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Sofonisba Anguissola,
Auto-retrato a pintar a Virgem,
1556,
óleo sobre tela, Muzeum Zamek w Łańcucie, Lancut, Polónia.
Estes exemplos específicos de pintoras remetem-nos para duas
das abordagens possíveis à prática artística de mulheres até ao século
XX: a dos espaços de aprendizagem, ou de trabalho, e a dos motivos es-
colhidos. Como afirmou Virginia Woolf no seu
A Room of One’s Own, o
talento e a criatividade não eram suficientes. Era necessário que estives-
se reunida uma série de condições, as mais das vezes bastante prosai-
cas, para que as “irmãs de Shakespeare” pudessem florescer – formação,
tempo, dinheiro e espaço –, conjunto de condições que dificilmente
faziam parte da vida de uma mulher ocidental até ao século XX e que,
mesmo depois, continuaram a limitar-lhe a criatividade. Já referimos
89.
Baldinucci refere esta ausência de descrição da sua obra e procura
colmatá-la, descrevendo uma das suas mais conhecidas obras, Lucia, Minerva e
Europa Anguissola a jogar xadrez
(1555), hoje no Museu Nacional de Poznan, na
Polónia, e citando uma carta de Annibale Caro, escrita pouco depois de a ter
visitado em Cremona: “Escrevo aqui para compensar as falhas, como já referi, dos
escritores daqueles séculos, que poucas ou nenhumas notícias nos deixaram de
quantas e quais fossem as obras que, por estes tempos, andava a fazer esta nobre
moça, e como é que a sua fama aumentava de dia para dia, quer em toda a Itália
quer mesmo fora, (…)”, Notizie dei Professori del Disegno…, p. 624.
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