95 que, também no século XVIII, se dedicava à escultura de retratos em
cera
125 . Com raras excepções, a história da arte não se tem debruçado
sobre estes objectos, talvez porque as suas categorias tradicionais, pri-
vilegiando certos materiais e formas de representação, não considera-
ram a cera como um material artístico
126 .
Josefa de Óbidos: “a room of one’s own” Um Cesto de Frutas Tropicais 127 A Josefa d’Óbidos
Ah Josefa! Devias estar aqui comigo E ver este cesto de frutas tropicais Que tu não chegaste a conhecer Se estivesses aqui Sentavas-te a meu lado Tu pintavas Eu desenhava E depois ríamos as duas Alegres Como só as mulheres sabem estar Sem sombra de homem Que toldasse Este feliz momento
Ana Hatherly
Josefa de Óbidos é o mais paradigmático dos exemplos de mu-
lheres artistas na Península Ibérica do século XVII (1630-1684).
A classificação historiográfica portuguesa de Josefa de Óbidos como
pintora nacional, que privilegia o seu lado paterno e o lugar onde viveu
125. Aline Gallasch Hall, “Pintoras Portuguesas do século XVIII”, Luísa
Capucho Arruda e Aline Gallasch Hall, Mulheres do Século XVIII. Pintoras portuguesas (Lisboa: Ela por Ela, 2006), p. 49.
126. Ver o estudo pioneiro de Julius von Schlosser publicado originalmente
em 1911: Histoire du Portrait en Cire, posf. de Thomas Medicus, trad. do alemão de
Édouard Pommier (Paris: Macula, 1997).
127. Ana Hatherly, A Neo-Penélope (Lisboa: & etc, 2007), p. 10.