Tratava-se de reconceituar o currículo. Enfatizando que a compreensão da natureza é mediatizada pela
cultura, o grupo concebia reconceituação como o esforço por desvelar a tensão
entre natureza e cultura,
por descobrir as partes da cultura não guiadas pelas leis da natureza, assim como as partes da natureza
que não eram necessariamente obstáculo à ação humana, mas sim produtos do que os homens fizeram
e que poderiam,
portanto, desfazer. No caso específico do currículo, a intenção central era identificar e
ajudar a eliminar os aspectos que contribuíram para restringir a liberdade dos indivíduos e dos diversos
grupos sociais (MOREIRA, 2002, p. 15).
Desse movimento, surgiram dois grupos que se fundamentavam em tendências teóricas diferentes: os hu-
manistas, que têm na figura
de William Pinar seu expoente; e os neomarxistas, que tinham como aporte a teoria
crítica e foram trazidos para o Brasil por autores como Michael Apple e Henry Giroux (MOREIRA, 2002; SANTOS,
2001; SILVA, 1999).
Esse movimento vai encontrar ressonância na Inglaterra quando da sistematização, naquele país, do que veio
a ficar conhecido como Sociologia da Educação. Para tanto, foram de fundamental importância
os trabalhos do
sociólogo Michael Young (MOREIRA, 2002; SANTOS, 2001).
No Brasil, após os enfoques sobre currículo vinculados à Escola Nova, desenvolvidos nos anos 1920; do período
de criação e influência do Inep sob a égide da ditadura Vargas, no final da década de 1930 e, posteriormente, das
abordagens que resultaram do acordo assinado entre os Estados Unidos e o Brasil, para a fundação
do Programa
de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar (PABAEE), no final dos anos 1950, uma nova visão curri-
cular, mais centrada no debate que então se evidenciava entre proposições mais gerais (capitalismo e socialismo),
influenciou o campo educacional (MOREIRA, 1990).
Nos anos 1960 – momento intenso para os movimentos populares voltados para a Educação –, “propôs-se um
movimento de alfabetização de adultos, criação de centros de cultura popular e organizou-se o movimento de
Educação de base” (MOREIRA, 1990,). É nesse âmbito que surgiu, no Brasil, uma tendência crítica de análise da
Educação, segundo Moreira, inicialmente baseada na prática de Paulo Freire e tendo como referencial teórico uma
abordagem sociológica. É certo que a obra de Freire não busca
construir teorias curriculares, mas é evidente que
ela discute questões essencialmente ligadas ao currículo (SILVA, 1999).
Com o advento da ditadura militar no país, em 1964, esse movimento foi suplantado e substituído por uma
visão tecnicista de Educação, sob influência estadunidense. Nesse período, com a reforma universitária de 1968,
a disciplina “Currículo e Programas” foi introduzida nos cursos de Pedagogia das universidades brasileiras. Moreira
(1990) lembra que na década de 1970, apesar da influência tecnicista imposta à Educação no país, o que se viu
foi o desabrochar de uma postura eclética tanto para o campo da Educação como especificamente para as abor-
dagens curriculares.
O contexto social que emergia no país com a abertura política e a possibilidade de introdução da democracia
também representou, para a Educação, a adoção
de novas perspectivas e, para o campo específico do currículo,
a emergência de um debate centrado na teoria crítica.
Nos anos 1980, a influência de autores estadunidenses diminuiu à medida que a de autores europeus aumentou.
De outro lado, a influência da redemocratização do país, com a criação de espaços institucionais para discussões
e propostas críticas, foi elemento crucial na definição das principais tendências para as discussões curriculares
desse período (MOREIRA, 2002, p. 161).
O que se verifica nesse período no âmbito da Educação pública brasileira são políticas educacionais, um debate
focado nos conteúdos curriculares e uma preocupação sistemática com os saberes e a
cultura advinda das classes
sociais menos favorecidas.
Do ponto de vista teórico, aumentaram as distâncias entre aqueles que, apesar de concordarem que a escola
devesse ser universalizada, apresentam proposições antagônicas sobre o currículo para a escola. Duas correntes
teóricas e políticas se destacam nesse período: a Pedagogia crítico-social dos conteúdos, cujos defensores são
conhecidos
como conteudistas, tendo entre eles Dermeval Saviani, Carlos Roberto Cury, José Carlos Libâneo e
Compartilhe com seus amigos: