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Revista
Pesquisa FAPESP.
Publicações recentes e acervo. Disponível em:
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Capítulo 6 – O comércio mundial e os blocos econômicos
Nesse capítulo serão abordadas as características socioeconômicas dos países que fazem parte dos mais
destacados blocos econômicos mundiais e sua importância para a economia global. Espera-se que o
aluno compreenda as principais diferenças sociais e econômicas entre esses países e a influência dessas
disparidades nos fluxos e eixos comerciais do planeta.
Página 116 (Queda de barreiras alfandegárias e os blocos econômicos)
Utilize o texto a seguir como subsídio para o estudo do processo de formação dos blocos econômicos.
Globalização e fragmentação no mundo contemporâneo
[...]
Tornou-se quase lugar-comum explicar toda a complexidade do mundo contemporâneo pelo binômio
globalização-fragmentação. Contudo, destituído de qualificações mais rigorosas, ele acaba perdendo
todo o seu poder explicativo. Assim como a globalização se revela de formas muito diferenciadas, a
fragmentação pode tanto estar intimamente conjugada com a globalização como pode contradizê-la e
mesmo contestá-la. Podemos começar por distinguir uma fragmentação “inclusiva” ou “integradora” e
uma fragmentação “excludente” ou “desintegradora”, uma fragmentação inserida nos processos de
globalização e uma fragmentação paralela ou contrária à globalização. Além disso, é importante
identificar também as relações entre suas diferentes dimensões – econômica, política e cultural.
Os processos de fragmentação que denominamos de inclusiva ou integradora são parte intrínseca dos
processos de globalização constituindo mesmo [...] uma forma de realizá-la. Trata-se muitas vezes de
uma nova manifestação do velho princípio do “dividir para melhor governar” – no caso, “fragmentar
para melhor globalizar”. Subcontratações e terceirização, trabalho temporário e deslocalização de
firmas, renovação constante dos produtos – tudo isto faz parte de uma estratégia de flexibilização do
circuito produtivo dentro da lógica da competitividade contemporânea onde o maior lucro é uma
decorrência, mais uma vez, da desarticulação do movimento trabalhista, da introdução de novos
métodos de produção e de novas tecnologias, acelerando o ciclo produtivo e criando cada vez mais
novas “necessidades”.
[...]
Outras barreiras, ao mesmo tempo integradoras e fragmentadoras, são construídas em torno dos novos
blocos econômicos, muitas vezes transformados em verdadeiras “fortalezas” na defesa comum dos
interesses de seu grupo de países. A proliferação e o fortalecimento desses blocos, União Europeia à
frente, é uma evidência das contradições do discurso neoliberal, cuja defesa do “livre mercado” e da
“desregulação” acaba sempre reconfigurando limites, fronteiras muito claras nas redivisões do mundo
entre seus núcleos hegemônicos. Para este processo, muitos autores preferem usar, no lugar do termo
“fragmentação”, outro termo polêmico: “regionalização”.
A formação desses espaços econômicos “regionais” é uma das respostas do próprio capitalismo
globalizado tendo em vista sua melhor performance, tentando legitimar assim as novas escalas
prioritárias de ação de suas frações, acima do Estado-nação. Este, ao mesmo tempo que constituiu uma
base fundamental durante a fase de internacionalização do capital, vê seu papel questionado e surge
algumas vezes como um elemento “fragmentador” no sentido negativo, quase como um
constrangimento a ser extirpado. Mas sua importância ainda é incontestável, principalmente no que se
refere à defesa militar, à criação e manutenção das potentes infraestruturas viabilizadoras dos fluxos da
globalização e, em casos como o da China, como controlador da atividade sindical.
A definição de novas “fatias” geográficas dentro do mercado mundial é ao mesmo tempo uma
estratégia de sobrevivência pelo melhor controle de certas áreas em épocas de turbulência, como
também uma forma de apaziguar possíveis atritos entre a nova tripolaridade criada em função da
competição cada vez mais acirrada entre capitalistas japoneses, americanos e europeus. Geralmente
promove-se o discurso da globalização comercial e financeira sem fronteiras à escala mundial enquanto
à escala “regional” (supranacional) se resguardam áreas de relacionamento privilegiadas a fim de evitar
maiores transtornos em épocas de crise e competição mais acirrada. [...]
HAESBAERT, Rogério. In: Rogério Haesbaert (Org.).
Globalização e fragmentação no mundo contemporâneo. Niterói:
EdUFF, 2001. p. 24-27.
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