99
com a extensa bibliografia que, nas últimas décadas, tem sido dedicada
às pintoras europeias dos séculos XVI, XVII e XVIII. Talvez não seja por
acaso que uma das raras análises de género ensaiadas sobre Josefa de
Óbidos provenha de um não-português, Edward J. Sullivan, no catálogo
Crowning Glory. Images of the Virgin in the arts of Portugal, uma exposição
sobre arte portuguesa no Museu de Newark, uma das zonas de maior
emigração portuguesa nos Estados Unidos da América
134
. Mais recen-
temente, uma monografia sobre Josefa de Óbidos da autoria de uma his-
toriadora da arte portuguesa, Carla Alferes Pinto, também inclui uma
perspectiva de género
135
. Mas a maior parte das perguntas que têm sido
feitas ao percurso de vida de Josefa de Óbidos e, em geral, ao contexto
de produção da sua obra não usaram a sua identidade feminina como
uma das vertentes de análise, o que pode parecer algo contraditório
quando pensamos na relativa excepcionalidade de uma mulher artista
no Portugal de Seiscentos ou, em geral, na Europa deste período.
Consideramos que muitas das questões que têm sido colocadas
a outras mulheres artistas, noutros contextos cronológicos e geográ-
ficos, poderiam ser aplicadas ao caso de Josefa de Óbidos. Tal não
significa que faça sentido comparar a sua obra com a das artistas suas
contemporâneas, até porque, como afirma Vítor Serrão, uma artista
que passou grande parte da sua vida num convento em Coimbra e
na vila de Óbidos não pode ser explicada artisticamente através de
comparações internacionais, que correm o risco de cair numa arti-
ficialidade (o que não quer dizer que ela não tenha sido influencia-
da por imagens vindas do exterior, nomeadamente através da gra-
vura, como refere Serrão e como analisa Luís de Moura Sobral)
Compartilhe com seus amigos: