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Sociedades tradicionais e ameaças ao meio ambiente
Com o declínio do mundo socialista, sobretudo após o fim da União Soviética, a maioria população
do planeta passou a organizar-se de acordo com a lógica do sistema capitalista. Mesmo as
chamadas sociedades tradicionais (de indígenas americanos, berberes e pigmeus africanos,
aborígenes australianos, entre outros), que até há algumas décadas viviam de maneira isolada, têm
sido influenciadas pelas tecnologias e pelos costumes da sociedade de consumo.
Ao longo de milhares de anos, esses povos adquiriram um vasto conhecimento sobre o
funcionamento da natureza, desenvolvendo hábitos culturais que visavam, de maneira geral, a um
relacionamento sustentável e harmônico com os recursos disponíveis no território que habitavam.
Suas atividades pouco agrediam o meio ambiente, garantindo a sobrevivência dos grupos e, ao
mesmo tempo, a diversidade e o equilíbrio ecológico regional.
No entanto, nas últimas décadas, com a introdução de formas de relação social capitalistas, a
cultura original dessas sociedades sofreu um rápido processo de transformação, com a destruição,
entre outros, de sua língua, sua religiosidade, suas técnicas de trabalho e da divisão social de suas
tarefas.
Tal processo coloca em risco a existência desses grupos e a preservação das reservas ambientais, já
que grande parte dessas sociedades vive em ecossistemas pouco transformados, geralmente
localizados no interior de grandes biomas, como as florestas tropicais, as savanas, as estepes
semiáridas e as áreas geladas do planeta. Atualmente, essas regiões passam pela interferência de
agentes econômicos como madeireiros, fazendeiros e empresas mineradoras, que exercem forte
pressão sobre os governos nacionais para a liberação da exploração comercial de parte das áreas
preservadas.
Culturas em foco
Línguas nativas e conservação
Calcula-se que existam no mundo cerca de 5 mil comunidades tradicionais vivendo de acordo com seus
costumes originais, em seus
habitat
parcialmente preservados. O uso da língua nativa se destaca como um
elemento de unificação e de identidade de cada grupo. É por meio dela que os indivíduos se expressam,
fortalecendo as relações sociais.
Atualmente, milhares de línguas e dialetos são falados em todo o mundo, grande parte deles por grupos
minoritários, compostos de sociedades tradicionais. Em razão das profundas alterações na cultura desses
grupos, calcula-se que menos da metade das línguas faladas hoje em dia permanecerá até o final deste
século. Correm o risco de desaparecer,
Randy Olson/National Geographic/Getty Images
Pescadores do povo El Molo, no Quênia, na porção leste do continente africano, limpam peixe às margens do Lago Turkana, em
2013. A língua falada por esse grupo está quase extinta.
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por exemplo, os idiomas
maku,
kuruaya
e
arikapu, falados por indígenas no Brasil; o
udihe, falado na Sibéria;
e o
eyak, falado por inuítes no Alasca. Observe o mapa abaixo.
Mapa: ©DAE/Allmaps
Fonte: UNESCO.
Atlas of the World’s Languages in Danger. Disponível em: . Acesso em: 31 mar. 2016.
Segundo especialistas, o desaparecimento das línguas nativas é um forte indício de mudança nos
valores sociais desses povos e, consequentemente, de transformação do tipo de relação que eles
estabelecem com o território que habitam, fato que pode agravar os problemas ambientais do
planeta nas próximas décadas. Leia o texto a seguir.
Biodiversidade e a pluralidade linguística
No arquipélago da Nova Guiné é onde se fala o maior número de línguas no mundo [observe novamente
o planisfério anterior]. Papua-Nova Guiné, país da Oceania e que faz parte do arquipélago, é uma
exceção entre aqueles com grande diversidade linguística, pois, segundo o Atlas da Unesco, somente 98
idiomas estariam ali ameaçados.
O linguista alemão Harald Haarmann vê aí uma relação entre a preservação da biodiversidade e a
pluralidade linguística. Ele explica que, com a devastação da natureza, segue-se a destruição dos povos
indígenas – e de sua língua.
Segundo Haarmann, no arquipélago de Nova Guiné existiriam mais de mil línguas e uma grande
variedade de espécies da fauna e da flora. A razão, segundo o cientista, estaria no fato de que a região
não é atraente para estrangeiros nem tem recursos naturais. Lá existiriam duas estações: no verão
chove e no inverno chove mais ainda, afirmou.
Em consequência, durante séculos, o arquipélago de Nova Guiné permaneceu isolado. O efeito foi a
preservação das espécies vegetais e animais, como também da cultura e das línguas dos pequenos
povos, disse Haarmann.
METADE DAS MAIS DE 6 MIL línguas do mundo está ameaçada, diz Unesco.
Deutsche Welle, 21 fev. 2009. Disponível em:
. Acesso em: 8 mar. 2016.
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