A A RTE S E M H I STÓ R I A
62
autónomo e sexual, quer na figura do Capuchinho, quer na da avó, con-
trasta com o falhanço do homem/lobo em seduzir o Capuchinho, e no
seu triste final, deitado em toda a sua fragilidade e com a forquilha da
mãe do Capuchinho Vermelho prestes a espetar-lhe a barriga
55
. Todas
as personagens-mulheres – as habituais (o Capuchinho Vermelho, a
avó) ou as novas (a mãe) – são reinventadas por Paula Rego numa “nar-
rativa sobre o
empowerment através da iniciativa (
agency) feminina”.
Em 1973, foi a primeira vez que o congresso da Associação Nor-
te-Americana de Historiadores da Arte (College Art Association), o
mais importante evento anual da história da arte dos Estados Unidos
da América, apresentou um painel sobre “mulheres artistas”, que veio
dar origem a um livro
56
. Em Fevereiro de 2007, mais de três décadas
depois, Linda Nochlin foi a principal homenageada do congresso anu-
al, num ano em que a arte e o feminismo foi um tema de destaque.
Centenas de pessoas reuniram-se para assistir ao painel composto
por várias oradoras que, de alguma forma, tinham sido influenciadas
pelo trabalho de Nochlin
57
. No final, foi a vez de a protagonista, na
altura com 75 anos, tomar a palavra. Num breve testemunho, sem in-
tenções de enunciar a última palavra académica, preferiu centrar-se
numa ideia, simples até, mas que voltara a fazer sentido no interior
de uma academia americana, traumatizada então por tantos anos de
George W. Bush na presidência do país. Ao afirmar a inseparabilidade
da historiadora em relação à pessoa histórica, da pessoa que constrói
a história e da pessoa que a vive, Nochlin aproveitou para fazer uma
crítica aberta à guerra empreendida pelo Governo de Bush. Perten-
cente à geração que iniciou a sua vida académica e a sua escrita com
a Guerra do Vietname, recordou também o momento em que tomou
consciência de que a história não era apenas aquilo que se passava al-
gures num outro lugar e num outro tempo, mas também aquilo que ela
vivia todos os dias. Ela própria, tal como nós, fazemos parte da história
55.
Linda Nochlin, “Black, White, and Uncanny: Miwa Yanagi’s
Fairy Tale”,
Christopher Phillips e Noriko Fuku, eds.,
Heavy Light. Recent photography and video
from Japan
(Nova Iorque: International
Center for Photography; Steidl, 2008), pp.
232-241, pp. 237-239.
Compartilhe com seus amigos: