo o que dizia Chou-en-Lai, que era muito cedo para
ter uma opinião sobre a Revolução Francesa, quanto
mais para cobrir com maiores detalhes esses tempos tão
recentes. Dessa maneira, amável leitor, me despeço de
ti por agora, desejando que leias este livro com alguns
tantos comprimidos de calmante à mão e que aprendas
dos erros e dos acertos – que alguns houve – desta
complicada nação que é a República Argentina.
Ariel Palacios
Buenos Aires, março de 2017
Mapa político da Argentina
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