A A RTE S E M H I STÓ R I A
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“descobriu” o seu trabalho, numa viagem à Europa nos anos 1960, ve-
rificou como era difícil encontrar informações sobre Clara Peeters ou
sobre qualquer outra artista mulher. Como resultado desta constata-
ção, começaram a comprar apenas pintura realizada por mulheres, até
formarem uma colecção que veio dar origem ao primeiro museu do
mundo dedicado somente a obras de arte femininas
121
.
Arte e ciência
Um pouco por toda a Europa, as mulheres também começaram a estar
presentes no encontro entre a arte e a ciência. No desenho de história
natural, destacamos o trabalho de Maria Sibylla Merian (1647-1717)
que, sendo coleccionadora de espécimes de história natural, produziu
inúmeras “naturezas-mortas” científicas
122
. As expedições e investiga-
ções científicas que a levaram ao Suriname, colónia holandesa, foram
inseparáveis do seu trabalho de desenho de plantas e insectos, arte que
ensinou à sua única filha. Algum tempo depois, encontramos o exem-
plo de uma mulher a produzir uma outra forma de arte científica que,
fundindo a escultura com a medicina, criava modelos anatómicos em
cera
123
. Anna Morandi Manzolini (1714-1774), frequentemente in-
cluída na genealogia de mulheres artistas bolonhesas, casou com um
especialista em esculturas de cera para uso médico e logo se notabili-
zou nesta arte muito popular na Itália do século XVIII
124
.
As suas mãos hiper-realistas, a mostrar as diferenças musculares
entre uma mão em repouso e outra em tensão, conseguem revelar uma
teatralidade do gesto sem renegar a sua utilidade científica. A sua vasta
produção escultórica de fragmentos anatómicos, revelando o exterior
121.
Nancy G. Heller, ed.,
Women Artists. Works from the National Museum of
Women in the Arts
(Nova Iorque: Rizzoli, 2000), p. 14.
122.
Natalie
Zemon Davis, “Metamorphoses. Maria Sibylla Merian”,
Women
on the Margins: Three seventeenth century lives
(Cambridge, Mass.: Harvard
University Press, 1995), pp. 140-202.
123.
São inúmeras as colecções setecentistas italianas de ceras anatómicas,
constituídas para uso da medicina. Além da colecção universitária bolonhesa do
Palazzo Poggi onde se
encontra a obra de Manzolini, poderíamos referir o Museu
Florentino La Specola que, tendo nascido no contexto do ensino universitário da
anatomia no século XVIII, hoje continua ligado à universidade de Florença.
124.
Foi publicada recentemente uma biografia sobre ela: Rebecca
Messbarger,
The Lady Anatomist. The life and work of Anna Morandi Manzolini
(Chicago e Londres: The University of Chicago Press, 2010); Angela Ghirardi,
“Women artists of Bologna: the self-portrait and the
legend from Caterina Vigri
to Anna Morandi Manzolini (1413-1774)”,
Lavinia Fontana of Bologna, pp. 45-47.