volta ao mundo em oitenta dias” em 1872, lançou a obra de ficção “A jangada” em
1880, no qual descreve a viagem de Iquitos até a foz do rio Amazonas e faz menção
Engenheiro agrônomo, especialista em economia agrícola, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Belém,
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do uso do vinho de açaí. É impressionante a capacidade criativa do autor, fazer esta
descrição sem nunca ter visitado a Amazônia. Esta paisagem tranquila das casas
ribeirinhas com palmeiras de açaizeiros (Euterpe oleracea) ao redor, lembrando os
quadros idílicos da Polinésia do pintor impressionista francês Paul Gauguin (1948-
1903), vem passando por grande transformação a partir do final da década de 1960.
Para atender o crescente mercado de palmito estas áreas de ocorrência de
açaizeiros sofreram uma grande destruição que lembravam os campos pulverizados
com agente laranja no Vietnã. Isto levou o presidente Ernesto Geisel (1974-1979) a
assinar a Lei nº 6.576/1978, proibindo a derrubada de açaizeiros que não teve
nenhum efeito. O crescimento do mercado do fruto de açaí a partir da década de
1990, teve um efeito positivo na sua conservação e preservação. Isto traz um grande
recado que o mercado pode induzir a destruição do meio ambiente, como garantir a
sua preservação e conservação, que deve ser estendido para outros produtos da
Amazônia (HOMMA et al, 2006).
O assassinato de Chico Mendes (1944-1988) com vinda de jornalistas do
mundo inteiro chamou a atenção para diversas frutas amazônicas que tinham
consumo local como o cupuaçu, açaí, bacuri, pupunha, etc. Estas frutas pelas
características ímpares do cheiro, sabor, cor, formato, valor nutritivo, entre outros,
estimularam a sua venda para outras partes do país e para o exterior. O crescimento
do mercado de polpa de açaí, induzido pelo processo de beneficiamento e
congelamento quadruplicou o consumo local, antes restrito ao período da safra. O
beneficiamento efetuado pelas amassadeiras de açaí foi substituído por batedeiras
elétricas e, atualmente, por modernas máquinas industriais de processamento dessa
fruta.
Existem três espécies de palmeiras que também produzem
o vinho de “açaí”.
A Euterpe oleracea com dominância nos Estados do Pará e Amapá, responsável
pela maior parte da produção, tem capacidade de produzir rebrotamentos; a Euterpe
precatória, com dominância no Estado do Amazonas,
conhecida como “açaí do
mato” e sem capacidade de perfilhamento e, a Euterpe edulis, com habitat na Mata
Atlântica, não perfilha, sofreu forte processo de destruição para a retirada de
palmito.
A cadeia do açaí envolve extrativistas, produtores, intermediários, indústrias de
beneficiamento e batedores artesanais é de importância crucial para a formação de renda
de expressivo grupo de famílias de pequenos produtores.
Estamos assistindo, com o crescimento do mercado, a mudança do sistema
extrativo que apresenta baixa produtividade (4,2t/ha), para o sistema manejado (8,4
t/ha) e o irrigado que pode atingir 15 t/ha, com possibilidade de crescer ainda mais
com as inovações tecnológicas (SANTOS et al., 2012). O interesse pelo plantio de
açaizeiro irrigado é para obter a produção na entressafra onde os preços são
bastante elevados. Há muita variação de produtividade e de lucro, não indicando
que somente com a irrigação seria possível triplicar a produtividade do extrativismo.
Como fruto de Convênio de cooperação técnico firmado entre a então Secretaria
Estadual de Agricultura do Estado do Pará (SAGRI) e a Embrapa Amazônia Oriental,
foi realizado o lançamento da cultivar de açaizeiro BRS Pará em 2004 estimando
que no período 2008 a 2014 a SAGRI tenha distribuído 22,7 toneladas de sementes
selecionadas, o que permitiu a produção de pelo menos 10,7 milhões de mudas. Isto
não significa que todas estas mudas foram aproveitadas de forma adequada.
Reconhecendo a importância do açaí para a economia paraense foi criado
em 2011 pelo Governo do Estado o Programa Estadual de Qualidade do Açaí,
objeto do Decreto Estadual nº 250/11 coordenado pela atual Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (SEDAP) e envolve 14 instituições, de
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natureza pública e privada, têm por objetivo a introdução de boas práticas na
extração/produção, transporte, comercialização, fabricação artesanal e industrial, de
modo a garantir padrão de qualidade do produto.
Feita esta breve introdução, este artigo procura responder três questões
básicas que tem sido a razão do interesse de diversos produtores no plantio do
açaizeiro. Os altos preços pagos pelos consumidores locais, chegando R$ 30,00/litro
de açaí grosso, conduz ao questionamento quanto ao mercado para este produto. É
melhor manejar ou efetuar o plantio de açaizeiro irrigado? Quais são os desafios
para transformarmos o açaizeiro com a consolidação da produção?
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