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XVI
119
. Malvasia, seu amigo, protector e principal responsável pela
consagração daquela que ele denominou como “pintora heroína”, não
deixou, contudo, de sublinhar como a pintora, tendo nascido mulher,
nada tinha de afeminado
120
.
No Norte da Europa não se encontra a mesma relação entre
mulheres artistas e retrato, mas existe sim, sobretudo para o século
XVII, um grande número de mulheres dedicadas à pintura de na-
turezas-mortas. De formato reduzido, sem necessidade de um co-
nhecimento profundo do corpo humano e com a possibilidade de
ser realizado no interior do espaço doméstico, este tema adaptava-se
bem às condições de vida feminina, sem ameaçar as expectativas da
feminilidade. A natureza-morta era um género pictórico menos va-
lorizado pelas hierarquias artísticas, que privilegiavam a pintura de
história ou de grandes dimensões que exigisse um domínio do corpo
humano. É necessário ter em conta, no entanto, que a natureza-morta
não é um género feminino, como por vezes foi descrito posterior-
mente, e que foram muitos os homens que também se destacaram na
pintura de flores ou de comida.
Como já referimos, a ausência de uma tradição histórico-biográ-
fica equivalente à italiana faz com que se saiba menos sobre a vida e os
percursos das mulheres artistas no Norte da Europa. Alguns exemplos
para os séculos XVII e XVIII são Fede Galizia, Louise Moillon, Clara
Peeters, Maria van Oosterwyck, Rachel Ruysch, Maria Sibylla Merian,
Anne Vallayer-Coster, Catherine Duchemin, Geneviève e Madeleine
de Boulogne. Seria pertinente comparar as naturezas-mortas de Josefa
de Óbidos com a produção artística destas suas congéneres francesas
ou do Norte da Europa. Clara Peeters (1594-d. 1657), por exemplo,
notabilizou-se pela sua pintura de flores intercaladas com objectos de
gabinetes de curiosidades, tão ao gosto coleccionista da época. Peeters
é também a responsável indirecta pela colecção que se veio a trans-
formar no National Museum of Women in the Arts, em Washington.
Quando o casal de coleccionadores Wilhelmina e Wallace Holladay
119.
Algumas foram apenas gravuristas, outras, como Sirani, fizeram da
gravura uma das suas expressões artísticas, ao lado do desenho, do óleo e da
água-forte. Ver o curioso catálogo de mulheres gravuristas na colecção do Museu
de Bassano, em Itália: Donne Artiste nelle Collezioni del Museo di Bassano (Bassano:
Museo Civico di Bassano del Grappa, 1986), Catálogo de Exposição organizado
pelo “Comitato 8 Marzo”.
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