Mecanização na colheita do fruto
Em 1945, o comerciante Ovídio Bastos, estabelecido na rua dos Mundurucus,
em Belém, utilizou o primeiro protótipo da máquina de amassar açaí mecanizado,
que veio a substituir as “amassadeiras de açaí” e os protótipos manuais feitos de
madeira. Com o tempo a despoldadeira foi sendo aperfeiçoada, ganhando
importância a partir do final da década de 1980, com o crescimento da demanda da
de polpa de açaí.
A colheita é efetuada por escaladores, geralmente meninos e rapazes,
utilizando ”peconha”, uma espécie de laço feito de corda, cipós, pano ou da própria
palha dos açaizeiros, que é colocada nos pés para facilitar a escalada dos estipes. O
escalador leva uma faca para cortar os cachos que precisam ser descidos junto,
para evitar que sejam jogados no chão provocando perda de frutos. No sistema
tradicional, os coletores mostram as suas habilidades passando de um estipe para
outro, em arriscadas operações. A demonstração dessas habilidades são uma
constante nos Festivais de Açaí, sendo conhecidos aqueles que conseguem tirar
maior quantidade de frutos, em menor tempo.
Equipamentos rústicos de colheita, que dispensam a perigosa escalada nos
açaizeiros, foram desenvolvidos nos últimos anos por agricultores. São varas com
dispositivos em sua porção terminal que retiram os cachos dos açaizeiros, com
pequena perda de frutos. O primeiro modelo, confeccionado com madeira, foi
concebido pelo senhor Dorival Costa Carvalho, colono maranhense na localidade
Sapecado, no município de Marabá, em 2000. Outra variante desse coletor de açaí
foi desenvolvido no Maranhão, utilizando um vergalhão de ferro amarrado na ponta
de uma vara.
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No período de 04 a 05/12/2014, o TRT 8ª Região promoveu o Seminário
Amazônia Rural, Trabalho Precário
– Segurança e Saúde do Trabalhador no Pará e
Amapá, no qual a coleta do fruto do açaí foi um dos temas discutidos. O médico
José Guataçara Gabriel tem preocupado com a questão da segurança dos
apanhadores de açaí. O açaizeiro por ser uma palmeira com estipe fino e longo, com
umidade e lodo, presença de casas de maribondos ou da formiga tachi no cacho do
açaí, associado à biomecânica da retirado do cacho, a idade e a inexperiência do
apanhador, pode conduzir a acidentes fatais de queda. Além de exigirem pessoas
novas e magras com agilidade para subir nos açaizeiros, ser arriscado, apresenta
baixa produtividade.
Em meados da década de 1980, o pesquisador Carlos Hans Müller, da
Embrapa Amazônia Oriental, antevendo as possibilidades do cultivo do açaizeiro em
terra firme e considerando a possível escassez de mão-de-obra habilitada para
escalar os estipes, elaborou um modelo de vara colhedora de frutos de açaí,
confeccionada com alumínio. Essa vara, com comprimento de 6m, apresentava em
sua parte terminal uma lâmina para corte do cacho e um recipiente, em forma de
meia-lua, confeccionado com tela de plástico, que acondicionava o cacho após o
corte. O recipiente contendo o cacho de açaí era trazido até o solo por um sistema
de roldana, sem nenhuma perda de frutos (NOGUEIRA et al., 2005).
As varas de colheita até então desenvolvidas nada mais representam que
uma forma aperfe
içoada de um instrumento rústico denominado “mané de viagem”
que é utilizado no extrativismo do açaí, quando o estipe apresenta altura superior a
10m e é muito fino, o que aumenta substancialmente o risco de acidentes, pois o
estipe pode quebrar com o peso
do escalador. O “mané de viagem” é uma vara de
madeira com uma forquilha e uma corda amarrada em sua extremidade terminal
(HOMMA et al., 2006). O escalador sobe no tronco da palmeira, onde está o cacho a
ser colhido ou mesmo em um estipe vizinho, até o ponto em que se sinta seguro e
com o auxílio do ¨mané de viagem¨ laça o cacho e puxa, provocando sua queda. O
cacho fica pendurado na corda, pois previamente teve uma de suas extremidades
amarrada ao tronco. A utilização desse método de colheita implica perda de
considerável quantidade de frutos.
A escalada dos estipes dos açaizeiros exige pessoas novas com destreza,
sendo muito comum a utilização de crianças, pela agilidade que apresentam. A
aprovação da Emenda Constitucional 20, a partir de dezembro de 1998, estabelece
a idade mínima de 16 anos para ingresso no mercado de trabalho, faz com que as
restrições quanto ao uso da mão-de-obra infantil restrinjam essas atividades para a
agricultura familiar (FERRO & KASSOUF, 2005). A conquista de mercados externos,
no qual a restrição do uso de mão-de-obra infantil é observada, a expansão de
grandes plantios, vai depender de equipamentos eficientes para a colheita dos
frutos. As restrições trabalhistas têm feito com que muitos produtores paguem a
extração mediante sistema de empreita. Outra modalidade é o próprio comprador
efetuar a coleta e pagar pela produção coletada, procedimento bastante utilizado
para pequenas vendas. Com o crescimento do mercado está ocorrendo à expansão
de plantio em terra firme e de áreas manejadas de várzeas que está provocando a
falta de mão-de-obra para coletar frutos dos açaizeiros.
O modelo desenvolvido pelo agricultor Noboru Takakura para permitir a
mecanização no seu plantio de 85 hectares de açaizeiros foi efetuar plantios com
espaçamento de 6m x 7m, deixando faixas para o trânsito de tratores facilitando as
operações de limpeza, adubação e colheita do açaí. Desenvolveu uma vara com um
mecanismo de gancho com pressão na extremidade que consegue prender o cacho
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e puxar, sem necessidade de escaladores. Com um trator e dois operários, um em
cada lado de uma caçamba acoplada ao trator, vão rodando nos renques de
açaizeiros, colhendo e depositando os frutos na caçamba. Para evitar danos nos
frutos, os cachos são batidos levemente entre si. Com esse procedimento consegue
colher 100 latas de frutos/dia com uma equipe de um tratorista e dois apanhadores.
O aumento da produtividade da mão-de-obra é grande se comparado com o
processo tradicional, em que um escalador experiente, consegue colher entre 8 a 12
latas de frutos/dia.
Esse método de colheita evita outro problema decorrente da adubação
orgânica com cama de aviário, representada pela presença de formigas-de-fogo
(Solenopsis spp.) nos pés de açaizeiros plantados nas áreas de terra firme,
dificultando em muitos locais a colheita pelo método de escalada dos estipes. Nas
várzeas não existe a ocorrência de formigas-de-fogo. O roubo de frutos constitui
risco presente, onde em alguns pomares de açaizeiro, vigias com espingardas são
mantidos na área, até o anoitecer, para evitar o furto de frutos. A ocorrência de
furtos durante a noite é rara, por causa da dificuldade que se tem de identificar os
cachos aptos para colheita.
O coletor desenvolvido pelo agricultor Shigeru Hiramizu, de Tomé-Açu,
consiste em uma vara de alumínio utilizada para coleta de coco da baia com crista
para efetuar um pequeno corte no cacho e uma argola aberta para enganchar o
cacho e conduzir até o chão. Outro equipamento desenvolvimento por Hiramizu
consiste em um pente com cabo para proceder à debulha do açaí. Com esse
equipamento e o pente, um operário consegue colher de 200 kg a 250 kg, ou o
equivalente a 14 a 18 latas, por dia, dependendo da disponibilidade de frutos
maduros.
O inventor Magno Lima de Brito em 17/07/2012 efetuou o depósito de patente
da máquina de tirar açaí e juçara. Esta máquina é composta por três partes
principais: o acoplador deslizante é formado pela parte central, e tem a função de
acoplar o conjunto no tronco da palmeira, para deslocamento; a tesoura multifunção
compreende a parte superior, e tem três funções: acoplar, cortar e segurar o cacho e
o suporte de elevação é formado pela parte inferior e tem a função de proporcionar a
subida e a descida do conjunto. Em 26/08/2014, sob os auspícios da Sebrae-Pa, foi
efetuada a demonstração dessa máquina em São Sebastião da Boa Vista e no dia
24/04/2015, no I Encontro da Cadeia Produtiva do Açaí, em Castanhal. A grande
novidade é apanhador muito simples que consiste em uma vara de alumínio, com
uma crista para dar um corte no cacho e um laço com dois palmos de diâmetro para
prender o cacho e fazer uma torção. Este coletor foi desenvolvido por um operário
de Igarapé-Açu permite coletar até 70 latas por dia está revolucionando a extração.
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