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em que é levada a cabo. Assim, as discriminações em relação à cria-
tividade das mulheres têm lugar no passado, mas também no pre-
sente que constrói esse passado. Cabe, também, a uma abordagem
feminista questionar a continuidade estática da história da arte, de
movimento em movimento, de escola em escola, de estilo em estilo,
para detectar roturas e descontinuidades feitas de nomes e obras
eliminados por narrativas historicamente enraizadas. A obra de Mi-
chel Foucault e de outros teóricos foi determinante na criação de
uma tal postura crítica, pois permitiu olhar para a história da arte
como uma prática discursiva associada a espaços específicos, de
museus a departamentos universitários
47
.
Para lá do artigo precursor de Nochlin, que enunciou muitas
das questões que seriam debatidas nas décadas seguintes, uma das
formas assumidas pela abordagem feminista da história da arte,
desde os anos 1970, foi precisamente a de analisar casos específicos
de mulheres artistas, quase sempre desconhecidas. Esta abordagem
tende a seguir três dos modelos mais comuns de análise: os textos
monográficos, onde se aprofunda o caso de uma única artista
48
; os
livros ou capítulos de livros sobre a presença das mulheres num
movimento artístico ou num período e espaço geográfico especí-
ficos
49
; e as histórias da arte gerais, talvez as mais comuns na dé-
cada de 70, em que as mulheres artistas ocidentais são recolocadas
no texto-matriz já existente, com a sua perspectiva cronológica
de estilos.
47.
Michel Foucault,
L’Archéologie du Savoir (Paris: Éditions Gallimard, 1969);
Tony Bennett,
The Birth of the Museum. History, theory, politics (Londres: Routledge,
1995).
48.
Exemplos de uma abordagem monográfica poderiam ser: Sarah Bradford,
Lavinia Fontana: A painter and her patrons in sixteenth-century Bologna
(New Haven:
Yale University Press, 2003); R. Ward Bissel,
Artemisia Gentileschi and the Authority
of Art: Critical reading and catalogue raisonné
(Pensilvânia: Pennsylvania
State
University Press, 1999); M.D. Sherif,
The Exceptional Woman: Elizabeth Vigée-Lebrun
and the cultural politics of art
(Chicago: University of Chicago Press, 1996); Gilian
Perry,
Paula Modersohn-Becker (Londres: The Women’s Press, 1979).
49.
Exemplos de estudos onde se analisam
as mulheres artistas de
determinado grupo, movimento artístico ou período: Fredrika H. Jacobs,
Defining
the Renaissance Virtuosa. Women artists and the language of art history and criticism
(Cambridge: Cambridge University Press, 1997); Deborah Cherry,
Painting
Women. Victorian women artists
(Londres e Nova Iorque: Routledge, 1993); Tamar
Garb,
Sisters of the Brush. Women’s artistic culture in late nineteenth century Paris
(New Haven e Londres: Yale University Press, 1994); Shulamith Behr,
Women
Expressionists
(Oxford: Phaidon, 1988); Whitney Chadwick,
Women Artists and the
Surrealist Movement
(Londres: Thames and Hudson, 1985).
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