A A RTE S E M H I STÓ R I A
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poetas, da Antiguidade ao presente: “É extraordinário que, em todos
os domínios do talento e das actividades em que as mulheres tenham
estado envolvidas, e isto seja em que período for, elas foram sempre
bem-sucedidas de forma admirável, tendo-se tornado cada vez mais
conhecidas, o que pode ser comprovado com inúmeros exemplos.”
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A propósito da freira Plautilla Nelli (1523-1587/88), que vivia no
convento da Piazza San Marco, em Florença, Vasari considerou que
o seu melhor trabalho era o copiado de outros, “o que demonstra que
ela teria feito coisas maravilhosas se, tal como os homens, tivesse tido
possibilidade de estudar e praticar, devotando-se ao desenho e a re-
tratar coisas vivas e naturais”
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. Como prova desta constatação, Vasari
escreveu que “os rostos e as feições das mulheres” pintadas por Nelli,
“por ter podido observá-los à vontade”, eram “muito melhores e mais
próximos da verdade do que as cabeças dos homens”. Mas, se é certo
que, nestas constatações, Vasari valoriza o contexto de formação de
um artista, a sua obra também acabou por contribuir em muito para a
ideia do artista que nasce artista e do talento genial que se revela, in-
dependentemente das oportunidades de formação artística, uma ideia
que a história da arte feminista também criticou.
Na formação de uma genealogia artística feminina, destaca-se
uma série de nomes, entre os quais o de Artemisia Gentileschi (1593-
-1654?). Talvez ela seja a artista sobre a qual mais se tem escrito e
mais exposições individuais se têm realizado, embora continue a não
fazer parte dos cânones ensinados na maioria das universidades. Isto
poderá dever-se a três razões principais: em primeiro lugar, o facto
de existir uma quantidade substancial de obra e texto, nomeadamen-
te em grandes colecções italianas, apesar de alguns dos quadros não
estarem assinados e a autoria da sua obra continuar em revisão; em
segundo lugar, a sua história de vida, marcada por uma violação e o
subsequente conflito em tribunal, atraiu sobre ela uma curiosidade
69.
Giorgio Vasari, The Lives of the Artists, traduzido, com uma introdução e
notas de Julia Conaway Bondanella e Peter Bondanella (Oxford e Nova Iorque:
Oxford University Press, 1991), p. 339.
70.
“Madonna Properzia de’ Rossi. Scultrice Bolognese”, Giorgio Vasari, Le
Vite de’ più Eccelenti Pittori, Scultori e Architettori Scritte da Giorgio Vasari Pittore e
Architetto Aretino con Nuove Annotazioni e Commenti di Gaetano Milanesi
, vol. V
(Florença: G.C. Sansoni, 1880), p. 80; ou Giorgio Vasari, The Lives of the Artists,
traduzido, com uma introdução e notas de Julia Conaway Bondanella e Peter
Bondanella (Oxford e Nova Iorque: Oxford University Press, 1991), p. 343.
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