A A RTE S E M H I STÓ R I A
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Capa
do livro de Whitney Chadwick,
Women, Art, and Society,
com quadro de Paula Rego, 1994.
Para além das histórias da arte gerais no feminino publica-
das ainda nos anos 70, que referimos anteriormente, talvez o livro
mais exemplificativo desta abordagem seja
Women, Art and Socie-
ty, de Whitney Chadwick, com um quadro de Paula Rego na capa
de uma das suas edições
50
. Integrado numa colecção de livros de
arte de divulgação da editora Thames and Hudson, uma das mais
traduzidas e vendidas em todo o mundo, este livro teve a gran-
de vantagem de chegar a um público muito mais alargado do que
outros estudos que se têm publicado sobre mulheres e arte. Ape-
sar de ter sido alvo de algumas críticas precisamente por apresen-
tar um cânone artístico feminino, sem questionar suficientemen-
te o uso de um modelo que fez da exclusão feminina um dos seus
princípios, o livro de Chadwick tem o mérito de colocar a questão
como um dos “temas” da história da arte propostos pela colecção
(mesmo que esta categoria de leitura, ao lado do “pós-impressio-
nismo” ou da “arte abstracta” que também fazem parte da mesma
colecção, esteja longe de os equivaler nos cursos universitários ou
50.
Whitney Chadwick,
Women, Art and Society (Londres: Thames and
Hudson, 1994).
59
na escolha temática de exposições temporárias). Cada vez mais,
assistimos hoje a uma multiplicação de pontos de vista que dificil-
mente se encaixam nas três vertentes referidas e que reflectem uma
tendência geral da história da arte, também visível noutras áreas
51
.
Estas abordagens vieram revelar uma surpreendente quantida-
de de artistas, de uma também surpreendente qualidade. Porquê,
então, a ausência tão flagrante de mulheres nas narrativas escritas,
assim como exibidas em museus e exposições? Se a
qualidade fosse
realmente o critério determinante das construções historiográficas e
expositivas da arte, como continua a ser tantas vezes invocado, então
deparar-nos-íamos com uma
quantidade de mulheres artistas muito
superior àquela que nos é dada a conhecer. Griselda Pollock, a his-
toriadora da arte britânica, foi mais longe, desafiando a história da
arte a identificar aquilo que é específico das mulheres artistas (não
no sentido de uma forma específica de fazer arte, mas no sentido
das
condições em que se dá a prática artística), e que não é detec-
tável através dos instrumentos de classificação aos quais a discipli-
na recorre, como as escolas, os estilos ou os movimentos. Mas, ao
51.
Esta é uma abordagem que se distancia da análise de uma só artista ou
artistas, para se centrar em temas e problemas. Por exemplo, na forma como
as mulheres são representadas na arte; na forma como são observadoras e
leitoras
de imagens; no modo como as mulheres artistas se relacionam com as
instituições, de museus a escolas de arte. Alguns exemplos: Amelia Jones, ed.,
The
Feminism and Visual Culture Reader
(Londres e Nova Iorque: Routledge, 2003);
Marsha Meskimmon,
Women Making Art: History, subjectivity, aesthetics (Londres
e Nova Iorque: Routledge, 2003); Linda Nochlin,
Representing Women (Londres:
Thames
and Hudson, 1999); Gill Perry, ed.,
Gender and Art (Londres; New Haven:
Yale University Press; The Open University, 1999); Gen Doy,
Women & Visual
Culture in 19th Century 1800-1852
(Londres e Nova Iorque: Leicester University
Press, 1998); Mira Shor,
Wet. On Painting, Feminism, and Art Culture (Durham e
Londres: Duke
University Press, 1997); Rosemary Betterton,
An Intimate Distance.
Women, artists and the body
(Londres e Nova Iorque: Routledge, 1996); Katy
Deepwell, ed.,
New Feminist Art Criticism. Critical strategies (Manchester
e Nova
Iorque: Manchester University Press, 1995); Germaine Greer, “À tout prix
devenir quelqu’un: the women of the Académie Julian”, Peter Collier e Robert
Lethbridge, eds.,
Artistic Relations, Literature and the Visual Arts in Nineteenth Century
France
(New Haven e Londres: Yale University Press, 1994); Lynda Nead,
The
Female Nude. Art, obscenity and sexuality
(Londres e Nova Iorque: Routledge,
1992); Rozsika
Parker e Griselda Pollock,
Old Mistresses: Women, art, and ideology
(Londres: Routledge, 1981);
Overcoming All Obstacles. The women of the Académie
Julian
(Nova Iorque: Dahesh Museum, 2000), Catálogo de Exposição; Norma
Broude e Mary D. Garrard,
Feminism and Art History: Questioning the litany (Nova
Iorque: Harper & Row, 1982); Norma Broude e Mary D. Garrard,
The Expanding
Discourse
(Nova Iorque: IconEditions, 1992); Norma Broude e Mary D. Garrard,
Reclaiming Female Agency. Feminist art. History after modernism
(Berkeley: University
of
California Press, 2005).
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