No Oriente Médio, com óbvia exceção
de Israel, praticamente todos os governos embasam sua legitimidade no Islã.
A dificuldade é que este é muito exigente no que se refere à maneira de governar os fiéis. Ele estabelece padrões que,
se não são formalmente democráticos, ainda assim derivam do respeito pela pessoa e dignidade individuais e de um
profundo sentido de igualdade – valores que estão no cerne do que há de melhor na democracia. Esses
valores fize-
ram, por exemplo, com que se prezasse a ideia de que o líder leve existência modesta, como as pessoas comuns, um
ideal encarnado pela vida do profeta. Quando e onde o governo é opressivo,
corrupto, perdulário e cego ao bem-estar
comum, ele se arrisca a ver uma rejeição religiosa à sua legitimidade. Ao afirmarem uma legitimidade baseada na fé,
os
governos, enfim, arriscam-se a encarar uma oposição de fundo religioso.
As estratégias dos grupos governantes para lidar com tal dilema se enquadram em duas categorias. Podem manter-se
por inércia,
como o Egito, a Argélia durante sua guerra civil ou as monarquias, concedendo tão
poucas reformas quanto
possíveis; mas, refreando-as, arriscam-se à eclosão de revoluções. Ou podem manter-se pelo ímpeto permanente, como
o Irã revolucionário, o Iraque [...], a Líbia e a Síria;
assumem desse modo, um risco após o outro, em confrontações
internas e externas, pois não sobrevivem optando pelo caminho da tranquilidade.
Fonte: SMITH, Dan.
O Atlas do Oriente Médio: conflitos e soluções. São Paulo:
Publifolha, 2008. p. 106-107.
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