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A lógica do capitalismo é a da acumulação, permanente, desenfreada, excludente. Quem não acumula
sai do processo. Acumular significa deixar alguns de lado, pois não é possível que todos sejam
vencedores em uma corrida feita de tal forma que sempre haverá um mais rápido, um mais ganancioso,
um mais inescrupuloso e alguns mais insaciáveis. [...]
A ânsia pela incorporação rápida de padrões de desenvolvimento iguais aos dos países ricos nos fizeram
importar máquinas, equipamentos, conceitos, valores. O desenvolvimento importado gerou a dívida
externa. A impossibilidade de construir um processo harmônico fez com que as elites precisassem da
ditadura, para conter as massas e preservar os limites sociais e territoriais dos que iriam se beneficiar
pela indústria automobilística, pelo consumo de luxo e pela concentração da renda. A ditadura
econômica dos capitais financeiros que movimentaram as mudanças nas décadas de 60 e 70 do século
passado e a ditadura política que ceifou duas ou três gerações de um aprendizado democrático
necessário para governar são hoje responsáveis por parte considerável da dificuldade de vencer [...].
BUARQUE, Cristovam. Desenvolvimento integral para o bem comum. In:
Que país é este?: pobreza, desigualdade e
desenvolvimento humano e social no foco da imprensa brasileira. São Paulo: Cortez, 2003. p. 43-44.
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