A A RTE S E M H I STÓ R I A
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estudo do corpo humano era mais premente. Foi o que aconteceu com
a pintura histórica e religiosa de grandes dimensões que, não por acaso,
era a mais valorizada.
Assim, as limitações no acesso a múltiplos espaços – a
ateliers onde
se estudava o nu masculino, a viagens culturais ou à pintura de frescos
nas capelas de igrejas – corresponderam a uma maior concentração fe-
minina em géneros como o retrato, a pintura religiosa de pequeno for-
mato ou, já no século XVII, a natureza-morta. No seu livro de biografias
de artistas publicado em meados do século XVII, Giovanni Baglione
expôs indirectamente esta dicotomia de “géneros” – apresentou Lavi-
nia Fontana (a única mulher que refere na sua obra) como uma exímia
retratista, mas realçou que uma coisa era pintar um retrato, e uma outra,
bem mais exigente, era representar a figura humana em grande escala,
como exigia a pintura de altares, por exemplo
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. A propósito do altar
que lhe fora encomendado para a igreja romana de
San Paolo fuori le
mura, Bagnoli denunciou a incapacidade de Lavinia em dominar este
género de pintura: “É verdade que, pelo facto de as figuras serem maio-
res do que o natural, ela confundiu-se e não conseguiu realizá-lo tão
felizmente como pensava; porque existe uma grande diferença entre
realizar um quadro comum e utilizar um cavalete daquela grandeza, ca-
paz de assustar qualquer talento.” Apesar destas críticas, por ter traba-
lhado em frescos de grande escala, no espaço público de igrejas, e por
ter representado, ocasionalmente, a figura nua, Fontana distinguiu-se
de outras mulheres pintoras, que tiveram que conter a sua prática artís-
tica ao espaço privado e às dimensões que lhe eram próprias e que não
tinham mecenas na Igreja ou entre as famílias dominantes
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